TEATRO

 

Desde o dia 13 de março, todas as salas de espetáculos da cidade do Rio de Janeiro estão com as portas cerradas. Por decreto governamental a cidade tenta se proteger na pandemia.

Eu havia estreado, na semana anterior, o monólogo Riobaldo. Uma adaptação do romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, sob a direção de Amir Haddad. Grande choque!

A partir de então, como eu, todo o pessoal do teatro vive em situação de angústia. Os espetáculos que estavam em cartaz, já experimentavam uma dura realidade, sem nenhum investimento por parte do governo.  Desde a última eleição, temos um governante que declarou guerra aos artistas e à arte em geral.  Extinguindo, inclusive, o Ministério da Cultura. Como a minha, a maioria das peças foram montadas na garra, com recursos próprios.

O que já não estava bem, piorou com o fechamento dos teatros. Todos tivemos prejuízos em nossos investimentos. Muitos profissionais entraram imediatamente em condição de extrema necessidade. Faltando, inclusive, o básico – alimentação. Passamos a viver em uma crise (a pandemia) sobre outra crise (a da eterna falta de recursos). Inevitavelmente, o desânimo tomou conta de nós, os trabalhadores da cena.

Mas, a gente precisa de olhares positivos para sobreviver. Esse é um componente essencial de nossa profissão!

Um alento veio da APTR – Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro, que deu início a uma linda campanha de apoio. Criaram uma conta bancária onde artistas e amantes do teatro que estão em situação mais equilibrada, depositam qualquer quantia (doam) e essa verba é revertida, em forma de VR – Vale refeição, para os profissionais que estão necessitando (recebem). Fiz um pequeno depósito para ajudar os amigos. Um ajudando o outro.

Essa situação de reclusão ainda pode durar algum tempo.  Não sabemos quando acabará. Ao final desse período, os teatros ainda devem demorar para sentir um reaquecimento.  Algumas perspectivas são de que só deixaremos de reverberar os impactos do Corona vírus, em 2021.

Me fez bem poder ajudar, mesmo sabendo que essa ação da APTR não resolve o problema. Mas, a angústia só cresce. A cabeça não para de pensar. O sono é difícil.

Passada a pandemia, não haverá uma situação confortável. Já não havia. Teremos um panorama onde as casas de espetáculos obedecerão rígidos protocolos. O público não se sentará em cadeiras coladas umas às outras. Haverá o medo natural. As receitas do teatro dito “profissional” nos moldes atuais.  Não haverá dinheiro. Meu Deus!

Na opinião do diretor do meu espetáculo – Amir Haddad, “depois desse momento, o teatro deve recorrer a sua própria história e retornar às ruas. Ir ao encontro do público. E o teatro estará mais forte e o público ávido pela humanidade da cena”.  Concordo.  A rua sempre foi um grande palco.  Mas também espero, e acredito, que passada a pandemia, os teatros possam reabrir e o público voltar. Talvez tímido, limitado.  Mas, voltará. Da mesma forma, “ávido pela humanidade da cena”. O teatro é inerente ao ser humano.

Por tanto, o momento pede que eu, todos nós, tenhamos calma, mesmo com tamanha insegurança, tamanha ansiedade. Ficar em casa. Tomar as medidas protetivas. Cuidar para não ficar deprimido. E tratar de estar forte para retomar a peça Riobaldo, quando e como puder. Pois, tudo passa. Tudo passará!

Ufa! Que Deus nos proteja.