Seriam as eleições municipais uma esperança para contrabalancear a situação política que o Brasil atravessa, sobretudo a partir da ascensão da extrema direita à Presidência da República? Podemos ter esperança de eleger candidatos e candidas que ajudem a equilibrar a balança do poder, fazendo uma oposição sistemática ao desmantelamento do país promovido pelo atual governo nacional?
No atual cenário político que atravessa o mundo, a América Latina e o Brasil em particular, com o crescimento da onda extremista que corrói os processos democráticos e intensifica cada vez mais as políticas pública com o discurso de meritocracia e Estado mínimo, a vitória dos grupos progressistas nas eleições municipais 2020 no território brasileiro seria uma grande vitória.
No entanto, quando observamos os registros das candidaturas nas páginas web dos Tribunais regionais eleitorais de cada estado, nos cai “um balde de água fria” ao vermos como, em todas as regiões do País, siglas progressistas como Partido Verde (PV), Partido Comunista do Brasil (PC do B), Partido Socialista Brasileiro (PSB) e Partido Democrático Trabalhista (PDT) estão coligados com agremiações cujos programas distoam completamente das concepções progressistas.
Nas capitais de quase todos os estados brasileoros é possível encontrar registros de coligações que eu chamaria, no mínimo, de decepcionantes. Como é o caso do Rio de Janeiro, onde o Partido Verde (PV) compõe a coligação “A certeza de um Rio melhor”. Liderada pelo ex-prefeito Eduardo Paes, filiado ao Democratas (DEM), essa coligação abriga também o Partido Liberal (PL), o Democracia Cristã (DC), entre outros, cujas ideologias passam muito longe daquilo que apregoa o programa do PV, como por exemplo, conrole dos fluxos da especulação financeira internacional e o aprofundamento das desigualdades na relação norte‐sul; luta contra a exclusão, o desemprego, as injustiças sociais e as ameaças
ambientais em escala planetária.
Na capital baiana, Salvador, o PV está unido com o DEM, mas também com o Partido Social Liberal (PSL), o mesmo que elegeu o presidente de extrema-direita que atualmente governa o país. E não são apenas “os verdes” que sucumbiram as essa coligação esdrúxula chamada “Salvador não pode parar”: o Partido Democrata Trabalhista (PDT) também está nessa. O grande líder nacional deste partido, Leonel Brizola, se estivesse vivo, jamais aceitaria tal acinte. O PDT, que em sua ideologia apregoa a defesa dos direitos das crianças, das mulheres, dos trabalhadores, a luta antirracista, entre outras bandeiras progressistas, mancha sua identidade quando se alia ao partidos da extrema-direita, assim como a outros, como Partido Liberal (PL), Movimento Democrático Brasileiro (MDB), cujas ideologias vão na contramão daquilo que está em seu programa.
E a lista segue, porque na capital paranaense, Curitiba, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) também se misturou com siglas que atuam em direção contrária àquilo que defende. Por exemplo, como consta em sua própria página web, “No Congresso Nacional, o PSB apoiou o governo Lula, mas manteve fidelidade ao seu programa. Não aceitou proposta do governo de reforma da Previdência e defendeu o modelo de aposentadoria complementar pública e não privada”. Agora, no entanto, com essa coligação “Curitiba inteligente e vibrantes”, juntou-se aos Democratas, ao Patriota e ao Partido Poplar (PP), os quas, por exmeplo, apoiaram a Reforma da Previdência, uma das medidas mais nocivas aprovadas pelo Congresso Nacional nos últimos anos.
Outra grande decepção para as próximas eleições municipais diz respeito ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) que, juntamente com o PSB, na capital do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, aliou-se ao Partido Social Cristão (PSC), ao Partido Popular (PP) ao DEM, entre outros, na coligação “Avançar é fazer mais”.
O que dizer, ou melhor, o que esperar diante desse cenário? O que quero trazer como reflexão é que não dá para se dizer de equerda e se juntar com a direita, ou ainda pior, com extremistas de direita. Isso enfraquece as bandeiras progressistas e, por vezes, gera desesperança em muitas pessoa que deixam de acreditar na política, porque essas atitudes reforçam o discurso de que “todos são iguais”. E sabemos que não é assim, porque há candidaturas de esquerda que mantiveram coerência, como as do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).