Por Marcelo Carota
Partido dos Trabalhadores: 41 anos, e a luta continua
No último dia 10, o Partido dos Trabalhadores (PT) completou 41 anos de sua fundação, ocorrida no Colégio Sion, em São Paulo tendo em Lula sua figura exponencial, pelas grandes mobilizações da classe trabalhadora que vinha promovendo desde 1978.
Tornou-se – e ainda é – o maior partido deste país, o maior partido de esquerda da América Latina e um dos maiores partidos de esquerda do mundo, com conquistas únicas em suas muitas lutas, especialmente nos governos Lula (2003-2010) e Dilma (2010-2016, mandato interrompido por mais um golpe na história do Brasil), quando: –
- salvou 36 milhões de seres humanos que viviam na linha abaixo da miséria, por meio do Bolsa Família, programa de distribuição de renda mais premiado e copiado mundo afora;
- tirou o Brasil do Mapa Mundial da Fome;
- com os programas Luz para Todos e Água para Todos, garantiu dois direitos universais à população do Brasil profundo, onde tais direitos, durante séculos, não passavam de promessas de campanha jamais cumpridas – e a transposição do Rio São Francisco é uma das maiores obras de estrutura hídrica do mundo;
- promoveu inclusão na Educação (do ensino básico à universidade), na Ciência, na Saúde e no mercado formal de trabalho a setores inteiros da população historicamente excluídos: pobres, trabalhadores, mulheres, negros, indígenas e LGBTQI;
- exerceu plenamente o seu protagonismo continental, antes limitado a tamanho territorial e riquezas de todos saqueadas por poucos;
- não apenas pagou uma dívida criminosa contraída junto ao FMI por inimigos do Povo que o antecederam na presidência, como tornou-se credor desse agiota internacional;
- fez o Brasil tornar-se respeitado e admirado por todo o mundo civilizado.
Tudo isso e muito, mas muito mais em apenas 14 anos.
Alguns integrantes do partido cometeram erros, ou mesmo, crimes? Sim, cometeram – tal qual integrantes de todo e qualquer partido no país, no mundo. Mas tanto para os reacionários de direita quanto para os pequenos-burgueses que se dizem de esquerda, só o PT não tem direito a errar, deve ser sempre perfeito, como se isso fosse possível a qualquer um, especialmente a quem cobra tal impossibilidade, cujas biografias, como bem observou a ex-presidenta Dilma Rousseff, “não sobrevivem a 15 minutos de pesquisa no Google”.
Mas a verdade não é que o PT não pode errar.
Pela grandeza e pelo valor de suas realizações, bem como pelo valor e grandeza de sua estrela maior, Luiz Inácio Lula da Silva, o PT não pode governar, porque isso, Lula e Dilma provaram, significa cumprir o dever de Estado de conferir direitos a todas e a todos, não apenas aos suspeitos de sempre (direita e ultra direita) e aos privilegiados idem (pequenos-burgueses), que, nessa hora, comungam da saudade hereditária da escravidão, com seus empregados, lavadeiras e babás ganhando pouco, sem muitos direitos, por um trabalho que seus patrões não querem fazer nem por muito dinheiro – vide, nas redes sociais, as queixas de quem, durante esta pandemia, se viu, pela primeira vez, obrigado a limpar a própria casa (inclusive a própria privada), fazer a própria comida, lavar a própria roupa, cuidar dos próprios filhos, enfim, tudo isso que aquela empregada doméstica “que é como se fosse da família” faz.
O PT não pode governar, porque é sinônimo de soberania do e para o país e seu povo, via, por exemplo, Petrobras, cujos royalties do Pré-sal seriam inteiramente destinados à Educação e à Saúde da população, e não, como se deu desde o golpe em Dilma, para, apenas por um exemplo, uma nanica estatal petrolífera da Noruega aproveitar a rifa da Petrobras para garantir a sua soberania neste bem natural.
O PT não pode governar, porque criou mecanismos e investiu fortemente nas mais variadas instituições para efetivo combate à corrupção, mas isso é inaceitável pelas perfumadas e dinásticas organizações criminosas de corruptores e corruptos de fato, comprovados, que só fazem aumentar suas coleções de lucro com a corrupção que fingem querer combater desde o primeiro espelho dado a um indígena que seria morto a bacamarte ou paulada pouco depois, no Brasil Colônia.
E como nesses 41 anos, apesar de toda a demonização feita pela mídia mercantil contra o partido e, sobretudo, contra Lula, ambos ainda teimam em ter o respeito e a admiração de significativa parte da população, as elites deste país e rentistas e governantes estrangeiros, a partir de 2014, apelaram: corromperam e degradaram aos seus interesses bandidos boa parte de todos os mecanismos e instituições de combate à corrupção contra o PT, quase exclusivamente, e contra Lula, principalmente.
Conseguiram vencer esta batalha, é verdade, mas valendo-se do que até o The New York Times, em sua edição do último dia 9, classificou como “O maior escândalo judicial da história do país”, referindo-se à operação Lava Jato e aos seus principais agentes: Sérgio Moro, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça do governo fascista de Bolsonaro, e os talibãs imberbes do MPF do Paraná.
Antes, no PT, dizia-se “a luta continua”. Deveria mudar para “guerra”, correspondendo ao modus operandi do neoliberalismo.
As armas? O cumprimento da profecia do óbvio que Dilma fez quando foi golpeada, dizendo que, um dia, todos os envolvidos no golpe contra o país e seu povo teriam a sua hipocrisia revelada – e demorou até menos do que o esperado para isso acontecer.
Último, mas não menos importante, Lula, que está a milímetros de cumprir a promessa de provar, oficialmente, a sua inocência nessa farsa criada para, a um só tempo, não deixá-lo vencer mais uma eleição, como o povo queria, apontavam todas as pesquisas de opinião, e alçar um fantoche fascista e miliciano ao poder.
Quando penso em desanimar, sempre me lembro de Lula, que acompanho desde os meus 18 anos (estou com 54), e nunca o vi desanimar. Sempre acreditando, sempre lutando e, pesadelo de seus inimigos, sempre se superando – e superando-os.
Sinceramente, quem sou eu para desanimar?
Não apenas Lula está aí, forte como sempre e disposto como nunca, mas também o partido, ainda que acumulando algumas derrotas, mas todas por erros seus de estratégia, logo, bem mais fáceis de serem reparados. Tem uma militância cuja fibra não se rompe por nada nem se dobra a ninguém, e cito como apenas um exemplo dessa capacidade a Vigília Lula Livre, cuja organização pode não ter sido inédita, mas a sua duração, sim, foi única no mundo, terminando apenas quando atingido o propósito apresentado em seu nome (e em sua luta), com a soltura de Lula, em novembro de 2019, mais de um ano depois de sua prisão sem crimes, logo, sem provas.
Não sou petista (e nunca fui filiado a partido algum), mas não sou burro, muito menos arrogante, para negar valor e reconhecimento às suas lutas e conquistas e respeito crítico às suas falhas e derrotas.
Não há, factualmente, em toda a história política do país, um partido com tantos e tais feitos para o seu Povo, e é isso que espero da política, não a sacralização de partidos ou de seus quadros, muito menos usar esse argumento hipócrita para tentar, em vão, disfarçar qual apito do atraso e do provincianismo toco.
PS: Esse artigo é dedicado à memória de Dona Marisa Letícia, que, em sua casa, ao ver a bandeira vermelha que seria usada pelo PT que ajudou a criar, lembrou-se de uns tecidos que tinha no quartinho de costura, escolheu um deles, pegou tesoura, linha e agulha, e aplicou sua contribuição também à bandeira do PT: a estrela branca, que nunca se apaga.
* Marcelo Carota é jornalista e escritor