A coligação de esquerda do Frente Amplio se afirmou nos departamentos de Montevidéu e Canelones, que concentram a maioria da população do país, elegendo os prefeitos das duas cidades. Apesar de ter perdido 3 dos 6 governos departamentais, o Frente Amplio confirma o objetivo mais relevante, ou seja, Montevidéu (um terço da população de todo o Uruguai), onde vence ininterruptamente há trinta anos. A vitória na capital foi delineada claramente, com 52,5% dos votos e Carolina Cosse foi eleita a nova prefeita.
Da varanda da sede do Partido, Cosse anunciou que visitará o primeiro prefeito de Montevidéu que seu partido elegeu em 1989, o ex-presidente Tabaré Vázquez, para lhe pedir conselhos.
Na vizinha Canelones, outro candidato do Frente Amplio Yamandú Orsi ganhou com 51,8% e sua celebração com os militantes locais contou com a presença do ex-presidente José Mujica, que em poucas palavras destacou que “agora, vem outra geração “.
O Frente Amplio também manteve a região norte de Salto, que reelegeu Andrés Lima derrotando os candidatos rivais da direita do Partido Nacional e do Partido Colorado.
Em 2019, após 15 anos de governo socialista no Uruguai, veio a vitória do Partido Nacional, facção nacionalista e liberal-conservadora de inspiração cristã, que entregou o governo nas mãos de Luis Alberto Lacalle Pou. Depois do pai de Lacalle e de outros mandatos de presidentes do Partido Colorado (este, também, liberal conservador), em 2004, pela primeira vez, o Frente Amplio venceu, reconfirmando a vitória ininterrupta, durante 15 anos, com os mandatos de Vázquez, de Pepe Mujica (cuja política se tornou um símbolo no mundo inteiro) e, novamente, Vázquez. Os governos socialistas promoveram leis para fortalecer os direitos sociais e civis, não é por acaso que a gestão da economia tem sido positiva e caracterizada pelo crescimento econômico, com a taxa de desemprego em 9% e o déficit orçamentário em 4,8% do PIB em 2018. Ao mesmo tempo, foram promulgadas reformas para introduzir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a descriminalização do aborto e a legalização do comércio de cannabis que introduziu até um registro do consumidor. No entanto, a percepção de “criminalidade generalizada” teve um peso considerável e foi usada como retórica pelo candidato de direita Luis Alberto Lacalle Pou durante a campanha eleitoral.
Nessa circunstância, Lacalle Pou havia chegado, mais rapidamente, a um acordo com dois outros candidatos de centro e centro-direita, conseguindo assim convencer mais facilmente os indecisos. Para ganhar, reuniu uma coalizão compósita, a Coalición Multicolor, à qual aderiram cinco partidos, incluindo o Partido Nacional (também chamado de Partido Blanco) e o Partido Colorado de Ernesto Talvi e do ex-presidente Julio Maria Sanguinetti (o último chefe de estado considerado “burguês” antes do advento do Frente Amplio). Para o Frente Amplio, a de novembro do ano passado foi a primeira derrota após 15 anos de contínua confirmação ao governo. Hoje, porém, quem recebeu um duro golpe foi o governo de direita que, com suas medidas neoliberais na política interna e pró-atlantistas na política externa, vê agora uma onda de consensos para a esquerda progressista, muito enraizada na estrutura de valores da população.
Neste dia de comemoração do partido, seu expoente de maior prestígio, o ex-presidente uruguaio José Mujica, antecipou que deixará sua cadeira no Senado e se retirará da política por problemas de saúde. Uma afirmação que certamente afetará positivamente a população, dada a fama que tem e a gratidão que ainda recebe. José Pepe Mujica, o “Presidente sem gravata” ou o “Presidente mais pobre do mundo” passou a vida lutando contra as injustiças: do Movimento de Libertação Nacional dos anos sessenta, à guerrilha revolucionária, à prisão em um poço durante 13 anos, até ser eleito deputado, senador e finalmente presidente em 2009. Foi com ele que o Uruguai viu reformas em termos de direitos civis e, novamente com ele, de 2004 a 2013 o desemprego passou de 13% para 7%, a taxa nacional de pobreza de 40% para 11% e o salário mínimo foi aumentado de 250%. No seu discurso de despedida disse: “Amo a política e não quero ir embora, mas amo mais a vida e, como estou prestes a partir, procuro prolongar os minutos que me restam” – disse à imprensa com um sorriso – “Retiro-me devido à minha idade, porque tenho uma doença imunológica crônica. É lógico que a política obriga a ter relações sociais, mas agora eu não poderia ir de um lado para o outro, seria um mau senador. Infelizmente agora tenho que me cuidar ”.
Traduzido do italiano por Cristiana Gotsis