Falta de acesso à internet, situação econômica precária e outras questões, principalmente a ausência de Estado têm sido fatores determinantes da precariedade da educação nesses tempos de pandemia. As afirmações são das professoras Lívia Coelho e Graziela Ninck, durante a roda de conversa Educação & Pandemia, ocorrida nesta segunda-feira, 4 de outubro, com transmissão pelo YouTube.
A educação no Brasil, mesmo antes da pandemia da Covid-19, sempre apresentou muitas precariedades. E no contexto pandêmico a situação só tendeu a piorar. De acordo com a professora Graziela Ninck, Mestra e Doutora em Educação e Contemporaneidade, “a escola não pode ser reduzida a uma transposição do ensino presencial para o ensino remoto. É preciso pensar o sentido da escola, não somente neste momento de pandemia, mas sempre”.
Para ela, é preciso tirar lições do contexto que estamos enfrentando, não apenas no sentido de aprender a lidar com as tecnologias de informação e comunicação, mas, sobretudo, sair dessa situação através de uma resistência coletiva, de modo que aprendamos a “re-existir”, ou seja, a pensar uma nova escola, um novo curriculo, construir uma escola que faça sentido”.
A também doutora em Educação Lívia Coelho afirmou que, entre outras questões, o país precisa acabar com as desigualdades de acesso à internet, visto que, mesmo após a pandemia, a escola necessitará desse recurso, pois o caminho já trilhado até aqui demonstra que não se pode prescindir do acesso a essa tecnologia.
Ainda de acordo com Lívia Coelho, pesquisas recentes demonstram que, em 2020, somente 64% dos 5.568 municípios brasileiros possuíam 4G na totalidade de suas áreas urbanas, quando esta tecnologia já está no país há 12 anos. Conforme ressalta, com o 5 G não será diferente. Para Coelho, “É uma questão complexa. Não podemos permitir essa desigualdade, essa falta de direito ao acesso à internet. Precisamos cobrar dos governos”, diz.
Além dessas questões, as professoras salientaram a necessidade de a sociedade se mobilizar no sentido de cobrar dos poderes públicos (municipal estadual e federal) medidas contundentes para sanar a situação crítica na qual se encontra a educação do país. “Eu penso que, para muitos governantes, a pandemia foi estratégica, pois eles aproveitaram para dizer ‘não posso fazer por causa da pandemia’”, disse Graziela Ninck, ao tempo em que questionou: “Qual foi o esforço, quais as medidas tomadas para enfrentar esse momento e o futuro?”.
As professoras salientaram a necessidade de consciência política por parte de todos os sujeitos envolvidos (famílias, docentes, discentes), a fim de reivindicar uma escola de qualidade. “Negros, homens, mulhere, indígenas, o povo; estamos do mesmo lado. A qualidade vai passar pela interrogação, pela luta. Temos muitas armadilhas, mas temos que ser conscientes que “estamos do mesmo lado”, ressalta Graziela Ninck.
A roda de conversa Educação & Pandemia é a primeira de uma série de debates desenvolvidos pelo Projeto de Extensão “Prisma – educação para a diversidade”, da Universidade Estadual de Santa Cruz, em parceria com o Colégio Estadual Moysés Bohana, em Ilhéus, na Bahia, e teve a mediação da professora Andréa Ribeiro, pedagoga e Mestra em Educação.