OLHARES

 

 

Por Clementino Jr. 

 

 

“Chegar aqui de onde eu vim
É desafiar a lei da gravidade”
(Junho de 94 — Djonga — O Menino Que Queria Ser Deus — 2018)

Isaac Newton foi tomar um chá após o jantar debaixo de uma macieira, a única no terreno, e contemplou a queda em vertical de uma maçã. A percepção desta queda lhe trouxe uma questão que inaugurou inúmeras linhas de pesquisa no campo das ciências. Ela é fundamental na corrida espacial, sendo um conceito da física que desperta sonhos nos humanos. Em seu sentido mais prático, porém, os mantém com os pés no chão: a gravidade.

Gravidade vem do latim gravis, que significa peso, ou importância. Importância enquanto algo que está com os pés firmes no chão, mas não imóvel como a macieira de Newton, porém como as maçãs, que buscaram o solo e geraram inúmeras reflexões, problemas e cálculos que tornaram Newton mais famoso.

Essa relação de peso e importância eu vejo também na mágica… isso mesmo, mágica. O que explica a maçã cair, em um ou mais momentos exatos, enquanto Newton olhava para a única macieira, a ponto de disparar esse gatilho de uma descoberta científica? Ele poderia, com seu raciocínio, descobrir inúmeras outras coisas “de peso” nas ciências com sua competência, não apenas com a cabeça que, durante muito tempo, nos ensinaram que foi o alvo da maçã. A importância, creio, está em não se perder a sensibilidade para perceber cada fenômeno no seu entorno e, com isso, se integrar cada vez mais com o seu ambiente. É assim que vários cientistas, ao longo do tempo, fizeram grandes descobertas, encontrando, no acaso ou nas brechas dos padrões do cotidiano, aquele fenômeno que, uma vez explicado, revela uma série de questões que são a chave para buscarmos, nas ciências, o que desapegamos da natureza da qual, como já mencionei outras vezes, fizemos parte e hoje vemos como terceira pessoa.

Serendipidade é a palavra que determina essas descobertas inesperadas, mais creditadas à área da ciência e à observação da natureza do que em acidentes de navegações que, indo para as Índias, chegam às Américas. Esse tipo de descoberta inesperada se converte colonialmente em um encobrimento estratégico do outro, mas prosseguirei pensando no que realmente é uma descoberta?

Às vezes, só percebemos que todos temos esse poder de encontrar soluções nas quebras dos padrões e nas descobertas inesperadas quando uma pessoa começa a usar esta competência humana para proveito próprio, para obter poder e, com o poder, limitar quem pretende fazer descobertas que beneficiem a si e aos demais. Fazer bem de forma plural não traz poder, traz comunhão e paz. Por vezes, parece que é necessário que o individualismo crie formas de desqualificar a ciência, a magia deste momento de descoberta, deste despertar para as soluções. A capacidade de descobrir uma solução é a mesma, mas, na fome pelo poder, prefere ser uma macieira, pensando metaforicamente no Newton, para escolher se deixará a maçã cair ou não diante do observador.

O olhar sensível e crítico dos cientistas torna o mundo melhor em alguns aspectos. Mas há algo nas voltas que esse mundo dá que fazem com que os opositores, que trabalham nesta mesma frequência de aproveitar as brechas, tornem invenções maravilhosas algo não maravilhoso. Conseguem transformar o remédio em veneno e não o veneno em vacina. Um equilíbrio desigual, pois um indivíduo pesa mais do que muitos, entre o que é bom e o que não é para a sociedade. A gravidade, neste caso, não funciona quando a balança não posiciona o seu fiel na posição correta. A gravidade da omissão de uns terá um peso enorme na história para todos, a não ser que o povo descubra isso… inesperadamente.