Por Rede Brasil Atual
A Nova Zelândia foi um dos países que conseguiu ser mais bem sucedido no enfrentamento ao coronavírus. Até sexta-feira (8), eram menos de 1.500 casos confirmados de covid-19, com 20 mortes.
Um artigo publicado na revista científica The Lancet desta semana detalha como foi desenvolvida a estratégia após o país ter registrado seu primeiro caso em 23 de março. Alguns dias depois, a primeira-ministra Jacinda Ardern anunciou um bloqueio nacional com medidas muito restritivas, a uma altura em que havia apenas 102 casos e nenhuma morte. A rápida tomada de decisão ganhou elogios internacionais, inclusive da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O artigo de Sophie Cousins destaca que a decisão da Nova Zelândia de adotar uma abordagem de eliminação foi muito diferente do planejamento pandêmico habitual, que historicamente se baseia em um modelo de mitigação e se concentra em atrasar a chegada do vírus, seguindo-se uma série de medidas para achatar a curva de casos e mortes.
O professor do departamento de Saúde Pública da Universidade de Otago, em Wellington, que assessora o governo da Nova Zelândia, afirmou que a implementação do bloqueio total, que envolveu o fechamento de escolas e locais de trabalho não essenciais, a proibição de reuniões sociais e severas restrições de viagem, permitiu ao país ter como objetivo a eliminação do coronavírus.
Baker disse ainda que o bloqueio total possibilitou ao país colocar em funcionamento os principais sistemas para gerenciar fronteiras de forma eficaz, além de rastrear contatos, realizar testes e estabelecer a vigilância. Desde 22 de janeiro, mais de 150 mil pessoas foram testadas, relata o artigo, com rastreamento de contatos próximos e contatos casuais.
Agora, o Ministério da Saúde neozelandês discute com os distritos para organizar testes de segmentos específicos que correm maior risco de adquirir o vírus, como idosos e profissionais de saúde. As amostras de testes da rede de esgoto também estão sendo consideradas para monitorar o controle da propagação do vírus.
O artigo de The Lancet menciona ainda o professor associado e chefe do Laboratório de Superbugs Bioluminescentes da Universidade de Auckland, Siouxsie Wiles. Segundo ele, um outro tipo de abordagem junto à população foi fundamental para o sucesso da estratégia.
“Não queremos que o público sinta que está sendo enganado”
“Em outros países, as pessoas têm falado sobre guerra e batalha, o que coloca as pessoas em um estado de espírito negativo e amedrontado”, disse Wiles. A primeira-ministra Ardern apareceu regularmente nas mídias sociais, sorrindo e compartilhando parte de sua vida pessoal sob confinamento, mas sem subestimar nunca a seriedade da situação, o que ajudou a construir a confiança do público nas autoridades.
“Não queremos que o público sinta que está sendo enganado. Eliminação para todos significa que ela (a covid-19) se foi. Mas, em termos epidemiológicos, significa reduzir os casos a zero ou quase zero em uma dada localização geográfica. Ainda veremos casos, mas apenas casos em pessoas que chegaram do exterior.” Os viajantes do exterior serão colocados em quarentena como parte dos esforços para impedir a transmissão na Nova Zelândia.
O país está diminuindo suas restrições e sua economia se reabre lentamente. A Austrália, que está tendo desempenho semelhante ao da Nova Zelândia no enfrentamento ao coronavírus, está discutindo com o país vizinho a reabertura de viagens entre os dois países. Baker prevê que, com o tempo, os países da região chegarão a um acordo para permitir viagens com medidas de controle específicas.