CRÔNICA
Por C. Alfredo Soares
São quase meia noite e eu não consegui fechar minha coluna. Aliás a minha coluna vertebral já deu sinal de que sua paciência acabou. A semana muito corrida corroeu minha inspiração. Confesso que fui e voltei várias vezes e não cheguei a nenhum lugar. Não falo do trabalho, pois cumpri todas as tarefas, falo de mim mesmo. Tenho até evitado ver o noticiário da TV. Desligo exatamente quando vai começar a edição noturna. A indiferença tem me causado náusea. Minha aversão tem mais a ver com a falta de empatia dos políticos, o que não é uma novidade em se tratando de Brasil, do que com as matérias em si. Sei do nosso compromisso com a verdade do bom jornalismo, mas essa corda está muito esticada e vai arrebentar a qualquer momento. Prefiro colocar uma música, um vinho na taça e sair do cidadão que fui ao longo do dia. Uma espécie de terapia desocupacional voluntária. Essa transmutação, que dura a noite toda e pode ir até outro dia chegar, as vezes é interrompida por uma certa curiosidade jornalística. Tenho me vigiado pra não cair em tentação. A noite tem sido uma aliada. Durmo bem. O problema é que quando acordo, a primeira coisa que eu faço é ligar a TV.
Eita vício do cacete. Não admito sair de casa mal informado.
—