A Argélia tornou-se independente em 1962. Entretanto, a Cabília, região de um povo com organização social e características próprias, é o resultado de uma longa história. Dessa população indígena, saíram os primeiros habitantes dos chamados “The Amazighs of North Africa” (“Amazighs” significa “homens livres”, o que deixa a expressão, em tradução livre, como “Os Homens Livres da África do Norte”). É possível entender melhor o significado desses termos quando se está em uma daquelas vilas da Cabília, alcandoradas no topo de uma montanha.

Ao longo dos 59 anos de sua existência, o regime argelino puniu os cidadãos cabilas por exercerem seus direitos civis e humanos básicos. A prisão de locais está aumentando nesses dias na Cabília, Tizi Ouzou e Bugia, lugares que permanecem lutando na linha de frente pela identidade e democracia na Argélia.

Um movimento perigoso em um país onde os mais básicos direitos democráticos são violados pela justiça, que formula sérias acusações no intuito de criminalizar atividades políticas e opiniões que nada têm a ver com delitos.

Um exemplo são as prisões de políticos e ativistas pacíficos que levavam a imagem de Noureddine Ait Hammouda, Bouaziz Ait Chebib, Boumediene Hammou, da professora Fatiha Briki e de dezenas de prisioneiros e acusados que não cometeram nenhum crime de assassinato ou corrupção. Cerca de setenta pessoas ainda estariam detidas por exercer direitos que lhes são legítimos. Algumas estão cumprindo longas penas, enquanto outras estão em prisão preventiva. Novas denúncias de violência física e sexual dentro dos centros de detenção também vieram à tona nos últimos dias.

As injustiças cometidas pelo regime são inúmeras. Aqui estão alguns exemplos:

A perseguição de minorias religiosas pelo regime argelino só está piorando. “A Argélia tem um dos piores registros do mundo com relação à supressão da liberdade religiosa e continua a demonstrar total desrespeito pela proteção da liberdade religiosa das pessoas, com a perseguição e a prisão de minorias cristãs e laicas devido a suas crenças.

A discriminação e os maus tratos — que vieram junto com as prisões — contra as minorias berberes, Mzabi, Chawis, Targuis e cabilas por haverem carregado a bandeira berbere (que representa a identidade do povo Amazigh) durante as marchas contra o regime ditatorial.

Jornalistas e ativistas pelos direitos humanos que criticam essas constantes violações por parte do regime argelino também estão em risco de serem presos. Em abril de 2021, Rabah Karèche, jornalista do meio francês Liberté, foi detido após ter publicado um boletim de um protesto de uma minoria bebere, os tuaregues, numa manifestação cidadã contra a nova divisão territorial que o governo central quer impor.

A brutalidade do regime contra o povo da Cabília não é novidade. Desde 1962, ano da independência argelina, até 2021, o regime argelino marginalizou a região, especificamente usando prisões e tortura sempre que os locais se manifestavam para defender seus direitos fundamentais e preservar sua cultura e identidade ancestral.


Traduzido do inglês por Felipe Balduíno / Revisado por Graça Pinheiro