SOCIEDADE
Por CWeA Comunicação
O projeto Tropa da Solidariedade, coordenado pelo rapper Shackal, começa a distribuir a partir deste sábado dia 3 de abril quentinhas orgânicas para pessoas em situação de rua no Centro do Rio. Nos próximos finais de semana – 10, 17, 23 e 24 de abril, e 1º de maio – à medida que a campanha for ganhando mais adesão serão distribuídos também cestas básicas, com alimentos sem agrotóxicos, e material para o combate ao covid, como álcool gel, material de limpeza e máscaras. Também se pretende aumentar o raio de ação para moradores de favelas cariocas. Para isso é importante a doação, de qualquer quantia, que pode ser feita diretamente a partir do site https://www.tropadasolidariedade.com. “A barriga não espera a cabeça raciocinar. Com fome fica difícil”, diz Shackal. “Falar de amor, de vida, agora é dar comida para essas pessoas”, afirma.
O grupo de voluntários irá se reunir no dia 3 de abril na Casa de Luzia [Rua Evaristo da Veiga, 149, esquina com Joaquim Silva, Lapa), para lavar, cozinhar e preparar as quentinhas com os alimentos comprados de pequenos agricultores. “Da terra pra mesa”, diz Shackal. Em 2020, o projeto distribuiu quentinhas orgânicas e itens de higiene como papel higiênico, álcool gel e máscaras para mais de cinco mil famílias moradoras da Lapa e do Centro. Agora Shackal viu a urgência de retomar o quanto antes essas ações, ao ver às 7h da manhã pessoas na fila de um órgão público, no Centro do Rio, aguardando seu tíquete para o almoço. “Quer dizer, não tem mais café da manhã. A pessoa está esperando na fila pra não perder o almoço. Sem esperança, sem respeito, sem humanidade. Igualzinho a botar todo mundo em uma câmara de gás. Nada diferente. Só estão matando de uma outra forma”, alerta.
Para esta empreitada, Shackal conta com uma rede de voluntários e apoiadores, como os artistas ART.doavesso, BNegão, Cabelo, Carlos Bobi, Choice MC, Dora de Assis, Ernesto Piccolo, Felipe Ret, Jota Pepax, Lidia Viber, Marcelo Ment, MC Menor do Chapa, Mãolee, Pequeninica, Rafael Moreno, entre outros. A rede de restaurante Ximenes Lapa, o Hotel Selina e o Rio Solidário também estão apoiando o projeto.
O projeto Tropa ganhou um espaço na Lapa para instalar sua sede, que oferecerá gratuitamente atividades educativas com enfoque social. O projeto está sendo legalizado graças a um financiamento coletivo ocorrido em março. Com sua sede, a Tropa começará a se estruturar para oferecer perspectiva de vida a milhares de pessoas através de um espaço voltado ao desenvolvimento de habilidades profissionais e artísticas, oferecendo acolhimento, cursos, palestras e uma estrutura potente para a realização de atividades culturais. “Essas pessoas precisam estar de pé. Eu sonho com isso. Essas pessoas com sua casa, com alimentação ideal, com filho no colégio, com respeito e com dignidade, bem vestidas, com o semblante de esperança”, diz.
Ele próprio conheceu na pele o que é perder tudo, e sua história é a de superação, e seu objetivo é impulsionar pessoas em situação de risco. “Eu passei por tudo isso, e hoje tenho minha casa, tenho minha dignidade, luto pela minha dignidade a toda hora. O racismo vem através da fome, da violência policial, de várias formas. E, agora vem, incessantemente através da fome”, desabafa.
Nascido na Rocinha, Shackal (Jorge Luiz Fernando dos Santos) teve uma trajetória ascendente como músico de 1992 a 2008, quando afundou na adição às drogas. Em um esforço de superação, e com a ajuda da planta medicinal africana ibogaína, em 2016 Shackal se recuperou inteiramente, e voltou ao convívio da família, retomando seu trabalho. “É por isso que eu quero ver essas pessoas de pé. É por isso que eu sonho, que eu luto, que eu acredito que a melhor forma de a gente contrapor, de resistir, de superar, de mostrar quem somos, é estar de pé, dignos, com saúde, força e esperança”, afirma.