Em Honduras, o ataque contra aqueles que defendem a terra e os bens comuns não para. A última vítima é Juan Carlos Cerros Escalante, dirigente indígena Lenca e ambientalista.
Cerros foi assassinado com vários disparos feitos por desconhecidos na noite de domingo, 21 de março, na comunidade Nueva Granada, localizada entre os municípios de Chinda (Santa Bárbara) e San Antonio (Cortés), quando voltava para casa acompanhado de seus filhos.
De acordo com a Coalición Nacional de Redes y Organizaciones Ambientales de Honduras (CONROA), no momento do seu assassinato, Juan Carlos Cerros ocupava o cargo de coordenador da organização Comunidades Unidas.
Ao lado de outros grupos, lutava contra a instalação do projeto hidrelétrico “El Tornillito”, sobre o rio Ulua, obra que ameaça extinguir boa parte do território municipal de Chinda e desalojar uma grande quantidade de famílias.
A responsável pela construção do “El Tornillito” é a empresa hondurenha Hidroeléctrica El Volcán S.A. de C.V. (Hidrovolcán), que faz parte do grupo Inversiones y Representaciones Electromecánicas S.A. de C.V. (Iresa).
“Falar do Juan Carlos é falar de uma pessoa comprometida desde sempre com a sua comunidade, que se envolveu com o tema da defesa do meio ambiente em virtude da concessão do licenciamento do projeto hidrelétrico”, disse à La Rel a coordenadora do Movimiento Ambientalista Santabarbarense (MAS), Betty Vásquez.
Para Vásquez, o modelo extrativista de espoliação e deslocamento forçado que foi implementado em Honduras depois do golpe de Estado de 2009 representa uma forte ameaça para os territórios, principalmente para o ocidente do país e para o povo Lenca.
Criminalização, perseguição, conflitividade e divisões na comunidade são apenas alguns dos efeitos nefastos que essas empresas causam.
Juan Carlos Cerros gozava de medidas de proteção após ter sofrido um atentado em 2019 que o obrigou a abandonar temporariamente a comunidade.
“Ele era uma ameaça a esse sistema explorador e a sua vida estava em risco. Condenamos e denunciamos que se trata de um assassinato político, perpetrado a fim de semear o medo e diminuir a resistência autêntica e legítima da população de Chinda.
Vamos continuar lutando para defender o nosso território, nossos rios, nossa água, porque eles pertencem a nós, porque são parte indissociável da nossa cultura e da nossa cosmovisão indígena”, asseverou a coordenadora do MAS.
Até o momento, sabe-se que uma pessoa foi capturada.
“Exigimos que os fatos sejam esclarecidos, que se dê o processo devido e uma rápida justiça. É preciso acabar com a perseguição e a repressão contra os defensores e defensoras. É preciso acabar com a impunidade.
Vamos continuar semeando luta e esperança, exigindo justiça para Juan Carlos e para todos os que sucumbiram com o marco da defesa territorial”, concluiu Vásquez.
Os números da vergonha
De acordo com o relatório mais recente da Global Witness “Defender o amanhã”1, no ano de 2019, Honduras aparece como o quinto país mais letal do mundo para aqueles que defendem a terra e os bens comuns.
Um total de 26 pessoas defensoras foram assassinadas em 2019 e 2020. Pelo menos 39 perderam a vida de forma violenta depois do assassinato da líder indígena e lutadora social Berta Cáceres (2016), e mais de 150 na última década.
A impunidade é quase absoluta.
Notas:
1 – Relatório da Global Witness
Traduzido do espanhol para o português por Nathália Cardoso / Revisado por Graça Pinheiro