O que podemos fazer…concretamente
Há alguns meses atrás, escrevemos um artigo com o mesmo título. Isso foi antes do Covid-19. Naquele então, parecia irreal que este sistema, que naquele momento parecia tão forte, estivesse onde está hoje.
As engrenagens do sistema pararam. O que antes era impensável agora é uma realidade gritante. Aviões pararam, cidades movimentadas se tornaram cidades fantasmas.
Quando a crise do vírus terminar, não será o mesmo mundo. É isso que as pessoas dizem e é isso que será.
Aparentemente, este sistema está mais forte agora do que há alguns meses atrás, como pode ser visto pela popularidade de alguns governos, sendo maior agora do que era antes. Além
disso, as pessoas estão a obedecer sem discussão tudo o que os governantes lhes dizem para fazer. Mas talvez elas não obedeçam porque respeitam os governantes ou porque os temem.
Pelo contrário, é o próprio medo de desaparecer que os mantém confinados.
Sabemos mais ou menos o que acontecerá quando o vírus Covid-19 estiver sob “controle” e depois conquistado com uma vacina. Para começar, muitos querem voltar à sua existência acelerada e sem sentido, onde sentem que não têm tempo para nada. Mas, simultaneamente, todos sabem que já estamos numa profunda crise económica que durará alguns anos. Governos e instituições financeiras internacionais distribuíram fundos para empresas e trabalhadores, mas será o povo que mais tarde terá que pagar por isso, enquanto os governos
esperam poder cortar mais serviços e colocá-los em mãos privadas. Mas não será fácil fazerem isso, porque agora muitas pessoas refletem sobre as suas vidas e tomaram certa distância do sistema que as explora. Agora, elas estão um pouco mais conscientes disso. Alguns pensam: por que não temos um sistema de saúde melhor em vez deusar os fundos coletivos para produzir armas, subsidiar bancos e empresas privadas? Como é que toda essa corrupção foi capaz de continuar?
As crises e o número chocante de mortes podem levar as pessoas a pensar em quantas crianças morrem a cada dia de fome e nada de sério é feito sobre isso. Alguns podem até pensar por que realmente não fizemos um esforço para desenvolver os países pobres do terceiro mundo? Por que realmente não fizemos um esforço como o do Plano Marshall para restaurar a Europa após a Segunda Guerra Mundial?
Alguns vão querer ajudar o mundo em desenvolvimento porque percebemos que, se houver um surto grave do vírus, ele nos atingirá mais tarde. Talvez possamos até começar a exigir que as guerras sejam interrompidas não apenas por causa das mortes e destruição que elas trazem, mas porque produzem refugiados que podem levar esse vírus para nós.
A profunda crise económica que será evidente na maioria dos países nos próximos anos estimulará a agitação social, porque aqueles que eram ricos antes da crise querem ter certeza
de que lucram com a crise, como fizeram durante outras crises anteriores.
Desta vez, será mais difícil enganar as pessoas, porque elas tiveram tempo para refletir sobre as suas próprias vidas e sobre o sistema injusto em que vivem.
Aqueles que governam, e especialmente aqueles que têm tendências ditatoriais, estão extremamente felizes agora, porque as pessoas obedecem. Eles vão querer continuar o controle, banindo todos os protestos e tudo o que contrarie os seus interesses.
Isso também será mais difícil, porque as pessoas agora estão mais acordadas do que estavam antes. Assim como o Chile disse no ano passado que acordou, o mesmo acontecerá com o resto do mundo. Haverá mais consciência de nós como seres humanos e não apenas pertencendo a uma localidade ou nação.
Tudo isso deve ser suficiente para fazer o sistema desmoronar. Ou seja, a fé das pessoas no sistema, que não era tão grande antes da crise, será ainda menor. Elas também verão como o
sistema é ineficiente para lidar com coisas importantes como saúde e meio ambiente. As pessoas e, especialmente os jovens, querem algo mais que coloque o bem-estar do ser humano
e da natureza acima do dinheiro e do consumo.
Há outra razão e isso é simplesmente porque é hora da nossa espécie dar um salto importante em direção à inteligência, em direção ao ser humano.
Essa mudança drástica acontecerá quando os jovens se unirem e protestarem de maneira semelhante à do Chile.
O que caracterizou esse protesto foi o fato de ser espontâneo, sem controles centrais, e de um clima emocional muito cálido, gentil e alegre, que unia as pessoas. Esse bom clima durou
muitos meses, enquanto o processo não violento se tornava cada vez mais forte. Apesar da repressão governamental, da matança e da mutilação de pessoas.Dissemos que o que estava por trás desse processo único no Chile era outra dimensão, alguma força que estava lá por alguma razão. Essa dimensão está ligada ao desenvolvimento da espécie humana e não necessariamente a queixas sociais específicas dum lugar ou doutro.
Veremos esse mesmo fenómeno acontecer em todo o mundo.
Dissemos no artigo anterior que seria imperativo que as pessoas estivessem cientes dessa dimensão se desejassem que a mudança tivesse um fim frutífero.
Nessas circunstâncias, quando a mudança está em processo, quando os jovens protestam massivamente com as outras gerações que se juntam a eles, o que podemos fazer como
indivíduos e como uma força coletiva para ajudar a dar a esse protesto um efeito positivo duradouro que siga uma direção evolutiva e não violenta? Primeiro, ajudar as pessoas a perceberem a ação da outra dimensão. Que essas mudanças que estão por vir realmente não têm nada a ver com injustiça social e económica específica, mas estão relacionadas a algo muito maior.
Segundo, liberar-se do medo, a raiz da violência. É esse medo que nos deixa presos hoje e o que facilita que nos manipulem
Como nos liberamos desse medo? A única maneira de fazer isso é ter um futuro completamente aberto, porque esse medo não é nada, excepto um indicador de que sentimos que o futuro está fechado, sentimos que podemos desaparecer ou, dito de maneira mais simples, de que podemos morrer.
Podemos realmente nos liberar deste medo que acompanha a humanidade desde o começo?
Sim, porque fomos “feitos” para funcionar bem tanto física como mentalmente. Para poder funcionar bem mentalmente precisamos ter o futuro aberto. Quando isto não acontece, a
nossa consciência diz-nos para abrir o futuro. A consciência informa-nos isso com sinais que chamamos “sofrimento”, e que consideramos, erroneamente, fazer parte duma vida normal.
Não é mais normal sofrer do que sentir dores de estômago. Quando temos dores de estômago, fazemos algo a respeito, não o consideramos normal ou desejável. Mas, por alguma razão
inexplicável, aceitamos o sofrimento.
Podes dizer que sabes como te livrares duma dor de estômago, mas realmente não sabes como te liberas do medo dos medos, do medo de morrer. Se realmente queres te liberar disso,
provavelmente terás que ter a experiência da imortalidade, a experiência de certeza da tua continuidade. Isso parece quase ficção científica, mas muitas coisas que antes eram
consideradas impossíveis pela humanidade, como voar, tornaram-se mais tarde a coisa mais natural. O voo ocorreu quando as pessoas sabiam voar, tinham as ferramentas necessárias para construir os aviões e a profunda intenção de o fazer.
O mesmo é indubitavelmente verdadeiro sobre como se livrar do medo dos medos.Se estiveres interessad@, entra em contato com quem já está a trabalhar nisso com eficiência.
Há quem o faça usando alguns livros que escrevemos como diretrizes para superar esse medo.
Livros que fazem parte duma série chamada Futuro Aberto, cujo primeiro livro se chama “O que importa…realmente“.
Um conjunto de pessoas está a trabalhar com essas ideias e métodos em diferentes países. Se quiseres saber mais, aqui estão alguns contatos: Ivan Andrade o Samira Weng
Se estiveres interessad@, poderás participar com outras pessoas para superar esse medo, não importa onde moras, porque as distâncias físicas não importam no mundo virtual onde agora são realizadas reuniões, seminários e retiros. Este processo está inspirado entre as coisas por aquilo que disse o meu orientador espiritual, um amigo íntimo, e um ser humano maravilhoso chamado Silo (1938-2010).
Existe um ato público muito forte do qual ele participou em Madrid em 1981, onde ele diz que a única maneira de vencer esse medo é ter fé interna.
O que quer que faças, precisas encontrar pessoas que tenham absoluta certeza de que podemos ter essa experiência de imortalidade agora, não mais tarde, não depois que o corpo
deixe de existir. Pessoas que consideram o sofrimento mental uma ilusão e não algo “normal” e impossível de se livrar.
A outra dimensão é mais fácil de experimentar, porque todos tiveram algum contato com ela. A questão é como torná-lo mais permanente. Para isso, encontre pessoas que possam ajudar-te a estar mais em contato com essa outra dimensão que está por detrás de toda evolução.
Fazemos parte dessa dimensão, ou melhor, a melhor parte de nós já faz parte dela.
Essa mudança drástica vai acontecer em todo o mundo. Portanto, seria imperativo poder orientar essa mudança em todos os países, em todas as cidades… em todos os lugares. Fisicamente e / ou virtualmente. Mais além de tudo isto, o caminho a seguir é lindo.
Um pouco instável no começo, à medida que o sistema se dissolve, mas depois é absolutamente fora deste mundo, à medida em que mais e mais pessoas perdem o medo de desaparecer e se sentem fortes e permanentemente conectados ao que realmente somos: uma parte de algo chamado o corpo da humanidade.