No dia 11 de janeiro passado, foram divulgados os resultados do Teste de Transição (Prueba de Transición, PDT), exame equivalente ao ENEM, aplicado no Chile, para determinar a entrada na universidade. Uma vez mais, fica evidente que, para cursar o ensino superior, o lugar onde você nasceu ou onde estudou faz toda a diferença.
Até hoje, apenas se conhece parte das estatísticas, mas já é possível tirar conclusões gerais em relação ao desempenho dos estudantes que obtiveram as notas mais altas, às instituições de ensino e ao tipo de formação educacional aí aplicada.
A primeira coisa que se destaca é que a Região Metropolitana de Santiago continua superando amplamente a porcentagem de notas mais altas, chegando a representar quase 2 em cada três (64%), enquanto as outras quinze regiões atingem apenas 36%, com a seguinte distribuição: 14 no Biobío; 10 em Valparaíso; 8 em O’Higgins; 7 na Araucanía; 7 no Maule; 6 em Antofagasta; 5 em Coquimbo; 4 nos Lagos; 2 em Tarapacá; 2 em Los Ríos; 2 em Magalhães; e 1 na região de Ñuble.
O relatório oficial do subsecretário de Educação Superior sugere que a diminuição da brecha entre estabelecimentos científicos-humanistas (CH) e técnicos-profissionais (TP) foi uma grande conquista, chegando esse ano a uma diferença média de 71 pontos. No entanto, o que essa diferença significa é que, em média, os estudantes provenientes de TP têm uma desvantagem de 15% em relação aos que estudaram em CH.
O Chile é um país desigual desde o berço e não há oportunidades para nivelar os estudantes por meio da educação. Quando faço essa afirmação, há pessoas que me contradizem, apontando casos individuais de pessoas que conseguiram superar todos os obstáculos para driblar as condições socioeconômicas, culturais e territoriais em que nasceram, cresceram e estudaram. É verdade que existem casos dignos de louvor, mas não devemos esquecer que é responsabilidade do Estado proporcionar educação de qualidade a todas e todos os seus cidadãos, para que meninas, meninos e jovens possam desenvolver seus potenciais de forma plena.
O Estado falha em seu papel de entregar igualdade de oportunidades educacionais. Assim como na saúde, na previdência e na moradia, somente acessam serviços de qualidade aquelas pessoas capazes de pagar por eles. É neste ponto que devemos ser capazes de aplicar o pensamento crítico e diferenciar entre um direito e um bem privado que se negocia no mercado.
Estamos diante do grande desafio de abordar as desigualdades e promover as mudanças estruturais necessárias para conseguir que meninas, meninos e jovens contribuam à sociedade de maneira intelectual e criativa, em vez de ser mão de obra barata “por haver nascido no lugar errado”. É urgente avançar nesses temas, porque na educação de qualidade se decide o destino do Chile e hoje estamos em dívida com a população.
Traduzido do espanhol por Graça Pinheiro / Revisado por Débora Lima