CRÔNICA

Por C. Alfredo Soares

 

Minhas lembranças mais tenras remetem ao final dos anos sessenta, inicio dos anos setenta. Lembro do sinal estridente do grupo escolar Campos Sales, onde fiz meus primeiros amigos, convocando as crianças pra cantar o hino nacional e o hino da bandeira. Confesso que a primeira vez que ouvi corri pra casa deixando minha mãe louca de raiva. Passei a tarde toda de castigo, merecido. O uniforme era bermuda azul de tergal e camisa branca de botão com o brasão do estado bordado no bolso colocado do lado direito do peito. O material escolar consistia num caderno pautado, um de desenho, uma cartilha de português, tabuada, estojo com lápis coloridos, hidrocores e lápis preto. As canetas azuis não eram permitidas para a minha idade na época. Só mais tarde, depois de aprender escrever, pude ter uma. Acho que foi na terceira série do primário. Vivia estourando as canetas e, consequentemente, sujando as mãos e o uniforme. Ganhávamos um par de uniforme. Um para a aula o outro pra ginástica. Minha escola tinha uma quadra de cimento, onde jogávamos futebol, handebol e queimado. Por de trás da quadra tinha um pomar, com vários pés de tangerinas. Atacávamos os frutos ainda quase maduros. O zelador não dava conta de nos deter e a inspetora se ocupava demais com o corredor, que dava acesso a todas as salas de aula, pra ajudá-lo. Mas bastava dona Jane, a professora, chamar que íamos sem pestanejar. Eu a achava a mulher mais poderosa e bonita do mundo. Ela era soberana, assim como eram os professores daquela época. Ser do magistério dava mais status do que ser o padre da paróquia. A minha primeira escola está lá até hoje. Não sei mais quem passou por lá, só sei que eu não passei..e nem ela passou em mim.