Poucos dias antes da evacuação do campo de Pikpa, uma das residentes, Mina, escreveu uma carta que foi publicada no Facebook. A carta foi traduzida do idioma farsi para o inglês, com a ajuda da professora de Mina (uma voluntária do campo que deu aulas de inglês on-line para Mina, durante sua permanência em Pikpa).

 

“Sou um sonho livre, nós andamos e nos cheiramos, tenho um lugar na planície, penso como um cervo.

Eu sou Mina. Venho dum país devastado pela guerra, o Afeganistão. Deixei o Afeganistão há 4 anos e meio por vários motivos. Um dos motivos era a liberdade. Eu queria ser uma mulher, não uma escrava. Durante três anos estive no Irã, onde fui privada dos meus direitos humanos.

E agora, há um ano e dois meses, vivo em um limbo, na Grécia, que é a maior prisão para refugiados. Um limbo que não é destino, nem ponto de partida. Isso significa que não posso sair, mas também não posso ficar.

A Grécia é um país com belas ilhas, mas o mar se tornou o maior cemitério de refugiados. Eu também atravessei aquele mar, e fui resgatada pela Guarda Costeira de última hora, pouco antes da minha morte.

Cada um de nós, refugiados, leva consigo uma dor infinita. Existem histórias no nosso sorriso, nos nossos olhos. Há esperança e um futuro desconhecido. Fotografamos nossas lágrimas e nossos sorrisos juntos, e emolduramos essa foto em nossos olhos.

Sou uma mulher que fugiu da opressão, da guerra, da insegurança, do estupro, e que se refugiou na Europa. Morei em acampamentos. Morei no limbo, um dos lugares mais horríveis do mundo, com o frio do inverno e o calor do verão.

Porque eu era uma refugiada, porque eu não tinha um papel chamado “visto”. Mas mesmo sem um pedaço de papel, continuo sendo um ser humano. Eu sou Mina, uma mulher, uma mulher cujo mundo e universo dão a força para continuar vivendo.

Agora eu moro em um campo que é um paraíso, se comparado com os outros onde já morei. A população é pequena, a dignidade humana, a segurança e os direitos das mulheres são preservados, mas o governo decidiu fechar este campo.

Espero que todos os refugiados, especialmente as mulheres oprimidas, sejam libertados desta prisão.”

Autor: Mina


Traduzido do italiano por Cristiana Gotsis / Revisado por Stephany Vitelli