Por Eduardo Alves e Lillian Bento

 

Hoje é o dia em que o mundo saberá o nome do novo (ou velho, é verdade) presidente do imperialismo decadente que ainda se sobrepõe ao mundo. Biden e Trump disputam a vaga de principal chefe e condutor do Estado que ainda impera sobre o mundo e organiza as principais fontes estruturais do capitalismo. Para quaisquer expressões de curva menos à direita a derrota de Trump é necessária, histórica e o principal acontecimento desse tempo “covidiano”.

Basta a afirmação de Cornel West[1], em entrevista concedida ao podcast A World to Win, a Grace Blakeley, para unificar uma multidão de pessoas que querem viver e ter acesso ao básico da dignidade. Ele disse: “Agora, acredito que com Biden, o que teremos é alguém que pode impedir o movimento acelerado em direção ao fascismo norte-americano. Isso é muito importante”.

Eis o que já é suficiente para haver uma unidade ampla, consistente e múltipla para derrotar a pior faceta do decadente imperialismo norte-americano no mundo. Não se trata de resistência, também não se trata de avançar para superações, se trata de algo muito importante na política: barrar o movimento destrutivo que impera no mundo.

E é possível, sim, chamar do que quiser e concentrar a crítica e a oposição em quaisquer análises sustentadas pela estrutura capitalista ou pela superestrutura ideológica que predomina no mundo com seus tentáculos jurídicos, conservadores, autoritários ou controladores. Seja como for, uma unidade, ainda que momentânea e pontual, pode trazer energia para unidades perenes que tanto precisamos para levantar a cortina a favor da vida.

Este breve artigo, escrito no Brasil, emana energia de uma esperança – que não espera e sabe que a organização e a inteligência coletiva podem fazer acontecer.  Sim, a derrota de Donald Trump nos Estados Unidos da América pode avolumar as condições para que a cidade do Rio de Janeiro não tenha o atual prefeito no segundo turno.

Que São Paulo tenha Guilherme Boulos (PSOL) disputando o segundo turno. Que Porto Alegre consolide a vitória de Manuela D’Ávila (PCdoB). Em cada um desses locais haverá, e com unidade podemos fazer acontecer, siglas partidárias distintas, diferentes apostas em defesa da vida.

Diversidade de projetos para defender, avançar e qualificar a vida. No tempo atual, em que o mundo padece com mais de 1,2 milhões de mortes por COVID-19. Em que o Brasil chora os mais de 160 mil óbitos já registrados, nosso lamento precisa da energia da potência humana construtiva.

Já há o predomínio de energias destrutivas na cultura, na política e na convivência social. Nós precisamos inverter esse vetor de doenças, mortes e dominação que predomina na humanidade neste sombrio 2020.

Não estamos falando de consenso. Muito menos de um projeto único, unificado em todas as letras. Estamos falando da unidade necessária e fundamental para que a vida ganhe energia e transforme o dia de hoje em mais que um amontoado de horas. Transforme esse 03 de novembro no dia da derrota de Donald Trump!

Não há dúvidas que seria um acontecimento que carrega em si o peso das transformações históricas. Assim, também o seria se, ao menos em cada capital de unidade federativa, todas a siglas partidárias que são influenciadas pela defesa dos direitos humanos e da vida se unificassem aqui no Brasil para que esse sentido de defesa da humanidade ganhasse terreno. E a unidade, com generosidade, faz todo o sentido para impedir o desenlace veloz da necropolítica – em todos os seus sentidos e significados.

É preciso que essa ideia de unidade ganhe força no Brasil. Seja para apoiar Edimilson Rodrigues (PSOL), em Belém ou mesmo para impedir que no Rio de Janeiro o atual prefeito siga para o segundo turno, precisamos dessa unidade de esquerda. No mínimo, ganharíamos fôlego para que a vida e a inteligência coletiva estivessem novamente acima das siglas partidárias, das pessoas ou dos interesses particulares.

Estamos falando de priorizar, verdadeiramente, o coletivo, a vida e a dignidade das pessoas, nos Estados Unidos ou no Brasil. A vida está acima dos interesses particulares em qualquer canto do mundo.

Essa é uma qualificada e necessária unidade nesse nosso tempo. Para além de 03 e 15 de novembro de 2020, é preciso pensar a transformação da esperança em possibilidade real construída por sujeitas e sujeitos de nosso tempo. Essa multidão que vive da venda da força de trabalho, pode sim apontar junto para o potencial de criação e fortalecimento da vida.

Afinal essa esteira pode inclusive reforçar  um direito humano universal, incondicional e necessário para o nosso tempo: o da RENDA BÁSICA INCONDICIONAL E UNIVERSAL. O direito a dignidade básica desde o nascimento. Isso, sim, é direito à vida!  Mas isso é assunto para outro artigo, que em breve publicaremos.

Lembremos do dia de hoje, desse 03 de novembro para ser mais que o dia de hoje, para ser um dia de transformação de paradigmas. O dia que trazer o frescor das brisas do humanismo para o nosso 15 de novembro no Brasil.

Afinal, para superar o capitalismo é necessária muita unidade, fazendo que a flor de lótus vigore na potência criativa com a inteligência coletiva e com a multidão assumindo o lugar de sujeitas e sujeitos. O fortalecimento da vida será um forte mar para superarmos o capitalismo e isso faremos juntos e unificados com toda a diversidade criativa que há nas singularidades humanas. Com unidade podemos, sim, mudar a nossa história. De hoje a 15!


[1] Cornel West é o mais importante filósofo e militante socialista negro hoje nos EUA.  Professor e pesquisador da Harvard Divinity School, começou sua vida política nas revoltas dos movimentos pelos Direitos Civis – passando de cristão radical para um socialista e aliado do Partido dos Panteras Negras.

 

Ilustração de  Carlos Contente