por Liz Medina
Era uma vez uma garotinha nascida em um reino de uma ilha distante, em uma pequena cabana, sozinha. Ninguém sabia dizer quem eram seus pais. Na verdade, ninguém na tribo sabia como ela havia chegado ali, e o curandeiro a avisou que isso era muito ruim: a menos que encontrasse seus pais, ela não teria linhagem, nem passado e, portanto, nem futuro.
Ela ainda era muito jovem quando partiu em sua jornada. A tribo lhe deu uma canoa, suprimentos e comida. O curandeiro lhe deu um espelho e um encantamento. Ele disse: “Na 40ª noite sobre as Grandes Águas, um cometa atravessará os céus. Você deve encontrá-lo no espelho, e enquanto mantive-lo refletido, o barco seguirá seu curso até a terra dos Antepassados. Lá seu passado será revelado, assim como sua linhagem, e você receberá o mapa de seu destino.
Ao longo de quarenta noites ela enfrentou desafios terríveis: tempestades a assustaram e a desorientaram, mas a ensinaram a manter a proa firme e a manter o seu curso; tubarões enormes agitaram a água tentando desestabilizar a canoa, mas com coragem, visão clara e conhecimento, lutou contra eles com golpes de seu remo (que os deuses transformaram em pára-raios para atordoar os inimigos); e os fantasmas dos afogados a envolveram em sofrimento, fazendo-a querer dar meia-volta e desistir, aceitando o fato de que não era ninguém e que não teria destino. Mas embora tenha chorado e se desesperado muitas vezes, ela perseverou e se tornou uma navegadora exímia. Sem outros humanos para conversar, aprendeu a língua das estrelas.
Até que em uma noite, luzes estranhas e maravilhosas brincavam sobre as ondas e peixes fluorescentes saltavam ao redor de sua canoa, cantando: “Ânimo, Mariña, porque você é alegria, você é como nós, voando sobre a profundeza sem fim; seu entendimento é como estas luzes sobrenaturais dançando sobre as águas. Você não tem um lar, mas o oceano é como seu berço e todas as criaturas vivas são seus irmãos e irmãs.”
Na quadragésima primeira noite, um cometa deslumbrante rasgou os céus com brilho e esplendor inimagináveis. Mariña pegou seu espelho, refletiu a estrela e a canoa disparou em seu curso imediatamente.
Amanheceu e ela parecia ter atracado no Paraíso. Todos à sua volta eram seres bondosos e sorridentes que dançavam em robes brilhantes. Eles contaram a Mariña quem eram sua Mãe e seu Pai: a Terra e o Céu. “Seu destino é voltar à sua tribo e visitar muitas outras, encorajando cada habitante a contar suas histórias às crianças e aos jovens, e ajudar outros iguais a você, que desconhecem sua linhagem e suas origens, a perceber que eles têm um destino a descobrir.”
Ela regressou à sua tribo e o curandeiro a recebeu, dizendo: “Agora você é uma curandeira. Nossos antepassados retornaram, como foi profetizado, graças a como você transformou sua desgraça, que era nossa, em bênção.”
Mariña olhou para o espelho e viu que havia se tornado uma bela anciã.
Sobre a autora:
Liz Medina (b. Amuning, Cidade Quezon, Filipinas, 1954) é tradutora e intérprete espanhol-inglês, que vive e trabalha em Santiago, Chile, desde 1983.
Traduzido do inglês para o português por Fabrício Altran / Revisado por Luma Garcia Camargo