Por Raúl Allain (*)

No dia 6 de março, um sábado, desse ano de 2021, fez um ano que o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado no Peru. O responsável pela comunicação desse primeiro caso de coronavírus no país foi o ex-presidente da República, Martín Vizcarra Cornejo, que foi afastado por incapacidade moral permanente.

O primeiro caso de coronavírus foi um homem de vinte e cinco anos que, depois de estar na Espanha, França e República Tcheca, foi infectado com a doença quando o vírus já se espalhava rapidamente pela Europa.

Cinco dias após esse primeiro reporte, o governo decretou uma emergência nacional de saúde por um período de 90 dias corridos porque a taxa de infecções começou a aumentar. Em 11 de março de 2020, dada a rápida e progressiva expansão da epidemia em nível internacional, a Organização Mundial da Saúde (OMS) mudou o status de epidemia para pandemia.

A quarentena, durante os primeiros meses, foi rigorosa. Incluiu o apoio das Forças Armadas à Polícia Nacional do Peru (PNP) e foi prorrogada por vários meses antes de ser modificada em favor da reativação econômica, porque as atividades comerciais, culturais e de serviços se encontraram afetadas.

A pandemia afetou todos os aspectos da vida social do país, criando uma situação crítica tanto no aspecto de saúde quanto no econômico. E, consequentemente, também uma crise política, com importantes mudanças de autoridades ocorrendo de maneira consecutiva, incluindo três presidentes, além de vários ministros.

Durante os primeiros cinco meses da pandemia, mais de 20.000 pessoas morreram em todo o país, significando um forte impacto na economia e nos centros de saúde onde não havia espaço para nenhum paciente mais.

Apenas nos dois primeiros meses da pandemia de coronavírus é que o número de mortes não foi contundente, com um número inferior a 100 por dia. Porém, em maio de 2020, os números começaram a aumentar drasticamente, com a média de óbitos passando a 227 por dia. E o mês de junho foi o mais letal da pandemia, com 272 mortes por dia em média, de acordo com a atualização do Centro de Controle de Doenças.

A primeira onda de coronavírus só começou a apresentar uma queda significativa em setembro, quando houve queda na mortalidade excessiva no Peru. Luis Suárez Ognio declarou, em uma entrevista coletiva, que 2.000 mortes foram relatadas semanalmente no país, número que triplicou em várias semanas.

O último trimestre apresentou estatísticas mais animadoras que os períodos anteriores, mas o número de mortos por mês persistiu acima de 1.500 e fechamos o ano com mais de 1.600 falecidos em dezembro.

Em janeiro desse ano, o Ministério da Saúde (Minsa) informou que o número acumulado de casos positivos para Covid-19 no país subiu para 1.078.675. Isso representou um novo aumento nos casos positivos e óbitos, o que levou as autoridades a estabelecerem novas medidas de saúde diante da segunda onda do coronavírus.

Como adverti no meu artigo “O Peru perante uma iminente segunda onda de Covid-19”, estávamos “(…) contra o tempo perante uma iminente segunda onda de contágios por Covid-19 no Peru” e enfrentamos essa situação sem a implementação de vacinas. Durante o mês de fevereiro, mais de dez regiões foram situadas em nível de risco extremo e permaneceram em quarentena para evitar a propagação do vírus.

Apesar das medidas de quarentena, os números de fevereiro estão entre os piores desde o início da pandemia do coronavírus em nosso país. Só nesse mês, houve 5.504 mortos.

O Ministério da Saúde informa que até a quarta-feira 3 de março, o número oficial de pessoas mortas por Covid-19 no Peru é de 47.306, mas, se contarmos com os 15.058 casos suspeitos, o número total que a vigilância epidemiológica mostra é de 69.364 mortos.

Por outro lado, o Sistema Nacional de Óbitos (Sinadef), encarregado de manter o registro das mortes por qualquer causa no Peru, afirma que, no final de fevereiro, havia 109.943 mortes pelo coronavírus.

Devemos ter em mente que essa lacuna no número de óbitos se deve ao fato de o Sinadef considera, além dos casos confirmados e suspeitos, toda pessoa desaparecida cujo atestado médico de óbito indique que o diagnóstico de Covid-19 é a causa básica da morte.

Entre a crise do Poder Executivo e as mudanças de ministros produzidas por escândalos como o ‘Vacunagate’, existe um contexto critico na política e no social. Atualmente, as investigações do caso ‘Vacunagate’ estão sendo conduzidas pelo Ministério Público através do despacho da procuradora-geral da República, Zoraida Ávalos Rivera.

Nesse contexto de crise, o Banco Central de Reserva do Peru (BCRP) informou que a atividade econômica em nosso país vem se recuperando após a profunda contração no segundo trimestre provocada pelas medidas de confinamento para combater o coronavírus. Isso significa que o Produto Interno Bruto (PIB) do Peru registrou uma recuperação significativa durante o quarto trimestre de 2020.

Todos os peruanos têm que garantir as condições necessárias para que o país se recupere da pandemia do coronavírus e dessa crise política e social.

(*) Escritor, poeta, editor e sociólogo. Presidente do Instituto Peruano da Juventude (IPJ) e diretor do Editorial Río Negro.


 

Traduzido do espanhol por Mércia Santos / Revisado por Graça Pinheiro