POEMA
Por C. Alfredo Soares
Carta pra Nega
Nega
Aqui fora tá uma loucura
A gente anda apertado no trem
Tem dias que o ônibus não vem
O povo não usa máscara
Nem na rua
Nem em outro lugar
Todo mundo acha que o outro é que deve usar
Não sei como me proteger
Tomo banho de álcool em gel
A contas contas não param de chegar
Esse negócio de protocolo é pra rico
Trabalhador deve ser imune ao vírus
Entendo sua apreensão
Se pudesse ficaria aninhado contigo
Mas tem o patrão
Ele não se importa comigo
Não tem mais auxílio
O jeito é rogar à Deus
Pensar nos meus
E no feijão na mesa
Quem sabe nossa Senhora
Não me protege do vírus
Me torne imune a indiferença
Que minha crença seja o suficiente
Pra esperar a vacina
Pra me afastar desse mal
Contudo Nega
O perigo está nos homens
Que colocam a vida em segundo plano
Como se a vida valesse menos que o capital
Entendo o medo e o receio
Não sou tão corajoso
Me esforço
Mas no fundo
Faço tudo pra te ver feliz
Reze por mim
Sua prece é poderosa
Suas mãos espalmadas
Encantam Jesus
Quem sabe assim
Permaneço imune
Até o dia que saiamos desse túnel
E eu possa de novo
Sem medo
Te abraçar e beijar na pracinha
Feito dois adolescentes
Ardentes
Com sede incandescente
De apenas amar
Me espere
Seu eu não chegar
Te mando um sinal
Do lado de lá
A vida por um fio