Por Dany LANG e Henri STERDYNIAK para Les Économistes Atterrés
Uma análise do programa do candidato Macron feita por Dany Lang e Henri Sterdyniak
Emmanuel Macron anunciou em 3 de março sua candidatura às eleições presidenciais em uma carta aos franceses. Usando seu status de presidente da República, a situação de guerra na Ucrânia e seu cargo de presidente do Conselho da União Europeia (UE), ele esperou até 17 de março, quatro semanas antes das eleições, para apresentar seu programa, que brilha pela falta de dinamismo e de ideias fortes [1]. É um programa que trata de continuar e de acentuar a política do primeiro mandato: em muitos pontos, apenas retoma as propostas tradicionais da direita ou do empresariado; claramente, falta o entusiasmo para propor temas cujos limites já apareceram (como a redução de impostos para os mais ricos – que deveria recair sobre os mais pobres –, e o programa da nação start-up). Mesmo que os protestos da população o tenham forçado a reconsiderar parcialmente seu programa de minar o modelo social francês, ele não desistiu. Isso fica óbvio com seus projetos: aposentadoria aos 65 anos, condicionalidade do RSA (Regime de Proteção Social), questionamento do financiamento de radiodifusão pública e introdução da concorrência na educação.
Macron avança como um lobo em pele de cordeiro. Conforme as necessidades manifestadas pela população, afirma que irá melhorar as escolas, os hospitais, as casas de repouso, enfim, o contrário do que fez no seu mandato que está terminando; ao mesmo tempo, seu programa inclui um desafio e uma redução nos gastos sociais (seguro-desemprego, RSA, pensões). Macron afirma que se converteu à ideia de que é necessário empreender uma mudança ecológica impulsionada pelo planejamento, embora queira continuar reduzindo os impostos corporativos (sem uma contrapartida em termos de geração de empregos e esforço ecológico); que confia cegamente nas inovações não reguladas das start-ups e no chamado capitalismo tecnológico verde; e diz também que rejeita uma verdadeira política industrial. O atual presidente pretende promover uma “Europa soberana”, enquanto a UE continua a ser dominada por uma tecnocracia neoliberal, que favorece uma política de redução dos gastos públicos e sociais. Depois de ter reprimido brutalmente os movimentos sociais, governado como um presidente jupiteriano ou autoritário, limitado a autonomia das comunidades locais, reduzido os poderes do parlamento e dos sindicatos, tomado decisões solitárias sob a influência de um pequeno grupo de tecnocratas membros da oligarquia financeira, aconselhado por consultores privados como McKinsey, e praticamente ignorado as conclusões da Convenção Cidadã sobre o Clima (CCC), Macron agora afirma que quer envolver a população nas tomadas de decisões.
[1] O leitor fica impressionado com sua concisão em comparação com os programas mais minuciosos e detalhados dos outros candidatos.
Em resumo
1- Uma situação econômica sem precedentes
2- Um programa tipo “colcha de retalhos”
- Um pacto entre gerações, a redescoberta dos serviços públicos
- Um pacto produtivo contra os trabalhadores
- O pacto produtivo, planejamento equivocado
- Um pacto republicano?
- Um pacto europeu
3- Quando Júpiter promete mudar
4- Os custos
5- Conclusão
Pressenza apresenta o último capítulo: 5- Conclusão
O programa de Emmanuel Macron foi escrito às pressas e é uma verdadeira colcha de retalhos que tenta reunir requisitos contraditórios e sobre o qual é evidente a influência do MEDEF (Movimento das Empresas da França). Podemos dizer que é o programa de um governo que não aprendeu nada com a pandemia de covid-19 e que não está à altura das exigências da transição ecológica ou da reindustrialização. Por outro lado, inclui elementos perigosos: a submissão da escola ao aumento da concorrência e aos interesses do setor privado, o aumento na idade mínima para a aposentadoria de 62 para 65 anos, a condicionalidade do pagamento do RSA às horas de trabalho gratuito, entre outros. Agora, mesmo com a reeleição de Emmanuel Macron, o movimento social terá que se opor a essas medidas.
Veja a análise completa no site da Économistes atterrés:
Traduzido do francês por Aline Arana / Revisado por Graça Pinheiro