Por Mada Jurado

Um bispo espanhol denunciou o drama vivido por imigrantes nas Ilhas Canárias, e defendeu que “nós devemos tratá-los como pessoas, ajudá-los e recebê-los”.

Novos grupos que chegam são deixados “sem comida, bebida ou destino” após serem expulsos de um campo provisório pela polícia

O bispo de Tenerife, Bernardo Álvarez, falou para uma rádio espanhola no dia 18 de novembro, um dia após a políca ter expulsado 225 pessoas do porto de Arguineguín – um local superlotado e localizado na ilha Gran Canária.

Os imigrantes têm protestado contra as condições – qualificadas por um juiz como “desumanas” – encontradas no campo emergencial localizado no porto. Em grande parte, a denúncia se dá porque, em 2020, o número de pessoas chegando às Ilhas Canárias teve um aumento de 1.000% em relação a 2019, chegando a 16.700.

A polícia estava seguindo ordens do governo espanhol, que atualmente tem dificuldades para lidar com o alto número de imigrantes originários do norte da África, região localizada a apenas 100 quilômetros das Ilhas Canárias.

No entanto, os imigrantes expulsos do campo na terça-feira foram deixados “sem comida, bebida ou [um] destino para o qual pudessem ir”, afirmou um agente do governo local. Até mesmo uma associação da polícia local alertou que “imigrantes não podem ser jogados na rua sem acomodação ou alimentação”.

Embora as autoridades locais tenham posteriormente disponibilizado ônibus e levado os imigrantes abandonados para Las Palmas, capital da Gran Canária, a expulsão expôs pontos fracos nas políticas de imigração espanholas para as Ilhas Canárias – pontos esses que, de acordo com o bispo Álvarez, devem ser discutidos.

Temos um risco de crescente “anestesia”, mas “o amor e o respeito pelas pessoas deve estar acima de todo o resto”

Em sua entrevista, Álvarez lamentou o fato de que os imigrantes expulsos “simplesmente ficaram largados ali, por conta própria”, razão pela qual ele também agradeceu aos “vários” moradores do local que ajudaram, oferecendo água e lanches.

“Este é o problema da imigração – se as pessoas chegam aqui e ninguém toma nenhuma medida, seja para redistribuí-los [para outros países] no continente ou para enviá-los de volta para seus países, cria-se um tipo de gueto e arriscamos ter pessoas nas ruas, sem casa ou abrigo, o que gera instabilidade social”, alertou o bispo.

Álvarez também insistiu no fato de que, se os imigrantes “não cometeram nenhum crime, eles devem ser liberados”, e não mantidos em centros de detenção. Ele também suplicou aos ouvintes que “nós devemos tratá-los como pessoas, ajudá-los e recebê-los, pois o amor e o respeito pelas pessoas devem estar acima de tudo”.

 O bispo de Tenerife também lançou um alerta para o perigo da crescente “anestesia” no que se refere à difícil situação dos imigrantes. “Quando certos acontecimentos perduram por algum tempo, passamos a adotar uma atitude de indiferença, de cansaço, como se tudo isso fosse normal. Nós voltamos a cuidar das nossas vidas, nos acostumamos com a situação e nossos corações vão se endurecendo”, alertou.

O abade rejeitou a ideia de uma “invasão” de imigrantes, expressão que reflete um “plano de conquistar-nos”; além disso, lamentou que alguns setores da sociedade estejam incentivando o medo e espalhando fake news sobre os novos grupos que vêm chegando – atitudes essas “que não são lógicas ou respeitosas”.

– “Mãos à obra, para que ninguém se sinta marginalizado ou desprezado”

No dia 13 de novembro, Álvarez publicou, juntamente com José Mazuelos (bispo das Ilhas Canárias), uma carta pastoral sobre o drama vivido pelos imigrantes.

Dos 16.700 imigrantes que chegaram às ilhas até o momento, 5.500 chegaram só nas duas últimas semanas, e foram registradas, em 2020, pelo menos 493 mortes ocorridas no trajeto entre a África e o arquipélago.

Esses números tornam a rota das Ilhas Canárias ainda mais perigosa para imigrantes do que a via pelo Mediterrâneo, saindo da Líbia para Malta e Itália – um trajeto mais bem conhecido.

Em sua carta pastoral, Mazuelos e Álvarez fizeram um emocionado apelo aos políticos e cidadãos espanhóis, para que “ponham mãos à obra, para que ninguém se sinta marginalizado ou desprezado, e para que todos tenham a acolhida, a atenção e o respeito que merecem como seres humanos”.

Temos um risco de crescente “anestesia”, mas “o amor e o respeito pelas pessoas deve estar acima de todo o resto”

Em sua entrevista, Álvarez lamentou o fato de que os imigrantes expulsos “simplesmente ficaram largados ali, por conta própria”, razão pela qual ele também agradeceu aos “vários” moradores do local que ajudaram, oferecendo água e lanches.

“Este é o problema da imigração – se as pessoas chegam aqui e ninguém toma nenhuma medida, seja para redistribuí-los [para outros países] no continente ou para enviá-los de volta para seus países, cria-se um tipo de gueto e arriscamos ter pessoas nas ruas, sem casa ou abrigo, o que gera instabilidade social”, alertou o bispo.

Álvarez também insistiu no fato de que, se os imigrantes “não cometeram nenhum crime, eles devem ser liberados”, e não mantidos em centros de detenção. Ele também suplicou aos ouvintes que “nós devemos tratá-los como pessoas, ajudá-los e recebê-los, pois o amor e o respeito pelas pessoas devem estar acima de tudo”.

 O bispo de Tenerife também lançou um alerta para o perigo da crescente “anestesia” no que se refere à difícil situação dos imigrantes. “Quando certos acontecimentos perduram por algum tempo, passamos a adotar uma atitude de indiferença, de cansaço, como se tudo isso fosse normal. Nós voltamos a cuidar das nossas vidas, nos acostumamos com a situação e nossos corações vão se endurecendo”, alertou.

O abade rejeitou a ideia de uma “invasão” de imigrantes, expressão que reflete um “plano de conquistar-nos”; além disso, lamentou que alguns setores da sociedade estejam incentivando o medo e espalhando fake news sobre os novos grupos que vêm chegando – atitudes essas “que não são lógicas ou respeitosas”.


– “Mãos à obra, para que ninguém se sinta marginalizado ou desprezado”

No dia 13 de novembro, Álvarez publicou, juntamente com José Mazuelos (bispo das Ilhas Canárias), uma carta pastoral sobre o drama vivido pelos imigrantes.

Dos 16.700 imigrantes que chegaram às ilhas até o momento, 5.500 chegaram só nas duas últimas semanas, e foram registradas, em 2020, pelo menos 493 mortes ocorridas no trajeto entre a África e o arquipélago.

Esses números tornam a rota das Ilhas Canárias ainda mais perigosa para imigrantes do que a via pelo Mediterrâneo, saindo da Líbia para Malta e Itália – um trajeto mais bem conhecido.

Em sua carta pastoral, Mazuelos e Álvarez fizeram um emocionado apelo aos políticos e cidadãos espanhóis, para que “ponham mãos à obra, para que ninguém se sinta marginalizado ou desprezado, e para que todos tenham a acolhida, a atenção e o respeito que merecem como seres humanos”.


Traduzido do inglês por Thaís Ribeiro Bueno

O artigo original pode ser visto aquí