POEMA
Há gosto de sangue na garganta
Sinto uma dor imensa.
Meus olhos derramam
Incontroláveis lágrimas
Um golpe
Outro golpe
Já não sei de onde vêm
Sei que dói
Dói por esse Brasil de quase 140 mil mortos
Dói por essa falta de perspectiva
Pessoal e coletiva
Dói ver o poder corrosivo se espalhar
Dói ver a fome voltar a matar
Dói ver o racismo avançar
Lá em 2018 tanta gente digitou 17 naquela urna
Acionaram o botão da destruição
que agora parece incontrolável
Dói e essa dor é física
Aperta o peito
Corrói
Todo dia várias perdas
E há perdas tão profundas…
Nossos peitos estão abertos
Repleto de chagas
Ardem
Só não chora quem está do outro lado
Desses quero distância
Do lado de cá meus olhos seguem inchados
Meus parceiros estão distantes
Sinto falta dos abraços
Todos amargam essa dor corrosiva
Mas quando essa escuridão passar
Vamos andar por aí de novo
corações machucados,
mas cabeças erguidas
Honrando os que partiram
Nos ajudando, reconstruindo
Destroçados estamos, mas com a certeza
de que não desistimos do mais importante
da luta por igualdade,
por Democracia
E de ter esperança,
De resistir até o último suspiro,
mesmo que agora sangre tanto.
Vai passar.