CRÔNICA
Por C. Alfredo Soares
Minha cidade, na minha cabeça, tem cheiro de eucaliptos e hortênsias pelo caminho
Minha cidade, na minha cabeça, tem sino da igreja badalando às 18 horas
Sirene da carpintaria no início do turno de trabalho
Tem padre dando benção à todos
Ruas de paralelepípedos
Bicicletas aro 27
Pinheiros com pinhão
Missa de manhã
Culto a noite
Kichute nos pés dos meninos
Conga nos pés das meninas
Minha cidade, na minha cabeça,
Tem cheiro de pão quentinho da padaria da esquina
Tem bença mãe, bença pai
Tem bom dia e boa noite
Tem banho de cachoeira nas tardes calorentas
Passeio por trilhas, no alto dos morros, em meio as torres de energia
Minha cidade carrinho de pipoca na praça
Picolé de groselha
Boteco e armazém
Animais soltos na rua
Cachorros, porcos, galinhas
Jaboticaba no quintal do vizinho
Hortaliças no fundo do quintal
Ladeiras íngremes
Casas no alto do morro
Nuvens que surgem do nada e se vão
Pipas no céu de agosto a janeiro
Futebol todos os dias
Dezenas de amigos
Moleques sorrindo
Adultos proseando
Bêbados perturbando
Nela o rio passa e transborda no verão
As montanhas, ao longe, parecem molhadas
O relevo um rascunho de Deus
Minha cidade, na minha cabeça, é imortal
Pois é o melhor retrato da minha infância