OLHARES
Por Clementino Jr.
Dói no peito
não tem jeito
não tem leito
nem respeito
Pra que mais leito?
Leito é o fim
Erro de princípio
te isola de mim
nosso precipício
matar é o vício
do coisa ruim
Leito pra descanso
é horizontal
aumento de leito
pode ser o final
tornar o hospital
lugar sem horizonte
rompendo a ponte
que vem da prevenção
indo à recuperação
e parando no meio
com receio de cruzar o vazio
sentir por um fio
a ponte pra morte
estar à própria sorte
O leito que me gerou
para o parto da vida
partiu da vida
sem ver o fim da saga
e vaga é a memória
de quem vê a história
em um outro reflexo
inverso e perplexo
sem dados ou datas
Só as baratas
estarão por aí
E daí, e daí?
ele não é doutor
ele não é coveiro
ele não ele não
ele nem é gente
mas só torna urgente
o que gente não teria peito
de transformar cada leito
em um novo estacionamento
daquele que é paciente
daquele que está morto
daquele sim que foi gente
e que não estando presente
libera mais um leito
num ciclo sem fim.
Dói no peito sim
mas tem jeito
pegar o chefe
colocar na horizontal
testar cada leito
cada hospital
pra ver se afinal
que mesmo nem sendo gente
todo incompetência tem seu fim
que o leito do fim seja dele
antes de mim