Genebra/Gauhati: Expressando séria preocupação quanto à recente crise enfrentada pelo povo de Mianmar (antiga Birmânia) devido à pandemia pela covid-19 sob um regime militar na capital, NayPieTaw, a ONG Press Emblem Campaign (PEC, ou Campanha Emblema de Imprensa), organismo de mídia global com base na Suíça, exige que todos os prisioneiros políticos, incluindo jornalistas, sejam soltos sem nenhum pré-requisito.

É importante mencionar que os comandantes militares da nação sul-asiática assassinaram, até agora, pelo menos 945 pessoas, prenderam mais de 7.026, detiveram (ou sentenciaram) quase 5.474 e transferiram mais de 230 mil pessoas pertencentes a minorias étnicas desde o golpe que derrubou o governo eleito democraticamente de Aung San Suu Kyi no dia 1º de fevereiro de 2021.

“A junta birmanesa prendeu pelo menos 98 jornalistas, dentre eles, 43 ainda estão atrás das grades. Além disso, as autoridades militares esmagaram a imprensa livre, obrigando vários meios midiáticos a fecharem seus escritórios e até forçaram jornalistas a se esconderem para evitar perseguição (ou mesmo prisão) diariamente”, afirmou Blaise Lempen, secretário-geral da campanha da PEC (https://pressemblem.ch/).

Recentemente, um grupo de laureados com o Prêmio Nobel da Paz publicou um pronunciamento para pedir a soltura da principal defensora dos direitos das mulheres de Mianmar, Thin Thin Aung, cofundadora do Mizzima Newsgroup, com base em Rangum. Aung está entre as centenas de pessoas que estão enfrentando detenção por causa de materiais (desfavoráveis à junta) que foram publicados e transmitidos por meios de comunicação.

“O Mizzima está proibido, e nossos escritórios estão sendo invadidos com frequência. Agora nós estamos operando através de esconderijos”, informou Soe Myint, editor-chefe do grupo Mizzima. Ao conversar com o representante da PEC na Índia, Nava Thakuria, ele explicou também que, apesar de todas as ameaças e problemas, vários meios de comunicação do Mizzima continuam a trabalhar com o propósito primeiro de se opor ao golpe militar e de auxiliar na restauração da democracia multipartidária em Mianmar.

Enquanto isso, ativistas exilados argumentam que o chefe militar, Min Aung Hlaing, está tentando legitimar a junta birmanesa ao solicitar à comunidade internacional que ofereça ajuda humanitária às 60 milhões de pessoas de Mianmar. Eles apontam que Mianmar, no momento, está enfrentando a pandemia com um número pequeno de cidadãos vacinados e com assistência médica de baixa qualidade ao redor do país. 

“Atualmente, a catástrofe humanitária e de direitos humanos se agravaram em Mianmar, seguindo a última onda de enchentes. A junta militar se muniu tanto do coronavírus quanto das enchentes para seu próprio ganho político”, disse Khin Ohmar, presidente do Progressive Voice. Ao responder às perguntas da PEC, ele mencionou que a junta está usando os esforços de socorro ao desastre sanitário como um subterfúgio para ganhar sua tão necessária legitimidade.


Nava J. Thakuria
Jornalista com base em Gauhati, Assão, Índia.


Traduzido do inglês por João Paulo Salvatori / Revisado por Graça Pinheiro