CONTO
Por Valéria Soares
Sob o tapete, resíduos cuidadosamente armazenados como um filtro de impedindo que o gosto fosse puro e a visão desembaçada. Eram uma espécie de antolhos. Nada podia ser visto ou compreendido senão através. Ditadura construída pela mente, escamas carcomendo a visão, escaras encobrindo a beleza.
Sob o tapete, o cheiro da alma magoada confundindo o perfume das flores; a mornidão impedindo o frio intrépido e afastando o calor abrasador.
Sob o tapete, toda sorte de fracasso; toda a sorte de tristeza; toda a sorte de rancor , de raiva e remorso.
Sob o tapete, o que impede a luz.
Sob o tapete, a pedra feita para o tropeço; o nó da forca, o carrasco, o cadafalso… A putrefação.
Sobre o tapete, uma estátua de sal , com olhar esquecido, com o sorriso travado; presa à impossilidade de ir.