Não é segredo que todo meio de comunicação tem uma linha editorial, ou seja, uma maneira de ver e mostrar as coisas. Visão a partir da qual cada meio de comunicação (ou grupo de meios) dá visibilidade ao que se adequa a seu viés e interesse particular. A ideia de neutralidade jornalística, a suposta “objetividade”, é desmentida com uma verificação básica: em qualquer mídia há uma escolha sobre o que publicar, que destaque dar a cada notícia, que aspectos evidenciar e como narrar as informações.

No caso das empresas privadas, esta abordagem editorial se reduz àquilo que fortalece seu modelo comercial e, por extensão, aos conteúdos que defendem um modelo que favoreça os interesses do capital.

Esta observação — que é uma premissa central para evitar a ingenuidade na manipulação da informação e para que qualquer pessoa coloque o que vê, lê ou ouve dentro no marco da intencionalidade impressa a toda produção — torna-se ainda mais importante em tempos de definição política, como os que a Colômbia está experimentando neste segundo turno para eleger seu candidato presidencial.

A imprensa na Colômbia

Devido à forte concentração na propriedade de meios de comunicação e à diversificação dos canais de mídia, o poder de algumas empresas de influenciar a opinião pública na Colômbia é praticamente coercitivo.

De acordo com informações coletadas pela Media Ownership Monitor Colombia (MOM), pesquisa realizada pelo Repórteres sem Fronteiras em conjunto com a Federação Colombiana de Jornalistas (FECOLPER), “os oito maiores grupos de mídia concentram 78% da audiência transversal, o que significa que quase quatro em cada cinco colombianos recebem suas informações por meio desses grupos”. Os três grupos de mídia com maior concentração de audiência são a organização Ardila Lülle, com 28,7%, o Grupo Santo Domingo, com 19,5% e a organização Luis Carlos Sarmiento Ângulo, com 7,3%”.

Longe de estarem apenas ativos na comercialização de informações e entretenimento, todos esses empreendimentos estenderam tentáculos em campos muito diversos, o que explica sua íntima conexão com o atual modelo socioeconômico pró-negócio na Colômbia.

Carlos Ardila Lülle, que tem quase 60% da mídia, “possui mais de 50 empresas nos setores agroindustrial, industrial, comunicações e entretenimento, financeiro e de seguros, imobiliário e automotivo”. Suas empresas incluem a maior refinaria de açúcar do país (Incauca SA) e uma das mais importantes produtoras de refrigerantes da Colômbia (Postobon S.A.)”.

Enquanto isso, o homem mais rico do país segundo a Forbes, Carlos Sarmiento Angulo, controla 33% do mercado financeiro da Colômbia através do Grupo Aval Acciones y Valores S.A. e é proprietário da BAC Credomatic, o maior grupo financeiro da América Central, além de ser o principal beneficiário das concessões rodoviárias da Colômbia.

Seu grupo controla 28 veículos de mídia, incluindo El Tiempo, jornal de circulação nacional, um diário econômico, dois jornais regionais, sete revistas, dez meios digitais e dois canais de televisão, de acordo com a reportagem do MOM.

Por último, o Grupo Santo Domingo, através de sua holding Valorem, tem empresas envolvidas nas áreas imobiliária, de turismo, transporte, mídia e entretenimento, indústria e varejo. No setor das comunicações, é proprietário da Caracol Televisión S.A. (empresa dona do Canal Caracol e da BluRadio), do jornal El Espectador e das revistas Shock e Cromos.

A investigação feita pela RSF também demonstra a conexão íntima entre estes meios de comunicação privados e a esfera política. Muitos indivíduos que ocuparam cargos públicos são membros do conselho ou acionistas dessas empresas.

Além disso, seus proprietários frequentemente contribuem para campanhas políticas, como Sarmiento Angulo, que contribuiu para a campanha do ex-presidente Álvaro Uribe.

Neste contexto, é de se admirar que todos estes meios de comunicação exponham de forma proeminente a tentativa de manchar a credibilidade de Gustavo Petro, um candidato que fez da justiça social seu principal paradigma?

Embora ofuscando o amplo apoio popular de que desfruta, as propostas que apresenta e a esperança que representa para um povo sufocado pela violência física e econômica, este sistema compacto de propaganda, dado o fracasso de seu candidato natural “Fico” Gutiérrez, promoveu (e continua a promover) a figura excêntrica e retardatária de Rodolfo Hernández, rico ex-prefeito de Bucaramanga, capital do estado de Santander, e atualmente processado por um caso de corrupção por intervir a favor de seu filho com contratos milionários.

Nos últimos dias, a agenda da mídia hegemônica tem se concentrado em colocar na primeira página supostos escândalos do entorno de Petro — vídeos de seu círculo político próximo nos quais possíveis estratégias eleitorais são explicitamente analisadas — e não se pode descartar que uma manobra semelhante seja tentada no último minuto para desacreditá-lo, tendo em vista a proximidade das eleições.

A disputa na esfera digital

Como acontece em todo o mundo, a população colombiana não só vê televisão, ouve rádio ou lê jornais, mas cada vez mais usa plataformas digitais para interagir e também para tentar se informar.

O YouTube, da Google, é a plataforma mais utilizada na Colômbia pela população de 16 a 64 anos, seguido pelo Facebook (32 milhões de contas ativas), TikTok com 13, Instagram com 12 e Twitter com 3,2 milhões de usuários.

De acordo com dados coletados no relatório, “Existe concentração da internet na América Latina? El caso Colombia”, dos 61% do universo que usa plataformas digitais, 78% usam mecanismos de busca para encontrar informações específicas de notícias, que na Colômbia, como em outros lugares, é monopolizada pela Google (97,2% dos casos).

Talvez seja por isso que, devido ao viés preferencial do algoritmo de busca, ao analisar quais páginas recebem mais tráfego dos usuários da internet em busca de informações, encontramos uma falta semelhante de pluralidade, com poucas exceções.

O ranking da reportagem acima mencionada coloca o jornal El Tiempo (Grupo Sarmiento Angulo) em primeiro lugar, com um alcance de 43,6% entre o público analisado. Pulzo.com, El Espectador e Bluradio, todos pertencentes ao grupo de Santo Domingo, aparecem em segundo, quinto e sétimo lugares. Em terceiro lugar está a Publimetro (grupo sueco Metro International) e em quarto lugar está a revista Semana, do Grupo Gilinski. Em sexto lugar está Las2orillas.com, um site de notícias independente.

Além disso, diferentes estrategistas de comunicação política apontaram que a campanha digital que permitiu a Hernández se colocar no segundo turno foi baseada sobretudo em grupos de mensagens de Whatsapp e mensagens curtas, com um forte impacto emocional, numa tentativa de se diferenciar, afastando-se da verborragia das tribunas, mas também, como de costume, demonizando seu adversário sem debater propostas substantivas.

Por outro lado, as redes digitais oferecem impunidade, sem a necessidade de se encarregar de planos governamentais complexos, de debater ideias ou de ser confrontadas publicamente. Ao mesmo tempo, a contratação de influenciadores e publicitários experientes nestas plataformas segmentadas permite que a forma seja a substância e as verdadeiras intenções políticas sejam embaçadas pela tela de sua banalização.

O que os candidatos propõem para democratizar a comunicação?

Os programas das duas fórmulas diferem em seu conteúdo geral de forma determinante. O programa do Pacto Histórico promove um novo contrato de sensibilidade social e humana, proteção ambiental, um forte impulso aos direitos das mulheres, trabalhadores, jovens, idosos, reparações por injustiças contra as populações afro-colombianas e indígenas, e um compromisso inabalável com o cumprimento dos Acordos de Paz, entre outras questões.

Em contraste, a proposta da Liga Anti-Corrupção de Hernández representa mais um catálogo de medidas pragmáticas de natureza tipicamente antiburocrática, com uma inclinação modernizadora, o que de forma alguma modifica o esquema neoliberal no qual o país está imerso.

No entanto, apesar das diferenças e embora de maneiras diferentes, ambos os programas enfatizam a necessidade de inovação digital, a extensão da conectividade universal da internet e a produção baseada em novas tecnologias, sem nenhuma intenção clara de regular as ações dos monopólios digitais.

Sobre a questão dos meios de comunicação, a plataforma governamental de Gustavo Petro identifica como elementos-chave o fortalecimento da rede pública de canais e mídias regionais para a produção e a disseminação de conteúdo cultural de alta qualidade, com ênfase nas rádios públicas e comunitárias.

Da mesma forma, inclui expressamente no texto do programa a participação democrática nos meios de comunicação estatais e a reforma do RTVC, o sistema de mídia pública da Colômbia, para assegurar seu caráter institucional, popular e independente, para que possa ser “a voz das multidões, a expressão da democracia multicolorida”.

Também se compromete a “promover uma lei de rádio pública, cultural e institucional que seja articulada e contenha parâmetros similares à lei de TV e a fortalecer o conteúdo cultural e educacional, assim como sua infraestrutura (física e de equipamentos), presença territorial (descentralização) e suas alianças com orquestras sinfônicas e filarmônicas”.

As garantias manifestadas em sua proposta para o exercício dos direitos de liberdade de expressão e liberdade de imprensa, no contexto da preservação dos direitos humanos individuais e coletivos, não parecem questionar ou afetar a acumulação e concentração da propriedade presente no campo da radiodifusão.

No caso do “engenheiro” Hernández, não há menção em seu programa de nenhum aspecto relacionado à comunicação, além da ênfase no digital.

Mais uma vez, esta eleição na Colômbia mostra que, na ausência de um grande esforço social para democratizar e descentralizar o exercício da comunicação, a democracia continua sendo uma prisioneira do poder econômico, mantendo muito de seu caráter plutocrático.

A democratização deve agora incluir, com urgência, o exame social das plataformas digitais sob a forma de regulamentação e políticas públicas que garantam seu serviço ao bem comum.

Entretanto, mesmo no âmbito de um governo progressista, talvez pressionado por prioridades como o fim da fome, da violência física e da violação de direitos sociais básicos, talvez limitado pela dificuldade de romper com o status quo comunicacional diante de uma eleição transcendental, não é totalmente nítido o impulso para leis ou políticas que redistribuam o poder sobre a subjetividade social, o poder atualmente canalizado por conglomerados empresariais da mídia com um discurso cartelizado.

A recuperação dos espaços de comunicação como um direito humano fundamental e uma premissa de qualquer democracia real continuará sendo uma missão pendente na Colômbia que o movimento popular terá que exigir do novo governo.


Tradução do espanhol de Vanessa Martina Silva/Comunicasul