TERCEIRA ENTREVISTA EM UMA SÉRIE DE QUATRO PARTES
por Genevieve Balance-Kupang
Ramadan Mubarak! Nesse mês sagrado de Ramadan, sou uma com nossos amigos muçulmanos, enquanto vocês oferecem importantes súplicas, cumprem o jejum, realizam serviços beneficentes, refletem sobre o Alcorão Sagrado e apreciam as bênçãos da nossa devota comunidade.
Como um pesquisador das religiões do mundo e um facilitador de educação multicultural, solicitei que quatro associados muçulmanos compartilhassem sua sabedoria e sua percepção de como essa pandemia, que põe em risco tantas vidas, está moldando as solenes celebrações do Ramadan dentro da comunidade muçulmana. São de diversas nacionalidades — da Arábia Saudita, Nigéria, Irã e Afeganistão — e exercem diversas ocupações.
Engenheiro Ossama Al Azzouni (Arábia Saudita)
Essa terceira entrevista conta com o engenheiro Ossama. Eu o conheci pela primeira vez na Sandiwa Anniversary Celebration, na Igreja Redendorista de Baclaran, em Manila, quando nos agraciou com sua presença. Ele também participou de algumas atividades interconfessionais organizadas pelo Uniharmony Partners Manila, um movimento que une diferentes religiões. Embaixadora da boa vontade e palestrante com experiência mundial, a Dra. Victoria Corral e eu, coautores do livro Introduction to World Religions for Senior High School, publicado pela C & E, solicitamos ao Sheikh Ossama que revisasse nosso manuscrito sobre o Islã, tarefa que ele fez de bom grado.
Ossama após a palestra para estudantes filipinos no Cairo, Egito.
Genevieve Balance-Kupang: Saudações de paz, felicidade e bem-estar, Ossama! É uma honra para a Pressenza recebê-lo como parte dessa série de entrevistas sobre o Ramadan. Por gentileza, diga algo sobre você, onde nasceu e suas crenças sobre o Radaman.
Ossama Al-Azzouni: Nasci na Arábia Saudita, sou um engenheiro civil e um mediador internacional para questões de conflitos de engenharia. Tenho um escritório de consultoria.
Anualmente, quando o mês do Ramadan se aproximava, eu costumava receber perguntas de amigos não muçulmanos sobre a data, inclusive sobre a prática do jejum. Muitos perguntam como aguentamos a fome e a sede e por que ficamos felizes quando o Ramadan está próximo. Ainda que pareça difícil jejuar do amanhecer ao anoitecer por um mês, esperamos com paciência pela data todo ano.
Deixe-me compartilhar algumas informações gerais, reflexões e o significado mais profundo do Jejum.
O Jejum é uma forma de adoração. A prática não começou com o profeta Maomé (a Paz esteja com ele). Era uma maneira de adorar a Deus, de venerá-lo, adotada por vários profetas que vieram antes dele (Maomé), incluindo Abraão, Zacarias, Moisés, Jesus, a virgem Maria, entre outros (a paz esteja com todos eles). Todos jejuavam, de um jeito ou de outro. Muçulmanos acreditam que a mensagem essencial para todos os profetas, de Adão a Maomé (a paz esteja com ele), seja a mesma. É a adoração a Um Deus (Alá), o criador, conhecida como monoteísmo. Então, a mensagem é única, mas cada profeta tem, para seu povo, uma determinada lei que serve à mensagem fundamental. Deus enviou a lei para cada profeta para ser aplicada por um grupo de pessoas num certo período de tempo até que o profeta final Maomé (a paz esteja com ele) veio para toda a humanidade e todas as eras seguintes. Seus ensinamentos incluíram todos os aspectos da nossa vida, incluindo o Jejum.
Para maometanos, o conceito de Ibadah (adoração) não são apenas os rituais realizados por alguém num tempo e lugar específicos. No Islã, ele é abrangente e tem um significado profundo. Inclui toda a vida e todas as ações de uma pessoa. Para entender melhor esse ponto, temos esse capítulo do Alcorão chamado “Al Maun”, capítulo 107:
سورة الماعون – Al-Mā‘ūn
أَرَءَيۡتَ ٱلَّذِي يُكَذِّبُ بِٱلدِّينِ
(1) Tens reparado em quem nega a religião?
فَذَٰلِكَ ٱلَّذِي يَدُعُّ ٱلۡيَتِيمَ
(2) É quem repele o órfão
وَلَا يَحُضُّ عَلَىٰ طَعَامِ ٱلۡمِسۡكِينِ
(3) E não estimula (os demais) à alimentação dos necessitados.
فَوَيۡلٞ لِّلۡمُصَلِّينَ
(4) Ai, pois, dos praticantes das orações
ٱلَّذِينَ هُمۡ عَن صَلَاتِهِمۡ سَاهُونَ
(5) Que são negligentes em suas orações
ٱلَّذِينَ هُمۡ يُرَآءُونَ
(6) Que as fazem por ostentação
وَيَمۡنَعُونَ ٱلۡمَاعُونَ
(7) Negando-se, contudo, a prestar obséquios!
A adoração tem uma forte relação com valores sociais. Muçulmanos acreditam em juízo final; assim, devem ser bons para os órfãos — os membros mais frágeis da sociedade. Fiéis devem atender aos necessitados, caso contrário, a oração como um ritual serve apenas para manter as aparências e é considerada hipocrisia. O Islã lida com o ser humano como um corpo, que tem necessidades materiais, e uma alma, que tem necessidades espirituais, e, então, balanceia os dois. Esse é o segredo dos muçulmanos, uma vida balanceada. Rezamos com reverência cinco vezes ao dia e fazemos o bem, sendo pessoas produtivas e prestativas na nossa sociedade.
GBK: Em uma de nossas conversas, você mencionou que alguns estudiosos islâmicos classificam o jejum em vários níveis. Por favor, elabore mais sobre isso.
OAA: Alguns estudiosos islâmicos classificam jejum em vários níveis: o primeiro é ficar sem comer, sem beber e sem intimidade física entre marido e mulher. O segundo é ficar sem dizer palavrões, fofocas e insultos. Além disso, a pessoa não pode olhar para nada proibido: mãos, pernas e todas as partes do copo devem focar em ações virtuosas. No terceiro nível, o coração deve estar livre do ódio, do ciúme e de todo tipo de doenças sociais e deve desejar o melhor para os outros, assim como se deseja para si mesmo.
Jejum é o quarto dos cinco pilares do Islamismo. O primeiro é Shahadah (Fé), dando testemunho de que Alá é um e de que Maomé (a paz esteja com ele) é seu profeta; Salah (Oração) é rezar cinco vezes ao dia; Zakat (Caridade) é doar 2,5% das economias pessoais no período de um ano. Jejum é o quarto, e Hajj (Peregrinação) é o quinto pilar, a Peregrinação para Meca, que deve acontecer uma vez na vida do fiel que pode arcar com as despesas financeiras e exigências físicas.
Deus nunca impõe uma ordem sem propósito e sabedoria. Notamos isso no seguinte verso do Alcorão ( “AL Baqarah” 183) a respeito da prática do jejum:
يَـٰٓأَيُّهَا ٱلَّذِينَ ءَامَنُواْ كُتِبَ عَلَيۡكُمُ ٱلصِّيَامُ كَمَا كُتِبَ عَلَى ٱلَّذِينَ مِن قَبۡلِكُمۡ لَعَلَّكُمۡ تَتَّقُونَ
(183) Ó fiéis, está-vos prescrito o jejum, tal como foi prescrito a vossos antepassados, para que temais a Deus — (afastar o mal) (Taqwa).
Então, chegamos à conclusão de que o propósito do jejum é ser temente a Deus?
O que é ser temente (a Deus)? É ser devoto (Taqwa) e algumas das características daqueles que estão praticando Taqwa podem ser achadas no próprio Alcorão — no livro sagrado do Islamismo, Taqwa é um termo que aparece relacionado ao sentido de devoção ou pessoa devota.
۞وَسَارِعُوٓاْ إِلَىٰ مَغۡفِرَةٖ مِّن رَّبِّكُمۡ وَجَنَّةٍ عَرۡضُهَا ٱلسَّمَٰوَٰتُ وَٱلۡأَرۡضُ أُعِدَّتۡ لِلۡمُتَّقِينَ
Emulai-vos em obter a indulgência do vosso Senhor e um Paraíso, cuja amplitude é igual à dos céus e da terra, preparado para os tementes (que afastam o mal).
Os versos seguintes vão explicar algumas características das pessoas virtuosas que estão praticando Taqwa.
ٱلَّذِينَ يُنفِقُونَ فِي ٱلسَّرَّآءِ وَٱلضَّرَّآءِ وَٱلۡكَٰظِمِينَ ٱلۡغَيۡظَ وَٱلۡعَافِينَ عَنِ ٱلنَّاسِۗ وَٱللَّهُ يُحِبُّ ٱلۡمُحۡسِنِينَ
(134) Que fazem caridade, tanto na prosperidade, como na adversidade; que reprimem a cólera; que indultam o próximo. Sabei que Deus aprecia os benfeitores.
وَٱلَّذِينَ إِذَا فَعَلُواْ فَٰحِشَةً أَوۡ ظَلَمُوٓاْ أَنفُسَهُمۡ ذَكَرُواْ ٱللَّهَ فَٱسۡتَغۡفَرُواْ لِذُنُوبِهِمۡ وَمَن يَغۡفِرُ
ٱلذُّنُوبَ إِلَّا ٱللَّهُ وَلَمۡ يُصِرُّواْ عَلَىٰ مَا فَعَلُواْ وَهُمۡ يَعۡلَمُونَ
(135) Que, quando cometem uma obscenidade ou se condenam, mencionam a Deus e imploram o perdão por seus pecados – mas quem, senão Deus perdoa os pecados? – e não reincidem, com conhecimento, no que cometeram.
أُوْلَـٰٓئِكَ جَزَآؤُهُم مَّغۡفِرَةٞ مِّن رَّبِّهِمۡ وَجَنَّـٰتٞ تَجۡرِي مِن تَحۡتِهَا ٱلۡأَنۡهَٰرُ خَٰلِدِينَ فِيهَاۚ وَنِعۡمَ أَجۡرُ ٱلۡعَٰمِلِينَ
(136) Para estes a recompensa será uma indulgência do seu Senhor, terão jardins, abaixo dos quais correm os rios, onde morarão eternamente. Quão excelente é a recompensa dos diligentes!
Percebemos como o Jejum é importante para purificar o ser. É como a prática que nos permite aprender muitas coisas em nossa vida e nos disciplina para: 1) obedecer a Alá e seguir suas ordens; 2) controlar nossos desejos para que sejamos deles mestres, e não o contrário. Isso nos diferencia dos animais, que são movidos por desejos; 3) sermos sinceros em nossa adoração a Alá. Quando a pessoa que jejua está sozinha, ela pode, por exemplo, comer e beber enquanto ninguém está vendo, mas muçulmanos nunca fazem isso, pois fazem o jejum em nome de Alá. Jejuar nos permite apreciar as graças que Alá nos deu e às quais devemos dar valor. Devemos agradecer a Deus por elas. Nós damos valor aos presentes e às graças quando ficamos sem eles. Jejuar nos permite sentir os necessitados e os famintos e, para esse fim, você encontra muitos muçulmanos pagando o Zakat durante o Ramadan. O final do Ramadan é marcado por uma caridade especial chamada “Breakfast charity”, que consiste em distribuir comida aos necessitados.
Ossama em Omã dando um curso sobre como meditar sobre o Alcorão Sagrado e aplicar os ensinamentos na vida.
GBK: Por que o Ramadan é chamado o mês do Alcorão Sagrado?
OAA: O Alcorão Sagrado começou a ser revelado para o profeta Maomé (a paz esteja com ele) pelo anjo Gabriel durante o Ramadan. É possível encontrar muçulmanos lendo o Alcorão todos os dias no Ramadan e tentando aplicar os ensinamentos.
O Livro Sagrado deve ser lido durante o ano todo, mas, durante o Ramadan, mais muçulmanos focam nessa tarefa. Jejuar nos leva a nos concentrar no aspecto espiritual da vida e a balancear o aspecto interno da nossa existência. É uma forma de concluir o ano de uma boa maneira até o próximo Ramadan, recarregados com essa super energia que o jejum nos oferece.
GBK: Tirando todo o mês do Ramadan (o nono mês no calendário islâmico), há outros dias durante o ano em que os muçulmanos jejuam?
OAA: Muitos não sabem que muçulmanos jejuam em diferentes dias no decorrer do ano, mas não é dever imposto, como o Ramadan. Todos os outros dias em que o jejum é realizado — Sunnah— são opcionais. São os dias nos quais o Profeta Maomé jejuou. Portanto, os muçulmanos que seguem o Sunnah, como uma forma adicional de adoração, serão devidamente recompensados. Os que não seguem, não serão acusados. Para ilustrar, alguns jejuam segunda e quinta de cada semana. Outros, por exemplo, jejuam durante o Ashura, o dia em que Alá salvou o Profeta Maomé e seus seguidores do Faraó e abriu o mar para que o atravessassem e chegassem à terra. Isso mostra que os muçulmanos acreditam em todos os Profetas desde Adão (a paz esteja com todos eles). Para muitos outros, muçulmanos fazem jejum de forma voluntária.
GBK: Durante a pandemia, qual aspecto do seu sistema de crença e da sua prática espiritual está ajudando a comunidade muçulmana a aliviar as dores das pessoas? Como sua religião está ajudando sua comunidade a lidar com o impacto desse vírus que ameaça a vida de todos?
OAA: Muçulmanos acreditam que tudo que está acontecendo nesse universo — ou que não está acontecendo — vem da vontade e da permissão de Deus e, portanto, tem um propósito. Há sabedoria por trás de tudo. Com nossa capacidade limitada enquanto seres humanos, muitos julgam um acontecimento terrível ou desagradável como sendo, em última instância, ruim. Esses acontecimentos nos trazem lições e fazem com que nos tornemos pessoas melhores. Isso não quer dizer, como muitos pensam, que islamitas se deem por vencidos e deixem as coisas acontecerem, de uma forma passiva.
Eles devem fazer o melhor que podem e, só aí, aceitar o resultado. Enfrentar a pandemia da Covid-19 segue essa mesma lógica. Também usamos todas as formas de proteção disponíveis. Ficamos em lockdown, usamos máscaras, usamos desinfetantes, respeitamos a quarentena e vacinamos os membros da comunidade. Fazemos como todos fazem. Nós aceitamos o resultado como sendo vontade de Deus. Portanto, você pode observar que muçulmanos, no geral, não ficam tão aborrecidos, em pânico ou brigam para estocar a comida dos mercados. Ou ainda, não ficam deprimidos e preocupados com o futuro.
Eles aprenderam a viver assim em 1442, o ano em que a mensagem do Islamismo surgiu. Se olharmos com mais detalhe para a questão da Covid-19, vamos perceber que as pessoas não temem o vírus propriamente dito. Elas temem a morte. Para os muçulmanos — e deveria ser assim para os não muçulmanos também —, a morte é um destino que todos irão enfrentar. Todos nós passaremos por isso um dia. Como costumava-se dizer: “as razões são muitas, e a morte é uma só.” Isso quer dizer que a morte é a morte, mas que existem diferentes meios de morrer: por doença, acidente de carro, Covid-19 ou nenhuma razão tangível, as pessoas morrem, apenas pela vontade de Deus.
Spanish Muslims Annual Camp, frequentado por muçulmanos, parentes e amigos não muçulmanos e que conta com atividades incríveis. Valência, Espanha.
GBK: Muçulmanos são admirados pela declamação e devoção aos 99 nomes de Deus. Qual deles é o mais útil durante essa pandemia?
OAA: Muçulmanos usam os nomes e as características de Alá todos os dias. Por exemplo, antes de tomar qualquer atitude, eles recitam o seguinte texto: “Pelo nome de Alá, o Mais Beneficente, o Mais Misericordioso.” Esses nomes fazem parte dos famosos 99 nomes contados pelos estudiosos. Alguns contaram mais de 99.
Quando os islamitas usam esses nomes, eles refletem sobre a vida e sobre a forma de pensar, estabelecendo, no fim, um certo paradigma para ser praticado. Então, combinando Covid-19, jejum e o paradigma dos muçulmanos, temos um resultado incrível de simbiose e solidariedade entre as pessoas: a forma como os ricos ajudam os pobres, como as famílias e os vizinhos ajudam e cuidam uns dos outros. Essa simbiose é encontrada na vida de um muçulmano. Com ou sem Covid-19, a vida é cheia de provações.
Eu sou Feliz? Uma palestra com os trabalhadores estrangeiros na maior fazenda de camarão do mundo, no RAS.
GBK: Eu gosto do termo simbiose. A interdependência e cooperação com as quais tive muito contato na comunidade rural onde estou em lockdown e o nascimento de comunidades abastecem nosso país. É algo belo quando podemos sentir e viver, entre nós, cuidado genuíno. Quais os seus sonhos para um futuro melhor para a humanidade? Da perspectiva de um fiel do Islamismo, o que esse momento crítico de pandemia trouxe como ensinamento?
OAA: Se refletirmos sobre aquilo que mencionamos durante a pandemia, que já dura mais de um ano, encontraremos muita sabedoria e aprendizados para nos tornar melhores seres humanos.
Alá disse no Alcorão: وَمَا نُرۡسِلُ بِٱلۡأٓيَٰتِ إِلَّا تَخۡوِيفٗا (59) الإسراء–
(E eu não envio sinais, exceto como avisos às pessoas, para que creiam)
Enquanto o mundo todo está enfrentando a pandemia, terremotos, vulcões, tempestades e todo tipo de desastres naturais também estão acontecendo em certos lugares. Isso nos faz pensar com mais profundidade a respeito de como esse novo vírus pode ofuscar toda a tecnologia e a ciência avançada do nosso mundo. É uma mensagem clara para que não sejamos arrogantes devido ao nosso poder material? Não é um sinal de que o mundo todo encontra-se assustado e com medo dessa nova e pequena criação? E se provações maiores estiverem em nosso caminho?
Portanto, meu conselho para nós, seres humanos: não sejamos arrogantes, independente das nossas conquistas pela ciência ou riqueza.
Tudo pode perecer em um segundo, se for a vontade de Deus. E para os não religiosos, agora temos um vírus que não podemos ver e isso não significa que não ele não exista. É possível sentir sua existência pelos sinais e sintomas. Você não deixa de acreditar em Deus porque não consegue vê-lo? Ao mesmo tempo, você está ignorando os sinais de Deus que estão em todo o universo, incluindo em nós mesmos. Por favor, reflitam sobre a criação em nossa volta. Você pode descobrir um incrível sinal e por trás dele, um grandioso e sábio criador. A questão não é apenas o big bang. Podemos aprender com a Covid-19 que não há nenhum super poder que possa enfrentar a vontade de Deus.
Precisamos diferenciar a doença em si dos sintomas. Na maioria das vezes, estamos ocupados lidando com os sintomas e esquecemos a origem da doença.
GBK: Compartilhe uma mensagem de solidariedade e esperança para o Ramadan em meio à pandemia da Covid-19.
OAA: Meu sonho para a humanidade é que todos despertem agora, antes que seja tarde demais. O vírus nos permitiu aprofundar e ampliar nosso pensamento, para nos liberar da verdadeira doença dentro de nós, que é como um câncer devorando a civilização. Estamos ocupados lidando com os sintomas e esquecemos do verdadeiro Câncer, que é simplesmente o (E G O). As células no corpo da humanidade, criadas puras e boas, tornaram-se células cancerígenas, trazidas pelo E G O para que percamos nossa humanidade!
O EGO é a origem do ódio, da inveja, do tribalismo, do racismo, do egoísmo, do extremismo e do egocentrismo. Ele assumirá sua forma mais perigosa quando se tornar um (E G O coletivo), pois será baseado em separação e identificação.
Dessa forma, as pessoas se virarão umas contra as outras. O verdadeiro perigo, o verdadeiro vírus é a pessoa sem nenhuma divindade e valores humanos para guiá-la.
De acordo com estatísticas, cerca de doze mil pessoas morrem todos os dias de fome. Muitas delas são crianças. Especialistas esperam que a fome mate 132 milhões de pessoas nesse ano, enquanto, em muitos lugares pelo mundo, vemos comida sendo jogada no lixo. Alguns produtores jogam parte das safras no oceano para manter os preços altos.
Além disso, todo ano, seis milhões morrem do efeito do cigarro e três milhões do efeito do álcool. A cada segundo, em todo o mundo, ocorrem 24 mortes por acidente de carro. Isso sem mencionar as vítimas de guerras, crimes e os genocídios que ocorrem pelo mundo pelo regime de colonização e pelas guerras. A maior parte desse cenário é causada pela ganância, uma manifestação do EGO que assume o controle daqueles que tomam as decisões importantes.
Minha mensagem de solidariedade ao ser humano:
قُلۡ يَـٰٓأَهۡلَ ٱلۡكِتَٰبِ تَعَالَوۡاْ إِلَىٰ كَلِمَةٖ سَوَآءِۭ بَيۡنَنَا وَبَيۡنَكُمۡ أَلَّا نَعۡبُدَ إِلَّا ٱللَّهَ وَلَا نُشۡرِكَ بِهِۦ شَيۡـٔٗا وَلَا يَتَّخِذَ بَعۡضُنَا بَعۡضًا أَرۡبَابٗا مِّن دُونِ ٱللَّهِۚ فَإِن تَوَلَّوۡاْ فَقُولُواْ ٱشۡهَدُواْ بِأَنَّا مُسۡلِمُونَ (64)
- Diga, ó Mensageiro: ó Judeus e Cristãos, Pessoas da Escritura, venham, vamos nos unir em um mundo justo onde sejamos todos iguais: onde louvemos somente Alá e não louvemos ninguém além dele, independente da patente e independente do status; e onde não nos tratemos como lordes a serem venerados e seguidos e onde somente Alá mereça esse posto. Se eles se afastarem da verdade e da justiça, que você os convoque, e então, ó fiéis, diga: testemunhem nossa entrega a Alá e nossa obediência a Ele.
Parem de deixar o E.G.O ser o centro de nossas vidas e o substituam por Deus, para que disciplinemos o E.G.O e o usemos de forma positiva, espalhando paz e amor. Temos que curar o menor elemento da nossa civilização: o milagre chamado ser humano. Se a relação de amor com Deus é ausente em uma sociedade, ela será árida e cruel. O resultado disso é medo e preocupação, que podem nos levar à depressão e ao desespero. Não é isso que está acontecendo, no momento, em algumas cidades pelo mundo?
Convido cada pessoa sábia a resistir a esse câncer que destrói a humanidade. Covid-19 nos sacudiu e pudemos perceber que somos iguais diante do céu de Deus, nosso criador. Nosso criador é um, nossa densidade é uma. Vamos ouvir uns aos outros em vez de criticar. Aprender uns com os outros em vez de ouvir nosso ego. Vamos amar Deus da maneira certa, para que possamos amar uns aos outros, da maneira certa.
Na Mesquita Sagrada, em Meca
GBK: Subhan Allah. Ossama! Deixe-me expressar minha profunda gratidão, estima e alegria pelo seu tempo, sua sabedoria e sua participação, todos preciosos. Que Alá lhe recompense com paz, boa saúde e abundância. Que você continue a inspirar e tocar corações e a direcioná-los para nosso desejo comum de viver em harmonia, apesar de nossas diferenças, respeitando a diversidade e partilhando amor e paz.
O próximo da série é o Sr. Bisharat Khodadad (Afeganistão). Aqui estão os links para a primeira e a segunda entrevistas:
Sobre o autor:
Genevieve Balance Kupang (Genie) é uma antropóloga, consultora, pesquisadora e conselheira de pessoas e organizações que trabalham visando boa governança, liderança genuína, justiça, integridade de criação, paz, indígenas, preservação de culturas e processos de transformação das sociedades. Ela é uma educadora da paz, autora, praticante do diálogo entre religiões e pesquisadora com carreira na academia e em ONG.
Traduzido do inglês para o português por Felipe Balduino / Revisado por Larissa Dufner