A humanidade tem que ter compromisso com a Amazônia, usando os conhecimentos dos povos indígenas

 

Em pleno século XXI “existe dezenas de trilhões de dólares destinados à destruição da Amazônia e muito poucos dólares destinados a salvá-la”. Essas palavras são de José Gregório Mirabal, coordenador geral das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica), entidade de reúne várias organizações de todos os países que formam a região amazônica, durante a reunião magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC), realizada esta semana, de modo virtual.

Para Maria Fernanda Garcés, que atuou como representante permanente do Equador junto às Nações Unidas, assim como ministra de Relações Exteriores e de Defesa do mesmo país, “é preciso considerar a diversidade e complexidade da próprios da Bacia Amazônica, a fim de que se possa trabalhar de modo utilizar de modo repseito os recursos que ali existem”.

Ainda de acordo com Garcés, alguns fatores caracteerizam a região amazônica como colônia, entre eles a exploração desenfreada dos recursos ilimitados (madeira, petróleo, ouro, recursos genéticos, entre outros), sem considerar a existência dos povos que ali vivem; assim como a imposição dos sistemas de conhecimentos ocidentais, que historicamente sufocam uma epistemologia específica que reflete a diversidade e complexidade daquele bioma.

José Gregorio Mirabal, que através da Coica representa um total de 511 nações indígenas, chamou a atenção para a necessidade de percebermos a situação grave da região amazônica, ao tempo em que destacou o reconhecimento por parte das Nações Unidas acerca do próprio fracasso no tocante à contenção da perda do mundo natural. “A realidade é muito triste e muito dura”, ressaltou.

O fato é que o lugar mais biodiverso do Planete está sob ameaça há muito tempo. No entanto, de acordo com Carlos Nobre, membro da ABC, coordenador do Instituto nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas e presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáricas, ainda há possibilidades de recuperação. “A Amazônia está muito próxima de um não-retorno, mas há solução, ou seja, retornarmos “à maneira como historicamente os indígenas se relacionavam com a floresta antes dos processos predatórios”.

Nobre criticou o discurso historicamente construído, que nega o valor econômico dos recursos naturais como açaí, castanhas e outros, e defende a remoção da floresta como forma de reduzir a pobreza. Conformem ressaltou, é o discurso que “encontra o reforço do ministro do Meio Ambiente”,

“Os povos da Amazônia mantiveram a floresta, mantiveram os recursos ecológicos, inclusive os micro-organismos. E também aumentaram a variedade de espécies, como mandioca, cacau, entre outras”. De acordo com o cientista, é preciso colocarmos a indústria 4.0 no papel de aliada desses conhecimentos das populações amazônicas, a fim de salvá-las. “E quem deve tomar a frente dessa tarefa são as populações que compõem a Bacia Amazônica. Nós devemos isso à humanidade”.