Em comunicado, Organização Meteorológica Mundial diz que partes do Ártico estão mais quentes que o estado americano da Flórida; estudo publicado na revista Nature Climate Change adverte sobre perigo de desaparecimento de ursos polares ainda neste século.
Temperaturas “excepcionais e prolongadas” na Sibéria estão causando incêndios florestais e levando à rápida redução do gelo no mar ao longo da costa polar da Rússia.
Em comunicado, a Organização Meteorológica Mundial, OMM, informou que “em algumas partes da Sibéria, nesta semana, a temperatura chegou a 30°C com dias mais quentes que no estado americano da Flórida. É a média mais alta dos últimos 20 anos.
Recorde de emissões de CO2
Em entrevista a jornalistas em Genebra, a porta-voz da OMM, Clare Nullis, contou que no último dia 20 de junho, os termômetros marcaram 38°C na cidade russa de Verkhoyansk, uma situação rara causada pelo “bloqueio” de uma vasta frente de temperatura sobre o Ártico, e acompanhada de uma mudança de correntes de jato ao norte, o que leva um ar mais quente à região.
Segundo ela, o total de emissões de dióxido de carbono, desde janeiro, é o mais alto dos últimos 18 anos, quando teve início o Serviço Copérnico de Monitoramento da Atmosfera de incêndios na mata.
De janeiro a junho, a temperatura da Sibéria ficou 5 graus acima da média para esta época do ano, mas em junho esta subida dobrou, chegando a 10 graus acima do normal para o mês.
A porta-voz afirma que nada disso seria possível sem a mudança climática causada por mãos humanas.
Dobro da velocidade
Nullis disse que o Ártico está aquecendo em média o dobro da velocidade do resto do mundo com impacto sobre as pessoas e os ecossistemas.
A porta-voz citou ainda uma pesquisa publicada pela revista Nature Climate Change mostrando que se nada acontecer para reverter este quadro, os ursos polares poderão desaparecer ainda neste século.
E tudo isso tem efeitos sobre todo o planeta não é um problema só do Ártico. Os polos influenciam as condições climáticas nas latitudes mais baixas, onde vivem centenas de milhões de pessoas, afirma Nullis. No mês passado, as temperaturas da Sibéria foram as mais quentes dos últimos 20 anos.
Satélite
As áreas atingidas pelos incêndios podem ser vistas em imagens de satélite que monitoram a região do Círculo Polar Ártico.
A porta-voz explicou que os incêndios florestais tiveram lugar a menos de 8 km do Oceano Ártico, e que isso jamais deveria estar ocorrendo. Para ela, as imagens são dramáticas e a situação clama por ação climática urgente no cumprimento do Acordo de Paris de combate à mudança climática.
Fumaça
No último dia 22, a Sibéria registrou 188 focos de incêndios prováveis. Como se sabe, a fumaça liberada pelos incêndios é tóxica e contém uma ampla gama de substâncias nocivas à atmosfera.
Um dos serviços de monitoramento alertou que a próxima semana pode ser marcada por vários incêndios.
Existem riscos de sinistros na região de Yugra, que fica ao oeste da Sibéria. A OMM também informou que a onda de calor na Sibéria, vista no ano passado, acelerou a retirada do gelo ao largo da costa russa. A redução do gelo marinho desde o fim do mês passado causou uma redução na quantidade de gelo nos mares Laptev e Barents.
Geralmente, a maior parte do degelo ocorre entre julho e setembro, quando se produz a extensão mínima anual do gelo marinho. Até agora, o menor registro aconteceu em setembro de 2012.