Nossa democracia adoeceu porque foi contaminada pela corrupção, o orgulho e o egocentrismo da classe política que se desconectou da realidade e se concentrou em atender a interesses particulares em vez de buscar o bem comum. Em 18 de outubro, o Chile saiu às ruas e reconquistou seu direito soberano de decidir seu destino mediante a elaboração de uma nova Constituição.

O Chile elegeu seus representantes para a Convenção Constituinte que redigirá a nova Constituição Política da República (CPR). É a primeira vez na nossa história que é feita através de uma instância escolhida diretamente pelos cidadãos. Será igualitária, os povos indígenas com dezessete vagas reservadas serão 11% e quarenta e oito independentes, fora de listas partidárias representam 31%. Os partidos tradicionais entraram em colapso enquanto que os partidos emergentes mantiveram seu voto.

A Convenção Constituinte será atomizada e nenhum setor terá poder de veto. Com essa realidade, surge o grande desafio de diálogo ou do fracasso. Diálogo é se colocar no lugar do outro, buscar em conjunto, o bem comum e entender que a diversidade é um valor e não uma ameaça.

Embora pareça um lugar comum, ganha a democracia entendida como um sistema político que defende a soberania do povo e o direito do povo a eleger e decidir seu destino. Entrou novos ares na Convenção Constituinte e acho que nunca tivemos tanta diversidade em uma instituição do estado. Nesse sentido, o dado mais relevante é que dois de cada três elegidos estudaram em escolas públicas ou particulares subsidiados, enquanto apenas um de cada três estudaram em escolas privadas pagas.

Estamos perante uma grande oportunidade que ao mesmo tempo é um grande desafio. A nossa cultura não é uma cultura do diálogo. Não somos educados para trocar ideias, mas para obedecer, tanto nas famílias quanto no sistema educacional. Embora os planos de educação tenham como objetivo promover a participação e o pensamento crítico, desde cedo deparamos com uma estrutura rígida, de autoridade vertical que privilegia os conteúdos e sobre valoriza os aspectos disciplinares em vez de promover a socialização, a convivência e a educação socioemocional.

Estamos otimistas e esperamos que a comunicação triunfe sobre o confronto de soma zero porque a experiência pessoal e de mais de quinze anos trabalhando na Fundación Semilla, trabalhando nas e com as comunidades escolares, que são uma réplica em pequena escala da sociedade, nos mostra que o debate é possível e necessário na consolidação de uma boa convivência. 

O caminho não será fácil e todos os dias os constituintes enfrentaram o dilema do diálogo e do fracasso, pois terão pessoas que intencionalmente tentará derrubar o que avançamos, por medo de perder privilégios ou outros por não conseguir a totalidade de suas demandas. Por isso finalizo citando a letra da canção de Pablo Neruda e música de Victor Jara “Eu não quero a pátria dividida, cabemos todos na minha terra”.


Traduzido do espanhol por Ivy Miravalles  /  Revisado por Tatiana Elizabeth