Por Raúl Allain (*)
O presidente da Comissão Setorial de Investigação para Aplicação da Vacina Candidata contra covid-19, Fernando Carbone Campoverde, explicou em coletiva de imprensa que na margem das 470 pessoas que receberam inoculação com a vacina da Sinopharm, segundo a lista entregue pela Universidad Peruana Cayetano Heredia (UPCH), 101 pessoas não fizeram parte das equipes de pesquisa.
Na realidade, trata-se de um total de 101 funcionários públicos, seus familiares e convidados que receberam de forma irregular e em segredo a vacina, entre os quais estão o ex-presidente Martín Vizcarra Cornejo, funcionários do Ministério da Saúde e do Ministério das Relações Exteriores, conforme informado quinta-feira vinte e cinco (25) de fevereiro a comissão encarregada de investigar o chamado ‘Vacunagate’.
No caso de Vizcarra, ele foi vacinado em outubro no Palácio do Governo, antes de sua demissão em novembro. Também devemos mostrar que entre os funcionários que não tinham relação direta com os ensaios clínicos aparecem as ex-ministras de Saúde Pilar Mazzetti e de Relações Exteriores Elizabeth Astete, que renunciaram pouco tempo depois que foi revelado “Vacunagate”.
O presidente da Comissão do Setor de Investigação, indicada pelo Ministério da Saúde, disse que dessas 101 pessoas, 54 são vinculadas aos Ministérios da Saúde (49) e Relações Exteriores (5). Além disso, constatou-se que irregularmente 18 pessoas “convidadas” não têm vínculo algum com essas duas pastas ministeriais e outras 29 são pessoas próximas dos pesquisadores, mas não fazem parte da pesquisa da vacina.
As outras 369 pessoas que compõem a lista “pertencem às equipes de pesquisa das universidades Cayetano Heredia e Mayor de San Marcos”, disse Carbone.
Fernando Carbone, que foi Ministro da Saúde (2002-2003) durante o regime de Toledo, lembrou que as funções da comissão que presidiu enquadram a área de pesquisa apenas no âmbito da Saúde e não implicou sanções a este respeito. Consequentemente, foram estabelecidas treze (13) recomendações nas quais se estimula a participação de diversas organizações.
“Cabe a eles qualificar, identificar a natureza do que foi feito e ver se não deu certo. Nesse caso, devem indicar se há sanção”, disse.
É claro que a Sinopharm enviou um certo número de doses para desenvolver o ensaio clínico de sua vacina candidata no Peru. Em relação às 3.200 doses de vacinas que entraram em território nacional fora das destinadas aos ensaios, Carbone Campoverde indicou que os responsáveis pela sua administração consultaram os membros da equipe se estavam dispostos a recebê-las e vários aceitaram, mas outros não.
Aconteceu que 1.200 doses foram entregues à Embaixada da China no Peru e as 2.000 vacinas restantes foram enviadas aos centros de pesquisa das universidades Cayetano Heredia e Mayor de San Marcos, que desenvolveriam o ensaio clínico com 12.000 voluntários.
Carbone mostrou que entre esses responsáveis está o pesquisador principal da pesquisa na universidade Cayetano Heredia, Germán Málaga, com os pesquisadores patrocinadores do estudo, Javier Bustos e Hugo García, que “conversaram sobre a possibilidade de oferecer a vacina em concurso em estudo a outras pessoas”. Além do pesquisador principal de San Marcos Eduardo Ticona.
O ex-ministro Carbone confirmou que também houve comunicação com os representantes do Ministério da Saúde e Relações Exteriores: o assessor de imunização Carlos Castillo e o diretor de Ciência e Tecnologia do Consulado, Arturo Jarama. Esses representantes foram solicitados a “identificar as pessoas que deveriam receber a vacina”, apesar de não fazerem parte da equipe de pesquisa. Foi relatado que o fornecimento final do medicamento a esses indivíduos afeta o que está estabelecido na regulamentação dos ensaios clínicos.
A comissão recomendou a disponibilização do relatório sobre a aplicação de vacinas à Procuradoria-Geral da República para avaliação do ajuizamento de ação constitucional contra o ex-Ministro da Saúde – vacinado em casa – por suposto crime no exercício da função.
Atualmente, tanto Mazzetti como Astete e Vizcarra estão sendo investigados pelo Ministério Público Nacional pelos supostos crimes de concussão, negociação incompatível, tráfico de influências, entre outros, por causa do ‘Vacunagate’.
Nesse contexto de crise política e social, o Peru é atingido pela segunda onda do Coronavírus e pelo aumento de novos casos. A Dra. Lely Solari, infectologista do Instituto Nacional de Saúde (INS), declarou que, se o covid-19 entrar em uma família, a taxa de contágio é bastante alta. Portanto, devemos assumir que todos os membros são positivos em termos de habitação.
Vamos cuidar da saúde dos peruanos e saudar o esforço para atender às suas necessidades em meio a este cenário de crise e pandemia.
(*) Escritor, poeta, editor e sociólogo. Presidente do Instituto Peruano da Juventude (IPJ) e diretor do Editorial Río Negro.
Traduzido do espanhol para o português por Mercia Santos | Revisado por Tatiana Elizabeth