TEATRO
Como uma tentativa de testemunhar e relatar o momento histórico único que estamos vivendo, a companhia Grupo Galpão, referência na cena teatral no país e exterior, lançou a ação “Histórias de Confinamento”. O coletivo convida o público a enviar relatos que podem ser reais ou não, cômicos, dramáticos, trágicos, absurdos, líricos, prosaicos, pessoais ou sob qualquer ponto de vista. Por meio do seu site, o grupo receberá histórias até o dia 5 de junho.
Em entrevista, o ator e fundador do Galpão Eduardo Moreira, disse que estamos vivendo um momento de absoluta perplexidade. “Estamos tentando criar atividades que mantenham nossa relação com o público e que mantenham viva a chama do teatro, com essa relação do artista com o espectador nesse espaço virtual, que é uma maneira de dizer para as pessoas que continuamos vivos e estamos aqui”.
A perspectiva do “Histórias de Confinamento” é “criar um painel o mais diversificado possível, vindo principalmente de pessoas comuns, nesse momento tão doloroso e ao mesmo tempo tão significativo. A princípio não sabemos exatamente o que fazer com esse material, mas provavelmente ele vai ser lido por nós atores nas redes, em nossos canais. Talvez essas histórias possam servir posteriormente, sem nenhuma expectativa ainda formada, como um material teatral para a construção de um novo espetáculo”, explicou.
Com origem no teatro popular e de rua, o Galpão tem 37 anos de história e mais de 24 espetáculos em seu currículo. Com sede em Belo Horizonte, a companhia já recebeu mais de 100 prêmios brasileiros e se apresentou em 18 países, além de 50 participações em festivais internacionais. Formado por 12 atores, o grupo tem seu trabalho como resultado da pesquisas de variados elementos cênicos e linguagens, como o circo e a música. O coletivo possui uma importante trajetória artística e política, que busca dialogar com o popular e o erudito, a tradição e a contemporaneidade, o teatro de rua e o de palco, o universal e o regional brasileiro.
Outras iniciativas durante a pandemia
Como uma forma de levar a arte e de se manter em contato com o público durante o isolamento social, o Galpão tem realizado ações como as “Leituras de Quarentena”, série de vídeos em que atores leem textos e poemas que fizeram parte da pesquisa ou que entraram em algum espetáculo. Uma outra iniciativa é o “Stories por um dia”, vídeos publicados aos domingos em que os atores mostram um pouco do seu dia a dia no confinamento. Foi realizado também o projeto “Pausa pro Café”, em que os atores contam casos peculiares sobre a história do grupo. Acompanhando essas ações, o coletivo tem feito lives falando sobre os espetáculos e seus processos de criação. Além disso, o coletivo disponibilizou integralmente no Youtube os espetáculos “Romeu e Julieta”, “De tempos Somos”, “Nós” e “Os gigantes da montanha”.
“Galpão sempre foi um grupo que ao longo dos seus 37 anos sempre manteve um vínculo muito forte com o público, isso é uma matéria muito cara para nós, e a gente não pode deixar que esse confinamento faça com que essa relação esmoreça, que a gente fique distante do público”, disse.
Segundo Moreira, “a arte tem uma função muito importante de reatar os laços entre as pessoas, reafirmar a solidariedade entre elas, e isso precisa aparecer nesses momentos de grande dificuldade, de muita tristeza, em que as pessoas estão muito abaladas, por tudo isso que está acontecendo, por esse perigo real de uma doença, das mortes, das pessoas que estão nos deixando de uma maneira muito triste, muito avassaladora”.
O grupo estava com uma estreia marcada para Abril, no festival de Curitiba, do espetáculo “Quer ver Escuta”, com direção de Marcelo Castro e Vinicius Souza. Com a suspensão das atividades de aglomeração, a temporada do espetáculo foi adiada e segue sem previsão de retomada.
Fazer Artístico é Essencial
Sobre o futuro da arte neste momento, Moreira acredita que estamos vivendo um “compasso de espera”. O ator acredita que o teatro provavelmente será uma das últimas atividades a serem retomadas. Para ele, além de toda situação que o país está vivendo com a pandemia, estamos em um momento em que os governos dão muita pouca atenção à arte e à cultura.
“Os artistas tem feito muitas ações, como encontros, discussões, debates, mostras de textos e poemas, teatros em casa, isso tudo acho que é extremamente louvável, mostra a força da arte como algo que pulsa, não só entre os artistas, mas entre nós seres humanos em geral. Eu não tenho dúvidas de que a arte é algo absolutamente essencial pro ser humano, pensar o ser humano sem o fazer artístico é algo realmente impossível, é absolutamente empobrecedora essa perspectiva. Portanto eu acho que novos caminhos, novas perspectivas vão ser encontradas”, conclui.