Se você ainda tem dúvidas que ficam martelando a sua cabeça sobre a veracidade das mudanças climáticas causadas pelo homem, embarque para algumas partes da Índia ou do Paquistão e passe alguns dias naquela região. E, enquanto estiver por lá, seja um bom cidadão e recolha algumas das aves desidratadas que caem do céu. Em seguida, use a seringa que você deve ter levado para alimentar as aves e dê um pouco de água para elas, antes que morram em suas mãos.
Quem sabe você faça o mesmo em relação às pessoas espalhadas à beira da estrada, antes que elas morram diante dos seus olhos. Afinal de contas, as pessoas já estão morrendo por conta do calor úmido. Talvez você consiga ajudar para que essas pessoas sobrevivam, mas, enquanto isso, por que não levar com você aquele amigo que é um negador do clima para ajudar a salvar algumas vidas. Faz bem para a alma desses negacionistas abrir os olhos para a realidade.
De acordo com um artigo recente da revista Business Insider: Aves estão caindo do céu na Índia à medida que uma onda de calor recorde seca as fontes de água, publicada em 14 de maio de 2022. E olha que não estamos falando de exemplos aleatórios: “Os veterinários em um hospital de animais em Ahmedabad disseram que haviam tratado milhares de aves nas últimas semanas”, cita a mesma reportagem.
De acordo com Climate Connections, da Universidade de Yale, “O calor quase ‘insuportável’ está aumentando como resultado das mudanças climáticas provocadas pelo homem”.
Aqui trazemos um trecho do artigo da Climate Connections intitulado Onda de Calor Brutal na Índia e no Paquistão Pronta para Ressurgir: “Temperaturas infernais de até 50 graus Celsius (122°F)”. O calor, quando combinado com altos níveis de umidade, especialmente próximo à costa e ao longo do Vale do Rio Indo, produzirá níveis perigosamente altos de estresse térmico que se aproximarão ou excederão o limite de sobrevivência das pessoas ao ar livre por um período prolongado”.
Segundo o prestigioso departamento de meteorologia do Reino Unido (UK Met Office): “A onda de calor intenso no noroeste da Índia e do Paquistão se tornou mais de 100 vezes mais provável por causa das mudanças climáticas provocadas pelo homem”. (Fonte: Climate Change Has Made India’s Heat Wave 100 Times More Likely, UK Weather Service Says, CNBC, 18 de maio de 2022.)
O extraordinário calor sufocante levou Umair Haque, economista britânico (ex-blogueiro da Harvard Business Review e que frequentou a Universidade de Oxford, a London Business School e a Universidade McGill), a redigir um artigo especial sobre o cenário intitulado: A Era da Extinção Chegou – Alguns de nós simplesmente não sabem ainda, publicado pela Eudaimonia and Co, em maio deste ano, no qual ele descreve um mundo que “já ultrapassou o limiar da capacidade de sobrevivência”.
Umair tem amigos no subcontinente indiano. Então, ele ouve em primeira mão o que está acontecendo, sem o filtro de uma organização jornalística. Eis aqui uma das citações: “A onda de calor na região está forçando os limites da capacidade de sobrevivência. Minha outra irmã diz que, na velha e bela cidade dos artistas e poetas, as águias estão despencando mortas do céu. Elas simplesmente caem mortas sobre casas, monumentos e lojas. Elas voam mais”.
Aqui vão mais alguns relatos obtidos diretamente das ruas, como nos conta Umair: “As ruas, diz ela, estão repletas de animais mortos. Cães. Gatos. Vacas. Animais de todas as espécies estão lá, mortos. Morreram por conta desse calor assassino. Os animais não conseguem sobreviver“.
As pessoas passam o dia inteiro em canais, rios e lagos. Algumas pessoas nas ruas estão desmaiadas e à beira de um cenário de vida ou de morte. Umair sugere que a contagem de mortos não seja conhecida por algum tempo e muitos provavelmente sequer farão parte das estatísticas.
Vejam que interessante essa perspectiva que nos traz Umair: “Sabe, meus amigos ocidentais leem histórias como esta, e depois voltam a ficar obcecados com os Kardashians, pela Mulher Maravilha, pelo Johnny Depp ou pelo Batman. Eles ainda não entenderam o que está acontecendo. Porque isso ultrapassa os limites do que o Homo sapiens pode realmente compreender, o Evento. Esse mundo está chegando para eles, também”.
Umair afirma: “Estamos no limiar do Cataclismo. Alguns de nós estamos, neste exato instante, atravessando para o outro lado, o de um planeta diferente, um planeta que vai se tornar inacessível. Não é uma questão de ‘vai acontecer’ ou ‘pode ser que aconteça’; na verdade, já está acontecendo”.
Vejam mais esta afirmativa: “A 50 graus, que é a temperatura que temos agora no subcontinente, a vida vira pó. As aves despencam do céu. As ruas se transformam em valas comuns. As pessoas fogem e simplesmente tentam sobreviver. As redes de energia começam a quebrar. A economia emperra até parar”.
Umair afirma que a civilização entra em colapso em algum ponto entre 50 e 60 graus Celsius. “Nada funciona depois desse ponto”. Os animais morrem e os sistemas quebram, a economia se arruína, a inflação dispara, as pessoas empobrecem, o fascismo, como consequência, irrompe. As pessoas se assustam e se voltam para a religião fundamentalista ou o governo autoritário para que “lhes dê respostas”. A economia tradicional e a velha política não funcionam mais. Te soa familiar?
A morte decorrente do calor úmido na Índia equivale ao badalar dos sinos, lentamente, repetidamente, à medida que os galhardetes negros tremulam ao longo do horizonte distante. Alguém morreu e outro, e mais outro, e outro e outro, pois a monotonia do pedágio se torna uma irritação atroz.
Posfácio: Está em cada ave que despenca do céu, em cada animal que cai morto pelo calor, em cada democracia que é triturada por lunáticos, em todas as mortes que nunca contaremos. Nossos sistemas – todos eles – econômico, social, político – estão começando a falhar. (Umair Haque)
Traduzido do inglês por José Luiz Corrêa / Revisado por André Zambolli