CONTO
Por C. Alfredo Soares
O homem gentil está sentado à beira da estrada de chão, que mais parece uma trilha com suas ondulações. Ele, sua barba rala, seu chapéu de feltro, seu sorriso sincero e sua pele de jambo, são gratos pelos frutos da terra que ara, planta, colhe e se alimenta.
Ali, a observar a natureza, sabe que tudo aquilo é dádiva da graça e do seu suor. Não se ufana por isso. Tem orgulho do que é, e fica contemplando a vida com um olhar de passarinho silvestre, livre, mas sabedor do seu lugar.
A todos que passam ele tira o chapéu e estende a mão firme e calejada pela lida. O gesto vem acompanhado de um bom dia sincero e sorridente. A prosa corre solta, por mais breve que seja. Fala com propriedade ao lado da sua enxada abridora de eitos e covas para as sementes da próxima colheita.
Num canto tem abacaxi, noutro aipim, mais acima de cana, no quintal as galinhas dividem o espaço com os cachorros.
A casa inacabada revela um celeiro de sua produção. Pede um instante e lá vem ele ofertar, gratuitamente, aquilo que colheu e, ao que parece, estava estocado à espera do próximo passante. É tão generoso que não trazer é uma desfeita. Me pergunto: — se fosse na minha casa teria algo a oferecer além de um café e uma água gelada?
Agradeço e vou me distanciando observando a plantação. Sinto o cheiro das mangas caídas no chão, depois dos abacaxis não colhidos e que se partem no pé debaixo de um sol escaldante. O vento nordeste sacode a folhagem das canas trazendo um pouco de ar fresco. Sigo pra cidade levando comigo a sensação de que ali, no meio da lavoura, cercado por pés de manga, gado, galinhas e com um olho d’água a lhe servir, ele realiza o sentido comoslogico da vida. Ele respeita a natureza, pois é um pedaço dela também.
Salve o homem generoso que fica no meio do caminho à espera do próximo afoito que precisa parar pra entender um pouco mais do sentido da vida. Ele não se dá conta, mas a oralidade, seus gestos e tradições os trouxeram até aqui.