Pode parecer tudo muito “orwelliano”, ou talvez realmente seja. Em tempos de biocapitalismo, apoiado em nível cultural pelo transumanismo, novas tecnologias militares, novos dispositivos de vigilância e segurança voltados para o controle social e novas descobertas no campo da telemedicina estão sendo implementados.
O que poderia ser melhor que a Covid-19 para abrir mercados desse tipo em meio a uma hiper-digitalização incessante de nossas sociedades?
Adesivos, “smart-patch” e microchips quando colocados na pele, serão capazes de nos vacinar e medir a quantidade de anticorpos presentes em nosso corpo. “Os dados poderão ser controlados remotamente”, poderia ser o lema dessas descobertas tecnológicas.
Sem “complôs” ou “conspiracionismos”: as vacinas do futuro serão baseadas em adesivos, sprays nasais, gotas e pílulas, mas isso não é tudo. Microchips instalados logo abaixo da pele nos dirão em tempo real quantos anticorpos temos, qual é o nosso estado de saúde e se é necessário transmitir os dados ao clínico geral sem sair de casa.
Este microchip foi desenvolvido por cientistas do Pentágono, cuja descoberta foi divulgada no programa de TV “60 Minutes”, da CBS. O coronel aposentado Matt Hepburn, um ex-médico militar especializado em doenças infecciosas, que liderou o combate da DARPA (Defense Advanced Research Project Agency, Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa) à pandemia, demonstrou a tecnologia ao longo do programa. A ideia surgiu da luta para impedir a disseminação do coronavírus a bordo do USS Theodore Roosevelt, onde 1.271 tripulantes tiveram resultado positivo. “Se os marinheiros soubessem que estavam infectados, teriam feito testes no local com uma amostra de sangue”, ressaltou, explicando que com esta tecnologia “podemos saber se o teste é positivo em 3-5 minutos, detendo a infecção logo em seu surgimento”, disse Hepburn.
Já no início de abril, a médica veterinária e virologista Ilaria Capua argumentou que era necessário investir em novas formas de administração de vacinas, de adesivos a sprays, passando pelos chips.
Em janeiro, um estudo da Universidade de Oxford revelou uma vacina em spray nasal e protótipos de adesivos inteligentes de vacina em fase experimental em Swansea, também no Reino Unido. O projeto foi financiado pelo País de Gales e pela União Europeia como “parte da resposta global à pandemia”. Estava previsto que chegaria no final de março de 2021, mas não chegou a tempo. Os “adesivos inteligentes”, feitos de policarbonato ou silicone, podem ser aplicados de forma autônoma no antebraço e fixados com um curativo por no mínimo 24 horas. O dispositivo, após injetar o produto sob a pele por meio de microagulhas, monitora os biomarcadores produzidos pelo organismo, posteriormente escaneados para medir a eficácia da vacina e a resposta imunológica do paciente. Esses microchips serão capazes de indicar quantos anticorpos estão circulando contra um agente microbiano específico, seja ele viral ou bacteriano.
A pesquisa ou terapia tópica poderia ser feita através da inserção subcutânea de um microchip capaz de avaliar nossa resposta de anticorpos à vacinação; ou mesmo utilizar um adesivo que possa inocular ou induzir a produção de anticorpos no nosso organismo.
Embora essa tecnologia levante grandes questões sobre bioética e direitos humanos, os “especialistas” já estão se antecipando sobre as posições céticas em relação ao controle social. “Se o objetivo é localizar as pessoas geograficamente em qualquer lugar do mundo, isso já existe: até mesmo nossos cartões de crédito podem fazer esse serviço, vivemos em uma era em que essa dupla finalidade está realmente ao alcance de todos, ou seja, há pesquisas de grande desenvolvimento para a saúde e o bem-estar que, ao mesmo tempo, se mal intencionadas, podem ser usadas para propósitos completamente diferentes, opostos e maldosos”, assim disse ao Il Giornale a microbiologista Maria Rita Gismondo, diretora de Microbiologia Clínica, Virologia e Diagnóstico de Bio Emergência do Hospital Sacco de Milão.
Na verdade, trata-se de tecnologias de dupla utilização, ou seja, podem ser utilizadas “tanto para fins pacíficos como militares”. Quem decidiu que seu uso na telemedicina é pacífico? Não se sabe, mas essa é a definição que é dada. O fato é que os avanços das nanotecnologias “a serviço da saúde” e da nanofarmacologia estão no centro do debate público.
Gismondo também afirmou: “(…) esse tipo de diagnóstico será extremamente importante principalmente em locais de difícil acesso, porque poderíamos controlar esses dados remotamente por meio das redes, uma forma de telemedicina diretamente no paciente. Esses dados também poderiam ser acessados do outro lado do mundo”. Frases tranquilizadoras se forem lidas com base nas necessidades imediatas de um paciente em dificuldade, mas um tanto perturbadoras se forem lidas com um olhar racional sobre as questões de privacidade e o mercado de Big Data. Atualmente, o modelo de saúde da Estônia é totalmente baseado nesse tipo de mecanismo, mas também é verdade que se trata de uma sociedade hiper controlada e supervisionada: há alguns anos, bastava que Giulietto Chiesa passasse pelo território estoniano para ser preso, obviamente pelo seu ativismo como jornalista.
Apesar das dúvidas e do debate ainda em aberto, o FDA autorizou esse microchip anti-Covid “para uso de emergência” e, até agora, ele tem sido usado para tratar quase 300 pacientes com Covid-19 “em estado crítico”.
https://www.cbsnews.com/news/last-pandemic-science-military-60-minutes-2021-04-11/
https://www.bbc.com/news/uk-wales-55548670
Traduzido do italiano para o português por Beatriz Stein / Revisado por Stephany Vitelli