Em uma única semana de abril de 2015, dois grandes naufrágios tiraram a vida de mais de 1.200 pessoas no Mediterrâneo central, revelando as consequências mortais da decisão dos líderes europeus de acabar com a operação de busca e resgate da Itália em outubro de 2014. Em uma tentativa de preencher este vazio devastador, alguns navios foram levados para o mar perto da Líbia. O navio Luventa partiu em 2016. Desde então, o navio salvou mais de 14.000 pessoas de se afogarem.

Apesar disso, as autoridades italianas apreenderam o navio em 2017 e iniciaram investigações sobre dez tripulantes. Eles foram acusados de facilitar a migração da Líbia para a Itália, principalmente em conluio com traficantes ilegais. Eles não fizeram nada disso. Estavam apenas salvando vidas.

“Se é um crime salvar as pessoas da agonia, declaro-me culpado. Culpado de Solidariedade”
Dariush

Dariush Beigui, tripulante do Luventa

Em janeiro de 2021, as acusações foram retiradas contra seis membros da tripulação, mas os quatro restantes ainda podem pegar até 20 anos de prisão, incluindo Sascha e Dariush. Infelizmente, este não é um caso isolado. Em toda a Europa, indivíduos e ONGs foram ameaçados, assediados e arrastados diante dos tribunais apenas por ajudar refugiados e migrantes em necessidade, tanto no mar como em terra.

O Luventa não é apenas um barco de resgate. É um símbolo de oposição às políticas europeias que fizeram do Mediterrâneo uma das fronteiras mais mortíferas do mundo. É também um símbolo de solidariedade e humanidade para as pessoas que tentam escapar da guerra, das perseguições e da pobreza.

Pessoas estão morrendo afogadas. Porque ninguém fala deste pesadelo diário no mar? Por que razão é mais importante que as pessoas não cheguem à Europa do que a sua sobrevivência?
Dariush

Todos sabemos que a solidariedade não é um crime. Mas o que é exatamente? Quando perguntei à tripulação o que significa solidariedade para eles, fiquei impressionado com o fato de não haver uma definição única. Dariush diz: “Solidariedade significa estar lá para as pessoas. Não importa se eu as conheço ou se tenho exatamente as mesmas opiniões políticas que elas”, acrescentando que “Solidariedade é o sentimento de não estar sozinho.”

Para Sascha, há uma dimensão política que não pode ser ignorada. Ele é solidário com as pessoas que migram porque pode e porque as autoridades não o fazem.

Solidariedade significa enfrentar juntos. Nós não lhes damos uma voz – eles já têm uma. Eles gritam. Ninguém ouve.
Sascha


Traduzido do francês por Deisi Raquel /Revisão Aline Arana