Estação Central de Milão, se você der a volta, é como dar a volta ao mundo: muitos meninos africanos, muitas bicicletas, skates, alguns policiais, alguns militares, muitos táxis, alguns vendedores.

Hoje, perto dessa estação, em frente ao Memorial da Shoah, perto daquela plataforma de onde partiam os trens para os campos de concentração, um grupo de associações se reuniu e conseguiu realizar aquela síntese indispensável que une a história e o presente, as vergonhas do passado com as do presente, as feridas cicatrizadas e as que sangram.

Participaram da iniciativa, lançada pelo grupo “Portos abertos”, quase todas as organizações milanesas que trabalham de imigração e de direitos, que há anos nos lembram que os portos devem estar abertos, que tem pessoas morrendo no Mediterrâneo, que quem chega tem direitos e deve ser acolhido. Havia um coro precioso, “Vozes de mulheres”, que esquentava mais do que o sol quente que apareceu. Milão em várias ocasiões foi nomeada a cidade da hospitalidade, todavia há meses permitiu a abertura de um CPR (Centro de Permanência e Repatriação)[1].

Nestes dias estão chegando as notícias sobre a crise humanitária dos imigrantes na Bósnia, mas o verdadeiro escândalo é aquele que contamos na entrevista com Gianfranco Schiavone, que é o que se passa em Friuli, onde há meses vêm acontecendo verdadeiras rejeições ilegais. Foi noticiado, há dois dias, que um jovem paquistanês “rejeitado” ganhou o recurso e agora tem o direito de regressar à Itália.

Se entre a Turquia e a Itália, ao longo da rota dos Balcãs, acontece aquele “jogo” louco que obriga milhares de pessoas a violências desumanas e a viagens sem fim, chegou a hora gritar: “FIM DE JOGO”, chega, nunca mais!

Hoje, pelo menos 150 pessoas se reuniram, fisicamente bem distanciadas, mas nunca tão próximas e felizes em, pelo menos, se tocarem. Um mundo variegado que repetiu muitas vezes o quanto é importante permanecer unido, alargar o círculo, insistir até incidir. A Resistência nos ensinou que este caminho é longo e cansativo, mas nele sente-se a força de estar do lado da justiça e da razão.

Estamos na zona vermelha? Talvez na laranja amanhã? Um dia na amarela… mas podemos almejar ser, acima de tudo, uma zona livre de toda injustiça e de todo fascismo, seja antigo, seja novo.

Adesões:

Abba Vive

Audrey ANPI

Cambio Passo

Centro Sociale Cantiere

Coordinamento Collettivi Studenteschi

Dimensioni Diverse

Help Refugees

Libera Milano

Mai più Lager – No ai CPR

MEDITERRANEA SAVING HUMANS MILANO

Milano Senza Frontiere

Naga

Non una di meno

Porti Aperti Milano

Razzismo Brutta Storia

Rete Milano

Sms-Spazio di Mutuo Soccorso


[1] Os CPR são centros nos quais os imigrantes irregulares (sem documentos) são detidos para serem identificados e deportados ao país de origem. Várias organizações pedem seu fechamento, reclamando da permanência excessivamente longa dos imigrantes nas estruturas e denunciando as condições precárias das mesmas.


 

Traduzida do italiano por Cristiana Gotsis / Revisado por Stephany Vitelli