Por Carlos Contente e Guido Mendes
Chica Xavier, atriz com mais de 60 anos de carreira e conhecida por papéis em novelas da Globo como Sinhá Moça e Renascer, morreu na madrugada deste sábado, 8, aos 88 anos. A atriz enfrentava um câncer de pulmão. Ícone do teatro, da TV e do cinema, ela foi símbolo da representatividade negra na arte brasileira.
Calou-se mais uma voz. Uma voz doce de guerreira negra. Uma voz humana e espiritual. Aquela negra da novela, que estava sempre ali, emprestando o seu talento para dezenas de outras personagens. Às vezes, nem precisava de falas, apenas aquele olhar soberano de quem carregava toda a ancestralidade em si.
Sim, o Brasil perdeu Chica Xavier, nesse sábado, 8 de agosto. A baiana Francisca Xavier Queiroz de Jesus decidiu deixar o palco da terra e seguir as estrelas do firmamento, um mundo que para ela nunca foi desconhecido. Pioneira nos palcos, Chica Xavier deu vida a inúmeras personagens no teatro, na tv e no cinema. Sua relevância para a arte brasileira, em tempos de racismos e intolerâncias, é um legado para a profissão dos atores, mas também para a vida dos homens e mulheres negras que lutam dia a dia para conquistar seu espaço com a dignidade de quem sabe e pode fazer. Com mais de seis décadas de profissão, Chica estreou em 1956, já no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, na montagem de Orfeu da Conceição e depois disso nunca mais tirou o pé dos palcos. No cinema, participou de produções icônicas, como “Assalto ao Trem Pagador”, de Roberto Farias, em 1962, e na televisão a atriz emplacou papéis em produções históricas como “A Cabana do Pai Tomás” (1969), “Os Ossos do Barão” (1973) e “Dancin’Days” (1978). Nos anos 80 e 90, era vista com constância em produções como “Sinhá Moça” (1986), “Renascer” (1993) e “Força de um Desejo” (1999). Seu último papel nos folhetins foi em “Cheias de Charme”, em 2012.
Com o ator Clementino Kelé, Chica viveu um grande amor. Ele foi seu primeiro e único namorado. Amigos desde a adolescência só começaram a namorar em 1953, quando Kelé declarou-se para ela, e decidiu deixar Salvador e vir juntos para o Rio de Janeiro realizar o sonho de trabalhar com teatro. O casal teve três filhos: Clementino Filho, Izabela e Christina.
Seguidora do Candomblé, no final dos anos de 1980 fez sua iniciação como mãe desanto se mudou para o bairro de Sepetiba, na zona oeste da cidade, onde fundou seu próprio terreiro, a Irmandade do Cercado do Boiadeiro.
Nós da Pressenza nos solidarizamos com o luto dos amigos e parentes, em especial seus filhos Izabela, Christina e nosso amigo e colaborador Clementino Júnior, cineasta, cineclubista, educador audiovisual, pesquisador, doutorando em Educação do GEASur/Unirio, e fundador do CAN, Cineclube Atlântico Negro. A contribuição para a cultura do nosso povo, o legado de Chica é imenso e seguirá vivo por muito tempo em nossa memória.
A Deusa Negra todos os nossos aplausos e saravás!!!! Chica Xavier – 1932/2020
Segue a lista de trabalhos em televisão e cinema nos quais a atriz participou:
Televisão
1968, Legião dos Esquecidos. 1969, A Cabana do Pai Tomás. 1973, Os Ossos do Barão. 1975, Cuca Legal. Senhora. O Grito. 1976, Saramandaia. 1977, Nina. 1978, Dancin’ Days. 1979, Marron Glacê. 1980, Coração Alado. Jogo da Vida. 1981, Os Imigrantes. 1983, Louco Amor. 1984, Amor com Amor Se Paga. 1985, Tenda dos Milagres. O Tempo e o Vento. 1986, Sinhá Moça. 1987, Carmem. 1988, Chapadão do Bugre. Fera Radical. 1990, Fronteiras do Desconhecido. Lua Cheia de Amor. 1992, As Noivas de Copacabana. 1993, Renascer. 1994, Memorial de Maria Moura. Pátria Minha. 1995, Cara & Coroa. 1996, O Rei do Gado. 1997, Por Amor. 1998, Dona Flor e Seus Dois Maridos. 1999, Chiquinha Gonzaga. Força de um Desejo. Sandy & Júnior. 2000, Aquarela do Brasil. 2001, A Padroeira. 2002, O Quinto dos Infernos. Esperança. 2004, Um Só Coração. 2005, Carandiru, Outras Histórias. A Lua me Disse. 2007, Amazônia, de Galvez a Chico Mendes. Duas Caras. 2010, A Vida Alheia. 2012, Acampamento de Férias. Cheias de Charme.
Cinema
1962, O Assalto ao Trem Pagador. 1973, Um Virgem na Praça. 1975, Uma Mulata Para Todos. 1978, A Deusa Negra. 1979, Lefar-Mu. 1983, Inocência. 2001, A Partilha. 2006, Só Deus Sabe. 2010, Nosso Lar.