ARTES VISUAIS
Estudantes criam perfil no Instagram para divulgar produções artísticas na quarentena
“Sou filho da diarista Maria, do José porteiro, do Lucas médico, da Cida cozinheira, do João faxineiro… sou resistência, sobrevivência, luto com Arte”.
Para estimular a produção e a divulgação artística durante o período de isolamento social, estudantes da rede pública de Brasília criaram o perfil “Arte Isolada 2020” no Instagram. Os alunos foram desafiados a produzir releituras de obras de artistas como Candido Portinari, Tarsila do Amaral e Gustav Klimt. Os estudantes também recriaram obras famosas com objetos de casa e produziram vídeos que mostram a sua visão sobre a pandemia.
O perfil foi idealizado pela professora de Artes Giselle Ziviani, e é voltado para os alunos (e ex-alunos) do Centro de Ensino Fundamental 104 Norte, no centro da capital federal. “A ideia é compartilhar a produção que é feita isoladamente, dentro de casa, com os outros alunos da escola, com os seus familiares e com o máximo de pessoas que conseguirmos atingir. O Instagram traz essa possibilidade de divulgação dos trabalhos, feitos com muito amor, dedicação e sinceridade, que é muito importante na arte”, avalia.
De acordo com Giselle, a intenção do projeto é “ instigar os alunos a pensar positivamente e perceber que a arte salva, preenche, cria, recria, é o que está ajudando as pessoas a manterem sua sanidade mental nesse momento”.
Quem são os participantes?
A iniciativa é feita por alunos do 8º e 9º ano do ensino fundamental, de 12 à 16 anos de idade, de diferentes classes sociais. A maioria é residente das periferias de Brasília, as chamadas “cidades satélites”. “São meninos que, todos os dias, enfrentam horas dentro de um ônibus apertado, filhos de pais semi-analfabetos, muitas vezes ausentes que, por conta do trabalho, tem pouco tempo para estar com os filhos e acompanhar sua educação”.
“O acesso destes estudantes a um computador, ao celular, e à internet de boa qualidade é muito restrito. Por esse motivo, a edição dos trabalhos é livre para facilitar o acesso. Até porque a arte não tem que ter classe social, nem raça, nem credo, tem que ser livre e acessível a todos. Acredito que a quarentena está aproximando, permitindo um convívio maior dos meninos com seus familiares, pois muitas das atividades podem ser realizadas com o auxílio de um tio, um primo, uma mãe, uma avó”, avalia a professora.
A arte sobrevive
Para Phelipe Bernardo de Almeida, 15 anos, ex-aluno de Giselle, que tem poemas autorais publicados no perfil, “a arte é mais uma forma de nos conectarmos. Seja com as pessoas, com nossa espiritualidade, ou até mesmo conosco. Quando estudamos a arte, nós mudamos também nossa concepção sobre alguns movimentos, descobrimos mais do que as obras ou até mesmo artistas, movimentos, revoltas, protestos ou choques. A arte (posso dizer que aprendi isso com a professora Giselle) é importante pois ela nos mostra a humanidade que existe em nós”.
A estudante Karina Ribeiro, 14 anos, do 8º ano, tem produzido vídeos e desenhos sobre diversos temas. Para Karina, a página tem sido “uma oportunidade para conhecer a nossa cultura e outras também, novas formas de aprender. Acho que arte é capaz de abrir os olhos das pessoas para o mundo, porque é uma forma mais diversificada, mais lúdica de transmitir notícias e, dessa forma, chama mais a atenção das pessoas”.
“A arte sobrevive a tudo, ela é uma arma de transformação, e está sempre nos ajudando a reconectar desde que o homem se entende enquanto tal, lá na pré-história, dentro das cavernas. E a pandemia veio reforçar a sua importância. Estou muito feliz com os vídeos produzidos por eles, é muito bom ver esse resultado, e como a arte toca esses meninos e leva para eles um pouco do belo, da esperança, da certeza de dias melhores”, conclui Gisele.
Instagram: @arteisolada2020