Por Catarina Barbosa – Brasil de Fato | Belém (PA)
Intitulado “Barão do Rio Branco”, o “polo de desenvolvimento” prevê projetos em cima de terras indígenas
Salvando almas?
No dia 2 de fevereiro deste ano, o pastor evangélico Ricardo Lopes Dias foi nomeado para o cargo de Coordenação das políticas de isolados. Lopes é reconhecido por executar a missão de “levar a palavra” para os “não alcançados”.
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Apesar do Brasil ser um estado laico e os indígenas terem o direito de manifestar suas culturas e crenças, o missionário é denunciado por entidades indígenas e pelos próprios índios de continuar evangelizando as pessoas.
Lopes é ligado ao movimento Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), que desde 1950 evangeliza indígenas brasileiros e está com a nomeação em análise. No site da MNTB, eles dizem que estão presentes em mais de 40 etnias no Brasil, 2 países da África e 1 país da Ásia.
A entidade para a qual Ricardo Lopes Dias presta serviços, adquiriu ainda um helicóptero R66, que custa R$ 4 milhões, para facilitar o traslado dos missionários até as aldeias.
O MPF pediu a saída dele do cargo por incompatibilidade técnica e risco de retrocesso na política de não contato. Além de genocídio e etnocídio contra os povos indígenas. O processo está nas mãos da juíza titular Ivani Silva da Luz, da 6ª Vara da Justiça Federal em Brasília.
No entanto, em 27 de agosto, o indígena matsé, Jaime Mayoruna foi nomeado para exercer o cargo de Coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Jari, no Amazonas, onde consta o maior número de isolados do Brasil. O indígena foi contactado por Lopes Dias, em Palmeira do Javari, no Amazonas.
O funcionário ligado à Funai e Sesai conta que não é segredo que diversas etnias foram extintas na América como um todo devido ao avanço de doenças na Amazônia. Na TI Nhamundá, os não indígenas relatam a presença de muitos povos isolados, que geralmente são migrantes e o risco do contato é justamente pelo genocídio.
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“Essas pessoas são muito frágeis. Desde 1500 eles passam por uma onda de epidemias como essa que estamos vendo agora de coronavírus. Sob vários aspectos eles já viveram diversas vezes eventos que podemos chamar de “fim de mundo”, diz ele.
A atuação de evangelizadores levou organizações que atuam em defesa da causa indígena a apresentarem um relatório na Comissão de Direitos Humanos da ONU. O relatório aponta que o desmonte nas políticas ambientais do governo Bolsonaro são responsáveis por agravar a situação dos povos isolados e a Funai é o órgão com pior situação.
A violência contra os indígenas
Bolsonaro, desde a campanha, deixou claro que não teria compromisso com a preservação dos povos indígenas. Para o historiador Márcio Couto Henrique, doutor em história pela da Universidade Federal do Pará (UFPA), a nomeação de Lopes uma prova disso.
“A escolha que ele fez, de um evangélico na coordenação de índios isolados tem a ver com esse pensamento dele de que é necessário civilizar o índio. O discurso do Bolsonaro é um discurso totalmente atrasado, preconceituoso e é um discurso de violência contra as populações indígenas”, reforça.
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Couto destaca que o presidente está indo contra a própria constituição brasileira em suas ações.
“A constituição garante a esses grupos, que nós chamamos de isolados o direito de não manter contato e o Estado deveria garantir a proteção. Garantir a esses índios o direito que eles têm legalmente de fazer contato ou não, de fazer contato de bem quando fosse conveniente para eles, mas quando o Bolsonaro escolhe um evangélico para esse cargo tão importante, ele está sinalizando que esse cidadão vai colocar em prática essa perspectiva da evangelização, que vai ser uma verdadeira tragédia para os povos isolados do Brasil”, analisa.
Edição no Brasil de Fato por: Daniel Lamir