ARTES VISUAIS
Quem visita a Lapa, no Rio de Janeiro, sempre faz uma parada na famosa Escadaria Selarón para tirar fotos e guardar uma lembrança de que esteve no bairro mais boêmio da cidade.
E desde 2019, quem sobe essa escada encontra um espaço único cheio de arte, café e afetos, esse lugar é a Casa da Escada Colorida, que herdou esse nome do próprio artista Selarón que em sua proposta de uma arte viva e em constante mutação, criou pessoalmente a fachada da casa, batizando o espaço muito antes dele se tornar o que é hoje. Um espaço de arte e acolhimento criativo, no epicentro de um entorno pulsante que não para de crescer e se modificar.
A Casa da Escada Colorida é um projeto sonhado e desenvolvido ao longo de vinte anos pelo economista e empreendedor carioca Bruno Girardi que desde que abriu a casa, tem mostrado que pequenas iniciativas privadas podem render grandes projetos, focados na região e que abasteçam cariocas e turistas de arte e café de qualidade durante a sua visita. Em 2019 Girardi se uniu a Rachel Balassiano, produtora cultural e curadora e Camila Pinho, museóloga e curadora e juntos montaram um “Conselho Criativo”, composto também por amigos e parceiros curadores, artistas, produtores, museólogos e educadores, para que juntos pudessem pensar a Casa e desenvolver suas propostas.
O Café Colorido, que entra em soft opening e faz parte da casa, tem tornado o local em um ponto de referência para se tomar um bom café, e por isso, além de promover degustações de grãos selecionados por baristas, oferece cafés de grãos especiais brasileiros e o visitante pode, além de provar os cafés, levar pacotes do blend da casa vendido em embalagens de 250g.
Desde sua abertura, a casa tem fomentado a arte através de seu programa de residência artística, promovendo encontros, diálogos e reflexões acerca da arte contemporânea, além de realizar acompanhamentos de produção, leitura de portfólios, workshops e exposições coletivas para fechamento de cada ciclo.
A Primeira Ocupação iniciou em junho de 2019 e foi até janeiro de 2020: uma residência com dez jovens artistas, entre 18 e 28 anos em início de carreira, que durante 6 meses conviveram e montaram seus ateliês nas salas e espaços do segundo andar da casa. Em paralelo a residência que se tornou a alma da casa, aconteceu a exposição “Quem sobe essa escada?”, com curadoria de Rachel Balassiano e Camila Pinho, e a mostra de trabalhos dos artistas Carlos Contente, Rafael Adorján e Ana Klaus. Seguida da exposição “Pro Tempo Levar”, com curadoria da Carla Oliveira, com obras dos residentes dessa primeira ocupação.
O ciclo de troca de experiências desse novo espaço de arte contemporânea, assim como todos os espaços de cultura e arte no país e no mundo, foi interrompido por tempo indeterminado. A emergência do impacto da covid no setor tem sido sentida a cada dia de confinamento e tem gerado, além de preocupação de como pagar as contas, reflexões, debates e algumas novas propostas de comercialização e sobrevivência dos lugares, já que tantos os artistas, quanto os espaços independentes de arte precisam resistir e se manterem vivos até a pandemia terminar ou ser controlada.
Palavras como “reinvenção, adaptação e resistência” tem se tornado mantras para os profissionais da cultura e uma série de iniciativas estão sendo pensadas e executadas para esses tempos de quarentena e fica evidente que o estarmos juntos é muito melhor do que remotamente, mas os 6 residentes da segunda ocupação da casa: Gabriela Noujaim, Raphael Couto, Clara Machado, Cibele Nogueira, Ines Nim e Pedro Carneiro, compraram o desafio de realizar conversas com convidados online em bate papos semanais. O grupo se uniu, mesmo alguns membros não se conhecendo pessoalmente, e vários trabalhos derivados desses encontros online estão surgindo, como por exemplo, a vernissage virtual de Pedro Carneiro, que tive o prazer de participar junto com mais de quarenta pessoas, e foi uma grata surpresa poder ver os trabalhos e conversar com o artista sobre sua produção durante a quarentena.
É tempo de se conectar com o outro e firmar parcerias para a produção de um conteúdo potente que toque os corações, acalenta a alma e dê gosto de vê. Em tempos escassos de recursos, editais e vendas de obras de arte, não é escasso de criatividade. É preciso se manter firme e pensar conjuntamente, é tempo de partilha, de complementação e reflexão. Quais negócios são desejáveis ou essenciais para o “novo normal” e qual papel dos empreendimentos culturais tem nessa nova realidade.
Pensando nessas formação de rede, novas formas de se relacionar, de se conectar e se manter, a Casa da Escada Colorida recebe a sua primeira artista (de fora do Rio) que participará da residência estando 100% online, visando experimentar junto com os demais participantes de momentos de reflexão e de produção de obras que visem além de um processo de imersão temporária, uma dinamização que marque também a condição atual de transitoriedade limitada a qual vivenciamos. A casa está aberta à artistas de diferentes nacionalidades, idades e disciplinas criativas, desde que tenham compreensão do português, que é a língua oficial.
Para além da residência artística, a Casa da Escada Colorida, contribuirá com a redação de cultura e mídia da Pressenza, produzindo conteúdos que conectam artistas e pesquisadores a uma rede de diálogos e trocas com outras residências artísticas, com o objetivo de promover um canal diversificado com diferentes pontos de vista crítico, democrático e participativo na área cultural.
Entre que a casa é sua!