ARTES VISUAIS
A curadora Érika Nascimento explica que este terceiro ato “a princípio habitaria o lugar de uma expectativa para um presente-futuro, e agora reforça o momento em que desejamos: antecipar o futuro, estabelecer rupturas, utopias e compartilhar sonhos”.
A exposição “Como habitar o presente? Ato 3 – Antecipar o futuro”, em cartaz até o dia 16 de janeiro de 2021, na galeria Simone Cadinelli, apresenta obras de 21 artistas em diferentes suportes e linguagens, como fotografia, vídeo, instalação, pintura e objetos.
Logo na entrada da exposição estará um letreiro luminoso da artista Leandra Espírito Santo com a frase “Eu só existo na terceira pessoa”. O final do percurso igualmente é sinalizado por outra frase: “Antes de cairmos, nos tornaremos o sol”, de Agrippina R. Manhattan. A curadora salienta que essas obras “abrem passagem para o questionamento sobre o nosso lugar de existência a partir de um ‘outro’, e também sobre o limiar para um abismo de nossa própria existência”.
“Ato 3 – Antecipar o futuro” traz a pintura inédita de Claudio Tobinaga “Akatombo-type 93” (2020), avião de guerra japonês nomeado a partir de uma canção tradicional de ninar, que descreve o voo de uma libélula vermelha, comum naquele país. O artista trabalha sobre a memória da família, “em meio ao caos ocasionado por um mundo em guerra”.
Na instalação “Lanterninhas Red Light, Sempre um Bom Filme” (2016), Caroline Valansi reúne objetos de sua pesquisa sobre o universo de cinemas e filmes pornográficos, e discute a lanterna, que ao mesmo tempo “ajudava os espectadores a encontrarem seus lugares, direcionava seus fachos de luz também aos que se comportassem indevidamente”. “É um buraco de fechadura, por onde podemos assistir, no escurinho, todas as formas de prazer que nos são tolhidas aos olhos e à luz da rua”.
Fernando Brum investiga em suas pinturas “a dinâmica da paisagem”. Em “Alvorada” (2020), e nas duas “Sem título” (2020), da série “Matéria”, em óleo sobre linho, e “Neblina” (2018), acrílica sobre tela, o artista conta que, “ao invés de apresentar uma realidade factual, uma ilusão é fabricada para conjurar os reinos da nossa imaginação”.
No conjunto “Limite” (2020), de Gilson Plano, objetos de latão e couro estão dobrados e suspensos por uma pequena lança de ferro cravada na parede. “É uma possibilidade de pensar a ideia de limites que se cruzam”, explica. “O trabalho lida com a materialidade da pele cortada e cravejada pelo metal como reflexão de um corpo diante de seus limites”.
A problemática feminina vista através de experiências pessoais, tendo o Rio de Janeiro como cenário, “ora belo e poético, ora violento e assustador”, é um tema presente no trabalho de Márcia Falcão, que na pintura “Tô com medo de tiro” (2020), em óleo sobre tela, discute o fato de que “quando se ouve tiros, não é claro de onde vêm e nem o motivo dos disparos”. “Embora a personagem esteja protegida pela coluna e barreira de caquinhos, tão comuns nos subúrbios cariocas, sua mente já foi perfurada pela arma de fogo e os brinquedos se misturam a ratos em confronto”, conta.
As relações humanas e raciais em conflito nos espaços urbanos estão presentes na pesquisa desenvolvida por Pedro Carneiro. A pintura “Laços Afetivos” (2019), tinta acrílica e jet dourado sobre tela, “ilustra o encontro de duas mulheres negras, sem mostrar seus rostos, cada uma olhando para lados opostos”. “Passado e futuro são ligados por um laço que cobre suas cabeças, ori. A ligação então nasce da ideia de um encontro afetivo entre elas”, diz.
O conjunto de duas fotografias – “Desdidática 1 e 5” (2018), impressão fine art sobre papel algodão CansonEditionEtching 310g – foi realizado por Rafael Adorján a partir “da descoberta de uma caixa repleta de antigos diapositivos”. “Resolvi intervir radicalmente no material, proveniente de um programa imagético-pedagógico adotado em salas de aula brasileiras no século passado”.
Simone Cupello investiga a “peculiaridade da matéria fotográfica ao mesmo tempo em que relaciona a produção de memória à temporalidade dos elementos naturais”. No objeto “Ásperos (fotos de palavras e outras)” (2019), casca de fotografias apropriadas, “sua forma e textura modular sugerem o ‘recorte’ de um corpo maior”. “As fotografias são vistas com crueza, película e papel. Enquanto imagens incompletas, se confundem e escapam ao menor movimento dos olhos”.
Na pintura “Entretanto” (2019), acrílica, óleo e carvão sobre tela, de Stella Margarita, “corpos, movimentos, figuras sem face definida, em ângulos, cortes e enquadramentos inusitados flutuam em espaço e tempo incertos como se desprovidos de chão e horizonte”, aponta a crítica Marisa Flórido.
No segundo andar da galeria estará o vídeo “@ilusão”, feito digitalmente e narrado por Vitória Cribb, que nos leva a “um looping de reflexão sobre os estados de êxtase, ânsia e solidão que nos acometem continuamente ao interagirmos com o outro e com o algoritmo”. As falas da artista pontuam expressões como “ciclicidade no consumo dos conteúdos digitais” e discutem uma “hierarquização sociovirtual”.
Além da exposição, a galeria apresenta a instalação “O Fantasma Chinês”, de Franklin Cassaro, em sua vitrine voltada para a Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema, 24 horas por dia.
Em “Como habitar o presente? Ato 3 – Antecipar o futuro”, o público verá os trabalhos dos artistas Agrade Camíz (Rio), Agrippina R. Manhattan (São Gonçalo, Estado do Rio), Caroline Valansi (Rio), Claudio Tobinaga (Rio), Denilson Baniwa (Mariuá, Amazonas), Efe Godoy (Sete Lagoas, Minas), Fernanda Sattamini (Rio), Fernando Brum (Rio), Franklin Cassaro (Rio), Gilson Plano (Goiânia), Isabela Sá Roriz (Rio), Jimson Vilela (Rio, vive em São Paulo), Leandra Espírito Santo (Rio, vive em São Paulo), Márcia Falcão (Cabo Frio, Estado do Rio), Pedro Carneiro (Rio), Rafael Adorján (Rio), Simone Cupello (Niterói, Rio de Janeiro), Stella Margarita (Treinta y Três Uruguai, radicada no Rio), Virgínia Di Lauro (Barra do Choça, Bahia, vive e trabalha em Porto Alegre), Vitória Cribb (Rio) e Yhuri Cruz (Rio).
O público poderá ver ainda pessoalmente os 29 vídeos dos 27 artistas que fizeram parte do Ato 1 e do Ato 2, exibidos de julho a setembro na vitrine da galeria, ainda fechada ao público na época, e em seu site. Assim, o Ato 3 engloba os três momentos, somando, ao todo, 62 obras, de 45 artistas.
A exposição também ganhou um tour virtual 3D, para que os amantes da arte possam ver os trabalhos remotamente, como se estivessem visitando o local.
Basta acessar o site https://www.simonecadinelli.com/.