Introdução (por Paolo D’Aprile)
O complexo panorama político italiano é caracterizado pela presença de dois grandes blocos, o primeiro, cambaleante dono da situação, composto pelo Partido Democrático e o Movimento 5 Estrelas: um centro-esquerda em eterna diluição, dividido entre o populismo da anti-política do Movimento e uma espécie de “centrão” com tendências socialdemocratas.
O segundo bloco reúne a direita: o partido do Berlusconi, Forza Italia; a Lega Nord de Matteo Salvini, ligada ao movimento nacional-populista internacional, a Steve Bannon, a Marie Le Pen, e ao primeiro ministro da Hungria Viktor Orbán; e Fratelli D’Italia, liderado por Giorgia Meloni.
Alguns dias atrás, o povo italiano de sete regiões votou para escolher seus governadores. Contemporaneamente, em todo o território nacional, votava-se um referendo que propunha o corte do número dos parlamentares (deputados e senadores). Por toda a campanha eleitoral, foi colocado como fundamental o problema do custo da política, e de quanto o Estado poderia economizar. Venceu o Sim. Setenta por cento dos eleitores decidiram que a presumida economia vale mais que a representatividade. Os 600 deputados serão agora 400. Os senadores serão reduzidos de 315 a 200. Se antes havia um deputado por 96 habitantes, de agora em diante será um deputado para 151 mil. E ao invés de um senador por 188 mil pessoas, termos um para cada 302 mil. Alguém já fez o cálculo: a economia corresponde ao valor de um café para cada italiano durante o período de um ano. Um café.
A seguir, Olivier Turquet, resume a situação italiana.
As eleições italianas (um referendum, eleições regionais) como sempre acontece, subverteram as previsões das pesquisas que viam vitórias avassaladoras do centro-direita contra o governo nacional.
Aconteceu exatamente o contrário: apesar da evidente vontade irracional, voltada para uma reforma constitucional incompleta, que cortasse de um vez, sem outro tipo de ajuste, o número dos parlamentares, sem ulteriores correções de qualquer tipo, o SIM à reforma passou por grande maioria, mais como um SIM à coalizão de governo entre o Partido Democrático e o Movimento 5 Estrelas, que uma aprovação da própria reforma; é fácil notar como nas várias regiões onde o governador se recandidatou, o mesmo conseguiu se eleger; pessoas muito diferentes entre si, mas unidas por uma gestão da pandemia muito firme e concreta: Zaia, da Liga, com sua imagem de homem de mangas arregaçadas, permanentemente sob os holofotes, que conseguiu vencer a Covid com medidas inteligentes, bate o recorde de aprovação (além do 70%); Emiliano, do Partido Democrático, que no início da pandemia bloqueou, na estação de Bari, os trens vindos de Milão e colocou em quarentena os milaneses que fugiam do epicentro da pandemia; De Luca, extrovertido adversário do chefe da Lega, Matteo Salvini, que usou o punho de ferro para afastar o vírus de sua região, que todos achavam muito vulnerável; Toti, Forza Itália, personagem central na reconstrução de Genova depois da queda da Ponte Morandi. Todas personagens midiáticas capazes de tranquilizar o italiano médio, definitivamente estressado pela pandemia. E também Giani, do Partido Democrático, novo candidato que conseguiu manter na Toscana a histórica hegemonia da esquerda, apresentou-se como expressão da continuidade com o lema clássico do “voto útil contra direita”.
Havia mesmo de ganhar o voto de protesto? Salvini, chefe da Lega Nord (que de forma muito esperta tirou o nome “Nord”- Norte dos jornais mas não do símbolo oficial) fez de tudo para exercer o papel de “homem-contra-a-velha-política”, mas com pífio resultado, foi ultrapassado pela direita da Giorgia Meloni, mulher passional e competente, que provavelmente tomará o lugar de líder das futuras coalizões de direita. O Movimento 5 Estrelas, vencedor do último pleito eleitoral cavalgando a onda do protesto geral, são agora fortemente redimensionados por ter conseguido ficar no governo nacional seja com a Lega que, sucessivamente com o Partido Democrático.
A campanha foi caracterizada cada vez mais por aspectos midiáticos: as ideologias e os programas ficaram no escanteio, muito longe do debate.
Também a afluência bastante alta às urnas, apesar das precauções sanitárias e um certo medo subterrâneo, parecem nos dizer que as pessoas querem normalidade.
E a ecologia, o pacifismo, os não violentos, a esquerda radical, os defensores dos direitos humanos? Há um outro mundo, por enquanto certamente minoritário, que não expressa uma posição política por não se reconhecer na forma radical do fazer político; suas posições se expressam com instâncias eleitorais improvisadas, seja nas formações ecologistas ou de inspiração socialista e comunista, ou nos movimentos mais novos e menos identificáveis; essas forças que provavelmente poderiam se unir em uma “Aliança pelo Bem Comum”, se apresentam às eleições de forma desunida e dispersa, tendo assim pouco o nada do espaço midiático e, geralmente, não conseguem ganhar mais que alguma cadeira de vereador.
Mas até que não aprendam a dialogar para se dar novas formas organizativas, vão ter um papel totalmente marginal, quase anedótico, nos debates eleitorais televisivos, transmitidos em horários impossíveis e cada vez mais ignorados.
Com certeza existe aquela que uma vez se chamava “sociedade civil”, que se interroga sobre a mudança necessária, capaz de enxergar a crise climática e suas consequências, que percebe o sofrimento profundo dos povos e o desejo de novas soluções, que se preocupa com o avanço do autoritarismo. É provável que de lá mesmo possa chegar uma resposta e uma proposta a essa completa decadência e desestruturação da política.