CRÔNICA
Por Daniel Vila-Nova
O tango é tão tom. Esse é o som do futebol da “Criança de Ouro”. “El Pibe de Oro” dançava assim… “Diego de la Gente”: o Diego do Povo viveu e morreu como mais um do povo.
“Apenas um jogador de futebol”: mais jogador que atleta? Sim, “sino, mucho más artista que mero jugador”.
Um artista. Talvez, um poeta a escrever, com a canhota, as linhas tão tortas que só o angelical costuma ousar.
É dos pés de Dieguito que conheci a derrota mais dolorosa da Canária. O que foi o tal 7 a 1, diante do passe magistral para Caniggia…? Diego driblou 3 brasileiros. Três que valiam mais que os Seis de Oitenta e Seis. O anjo “quase caído”, e com a perna direita (de quebra), passa…
Silêncio & Choro.
Brasileiro, que sou: só sou capaz de ler o futebol pelo idioma do samba, da cachaça e do chorinho.
Se argentino fosse (e, talvez, por um instante ao menos), quem não gostaria de viver pelo desejo de “um último tango”?
A sensação, Caro Astor, é de “Oblivion”… Maradona não morreu. Recuso-me a aceitar.
O Canhoto, de Esquerda, não cai no esquecimento jamais.
“La mano de Diós” é a mão esquerda. Foi daquele pé esquerdo. Daquele homem, daquele singelo jogador, que a “Milonga Del Angel” se fez verbo.
Ali, Garrincha & Pelé se entrecruzaram: a ginga de Mané, a decisividade de Édson.
Naquele quando, os ingleses perceberam que a chama já havia sido roubada eternamente. Perdoem-me os Enzos… É preciso aceitar.
Diego foi jogador da “Albiceleste” e de clubes (sim, com “s” de plural). Campeão nacional com Boca, com Barça e com Napoli, Dieguito mostrou que seu futebol não cabia numa mera camisa de clube.
Em 1986, Diego vingou a Canária de 1982. O futebol-arte há de ter o seu lugar inalienável no panteão dos deuses.
¿Diós? Jamais. Um homem comum. Falível, suscetível a todos os erros e idealismos.
O futebol de Maradona é como o voo de Ícaro. Apaixonante como ver o tango. Diego e “la pelota” são um Casal dançante inesquecível.
A Gente se comove feito o diabo sempre que um coração-esquerdo para de bater.
Canhoto, na alma e no corpo, Diego não merece um “oito deitado”. Não.
O infinito é pouco.
¡Un Diez!
¡Sí!
¡Por supuesto!
Diego é a “Camisa Diez”, traduzida, no meu parco “brasileirês” como: “Craque-Soerguido”, apesar das cambalhotas que a vida dá.
Dieguito, na afetividade das minhas torcidas, é a simbiose de Pelé com Zico.
É o abraço do Futebol Maior em Hipérbole: a América do Sul, Libertadora, é o Continente do Futebol-Arte!
¡Hásta la Victória, Siempre!