Economia, fome, seca e pobreza são desafios que o Talibã enfrenta atualmente.

Enquanto os líderes mundiais e as organizações internacionais aguardam ansiosamente as cenas dos próximos capítulos do governo Talibã, a sharia, uma interpretação severa da lei islâmica, começou a ser implementada na nação.

Os países interessados, incluindo a China, Irã, Paquistão, Qatar, Rússia, Turquia e Emirados Árabes Unidos, estão buscando o Talibã para formar um governo inclusivo, com o objetivo de unificar uma nação dilacerada por conflitos civis, pobreza e fome há várias décadas.

O Qatar, os Emirados Árabes Unidos e a Turquia serão os principais parceiros na gestão operacional do Afeganistão, enquanto a China será o parceiro no desenvolvimento. A parceria militar do Talibã — um segredo bem conhecido — é com o Paquistão.

Momentos após a invasão talibã em Cabul, eles renomearam o país como “Emirado Islâmico do Afeganistão”, o que se sobrepõe à República Islâmica do Afeganistão, nome declarado pelo então governo, apoiado pelos EUA.

O Talibã já apertou o botão “reiniciar”, que regressa o país à era medieval. Os comandantes e os líderes do grupo provaram que o livro A máquina do tempo, de H.G. Wells, é agora uma realidade. Infelizmente, a máquina do tempo talibã levará uma nação inteira de volta ao século VII.

Os islamistas venceram a guerra contra os gigantes americanos e as forças da OTAN — agora eles precisam de um planejamento especializado para governar o Afeganistão. Também têm que aprender os melhores meios para ganhar a confiança do público, o que vem por meio das urnas, não da violência.

A questão crucial que o Talibã tem pela frente é definir as estratégias que permitirão que o país se recupere da guerra civil, da crise de liquidez, da fome, da seca grave e, é claro, da pobreza. Seus líderes provaram que têm habilidade na diplomacia pública e eficiência no tratamento da mídia internacional.

Os mulás (líderes ou professores religiosos muçulmanos) assumiram o controle de uma nação que depende fortemente da ajuda internacional o que, em meio a uma crise de liquidez, poderia significar um desastre para as finanças do governo. Por outro lado, a moeda local está perdendo valor, enquanto as reservas em divisas estrangeiras são mantidas no exterior e, inclusive, estão atualmente bloqueadas.

O desafio imediato que o Talibã enfrentará será o de ressuscitar a economia. As nações ocidentais estão esperando para começar a queda de braço com os mulás de Cabul e de Kandahar, pois o Talibã precisa descobrir como pagar os funcionários do governo e continuar administrando os serviços de utilidade pública e infraestruturas cruciais, tais como água, energia e comunicações.

Há uma desconfiança generalizada entre os afegãos sobre o quanto o Talibã realmente mudou desde os anos 90 — especialmente, entre minorias religiosas e seitas como os hazaras, hindus, sikhs e cristãos, sem mencionar a preocupação quanto ao futuro da comunidade LGBTQ.

O Afeganistão é uma das nações mais pobres do mundo. Depois que o Talibã foi derrubado em 2001, o país recebeu uma quantidade enorme de ajuda internacional. Esta ajuda representou mais de 40% do PIB afegão em 2020, mas a maior parte dela está agora suspensa, e não há garantias sobre a restante.

O outro desafio é a escassez crítica de profissionais afegãos qualificados, incluindo os funcionários públicos, bancários, médicos, engenheiros, professores e outros profissionais com diploma universitário, todos aterrorizados com a vida que os espera sob a liderança dos islamistas.

As Nações Unidas alertaram sobre o risco de uma crise humanitária, com os estoques de alimentos diminuindo por causa dos distúrbios causados pelo conflito. Com a aproximação do inverno e a seca ainda em curso, o cenário político prejudicará a credibilidade do Talibã entre os afegãos, que sofreram com a dor e a agonia durante a guerra civil.

Um cientista político egípcio-francês, Samir Amin, que faleceu há três anos, aos 86 anos de idade, declarou de maneira muito acertada: “Os exércitos do Norte (o Ocidente) nunca trouxeram paz, prosperidade ou democracia aos povos do Sul (Ásia, África, ou América Latina)”.

Este artigo de opinião também foi publicado no Dhaka Tribune: https://www.dhakatribune.com/opinion/op-ed/2021/09/07/op-ed-what-lies-ahead-for-the-taliban


Sobre o escritor:

Saleem Samad é um jornalista independente, defensor dos direitos de mídia, ganhador do Ashoka Fellowship e do prêmio Hellman-Hammett. Você pode segui-lo em: <saleemsamad@hotmail.com>; Twitter @saleemsamad.

 

Traduzido do inglês por Marcella Santiago / Revisado por Graça Pinheiro