CRÔNICA
Por C. Alfredo Soares
Gritos
Mãos estendidas
Em meio a torrente
Gritos vão
E deixam somente o eco
As lágrimas secam
Depois de tanto derramar
Vamos nos acomodando nos becos
Nos brejos,
Nos mangues
Nos morros
Nas encostas que restam
Numa concessão dos poderosos
Numa posse sem Habite-se
Sem verbas públicas
Com promessas velhas
Numa torre de cartas
Prestes a tombar
Que amassa contra a pedra
O pobre,
O preto,
O despossuído
Até quando a natureza,
Também reprimida
Pela ganância desmedida
Reage e vomita
Rumina tudo que engoliu
Nessa hora viramos lama,
Entulho que desce
Junto com os pertences
Pra compor o barro
Que cobre a cidade baixa
Triste sina
De quem tem que se contentar
Se submeter
Amansar
Transformar o grito de revolta
Em grito de dor
Como se fosse ali
O seu devido lugar
Ai tudo vira lembrança
Sem fotos ou herança
Apenas uma memória doída
Sem nada mais a restar
Recomeçar sem repensar
Será melhor ter partido
Aceitaremos o que nos impõem
Feitos gado?
A hora do abate chegou
É preciso escolher
De que lado você quer estar