Se a cantora Adriana Calcanhoto pode ser categórica em seus versos ao dizer que “cariocas não gostam de sinais fechados”, também posso ousar e afirmar: “cidadão de nenhum recôncavo deste planeta – e quiçá de outros – gosta de engarrafamentos”. É uma coisa tão certa que deveria ser considerada uma espécie de “Lei Geral do Universo”.
No auge da pandemia da COVID-19, li um “meme” que me fez refletir um tanto: “Em 2020, achei que já estaríamos com carros voadores, mas estamos simplesmente ensinando as pessoas a lavar as mãos”. Além da reflexão necessária e urgente quanto à doença e às questões sanitárias, flagrei-me reclamando: “onde estão os carros que Os Jetsons me prometeram durante toda a infância?”
Já passamos por duas décadas deste século e até agora a promessa desses prodígios da ciência parece não passar disso mesmo: promessa. Mas, segundo a gigante dos transportes Uber, até 2025 estaremos voando sim em veículos elétricos semelhantes a helicópteros, com piloto e espaço para mais quatro passageiros.
A companhia vem trabalhando na captação de parceiros para o desenvolvimento de eVTOLs (Electric Vertical Take-off and Landing, em bom português: veículo elétrico com decolagem e pouso vertical), como chamam esses “carros voadores” e também para a construção de hangares suspensos (skyports), que funcionariam como terminais de passageiros e de abastecimento rápido. A ideia da Uber é que um terminal possa receber até 4 mil passageiros por hora e abasteça um veículo em até 15 minutos. A rapidez e quantidade de passageiros são imprescindíveis na equação que viabiliza o preço acessível aos usuários.
Esses veículos voadores, paramentados com motores elétricos, prometem uma eficiência energética muito superior se comparados aos equipados com motores a gasolina. Além disso, diferentemente de um helicóptero, que possui o seu rotor e hélice na parte superior da cabine, os eVTOLs seriam munidos de fileiras de pequenos ventiladores, trabalhando conjuntamente para gerar sustentação suficiente para o voo e produzindo muito menos ruído. E um detalhe importantíssimo: se um (ou alguns) dos pequenos ventiladores de propulsão falharem, há outros que permitem uma aterrissagem segura, o que não ocorre com o helicóptero, que não pode desafiar a gravidade em caso de pane.
Se ainda assim está difícil de imaginar como é essa geringonça futurística que vai levar você para tudo que é lado num futuro bem próximo, basta tentar imaginar um drone super nutrido!
Além dos carros voadores, já há algum tempo, fomos surpreendidos com a chegada dos veículos autônomos. Carros conduzidos por inteligências robóticas ajudariam a eliminar a necessidade de vermos os veículos como bens e passaríamos a enxergá-los apenas como serviços. A ideia de não precisar mais se preocupar em onde vai deixar o carro já existe (se chama transporte público), mas o conceito futurista de “controlar” um Batmóvel tem o seu charme inegável. Ele não voa, é verdade, mas ainda assim é um barato! Um feito como esse, de um veículo dirigindo sozinho, só poderia ser superado pelo carro que vira maleta, mas confesso que estou meio desapontado com Os Jetsons no momento para acreditar nisso.
Você pode achar até que estou com a cabeça nas nuvens, mas, talvez, daqui a uns anos os engarrafamentos só mudem de lugar. Poderemos ter estradas de asfalto livres e espaços aéreos lotados. Será curioso saber como os vendedores ambulantes de balas, água e biscoitos se aventurarão nos congestionamentos dessa corrida espacial.