DICA DE FILME

 

 

Martin Eden
(2020, Drama) 1h 29min
Direção: Pietro Marcello
Elenco: Luca Marinelli, Jessica Cressy, Vincenzo Nemolato
País: Itália,, França e Alemanha
Classificação: 14 anos

O filme está disponível na Netflix

Um dos aspectos do cinema que mais me fascina é sua capacidade em oferecer referenciais de culturas mais diversas e conectá-las ao nosso cotidiano, permitindo ao espectador organizar melhor suas ideias a respeito de determinado tema e ampliando seu repertório para que a exposição de seu pensamento seja feita de forma mais coerente. Talvez eu seja um pouco idealista mesmo, mas o filme Martin Eden (2019), do diretor italiano Pietro Marcello, chega a ser bem pedagógico para entendermos um pouco a respeito do comportamento político dos brasileiros na atualidade.

Temos como pano de fundo a construção e perpetuação do pensamento fascista na Itália dos anos 1930, apresentando uma sociedade dividida entre cidadãos que viam no Socialismo uma possível saída para a emancipação da classe trabalhadora e os outros que temiam o Socialismo e lançavam mão de argumentos morais no intuito de aniquilá-lo.

Quando ressalto o caráter didático desta obra para os brasileiros, não estou a comparar essa dicotomia existente nas duas sociedades em questão. Mas, sim, ao comportamento pendular do protagonista Martin em transitar por esses dois mundos tão antagônicos, buscando um entendimento a partir de sua pouca instrução e limitada consciência política. Devido a uma série de acontecimentos em sua vida, Martin percebe o quanto precisa de conhecimento para compreender a dinâmica do mundo social que está inserido, e esse contato com os livros, despertará no jovem a necessidade de também escrever sobre todas as mazelas que afligem a classe trabalhadora. Após finalmente ganhar dinheiro com seus escritos, Martin é nos apresentado fisicamente bem diferente, cabelos mais longos e leves, vestindo ternos mais claros, e seu comportamento mais polido conforme os moldes da sociedade burguesa da época. Neste seu empreendimento em se tornar um escritor, acabou caindo nas armadilhas da classe dominante e se tornando o típico intelectual que vocifera suas teorias libertárias sobre o mundo social de forma desarticulada com os problemas da atualidade e silenciando possíveis críticas vindas até mesmo das classes mais baixas.

Não sei se esse “caindo nas armadilhas da classe dominante” tenha sido de forma tão ingênua. E é aqui onde fica pra lá de oportuna uma reflexão para os que ascenderam socialmente graças ao poder emancipatório da Educação. Em um evento da campanha política do candidato à presidência da república Fernando Haddad em 23 de outubro de 2018, o rapper Mano Brown disse uma frase muito emblemática para entendermos a tônica deste filme: “O PT não conseguiu falar a língua do povo, tem que perder mesmo! Se não sabe, volta pra base e vai procurar entender!”

Quanto mais intelectualizados, nossa linguagem se apresenta mais truncada e permeada de cifras e símbolos que não atingem mais nem mesmo aqueles companheiros do meio em que viemos. E assim como Martin Eden, nossa argumentação política está repleta de palavrões de difícil entendimento ao grande público e de farta acusação de imbecialização da sociedade. “Volta pra base e vai procurar entender!” Irônico, não é?

Texto escrito pelo colaborador Heitor Benjamim

Sinopse

Martin Eden (Luca Marinelli) é um jovem escritor de baixa renda que entra em conflito com a burguesia. Encarando um novo mundo, ele se apaixona e descobre como escritores são vistos em uma sociedade aristocrática. Se sentindo deslocado de tudo que faz parte de sua essência, o rapaz percebe que não há como voltar para o que costumava ser. Enquanto tenta publicar alguma obra de grande sucesso, Martin se questiona sobre o mercado literário, a sociedade e sua própria natureza como criador.