Dois dos maiores ídolos do futebol africano, o camaronês Samuel Eto’o e o marfinense Didier Drogba, reagiram com revolta às declarações de dois médicos franceses que sugeriram o teste de vacinas contra o coronavírus na África.
Durante um programa de TV, o professor Jean-Paul Mira, do Cochin Hospital, em Paris, sugeriu que o continente fosse usado para os testes porque “não tem máscaras, nem tratamento” para a doença. Outra debatedora, Camille Locht, do Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica, concordou e disse que a ideia está sendo “seriamente considerada”.
Pouco depois das declarações, Eto’o usou uma rede social para compartilhar o vídeo do programa de TV e repudiar a atitude.”A África não é um lugar para vocês brincarem”.
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Drogba também se indignou com os comentários. Em uma rede social, ele disse que os médicos tratam os africanos como ratos de laboratório.
“É inadmissível que continuemos a aceitar isso. Eu denuncio essas declarações racistas. Nos ajudem a salvar vidas na África e a parar a disseminação do vírus em todo o o mundo, em vez de nos considerar ratos de laboratório. Isso é absurdo! Os líderes da África têm a responsabilidade de proteger as pessoas desse plano terrível.”
Em resposta, ativistas negros no Brasil vieram à público denunciar o racismo nas falas dos médicos.
Leia na íntegra a nota:
Vidas que valem
A Covid-19 é uma pandemia, atinge toda a humanidade. Na China e no continente europeu o número de vítimas diárias choca o noticiário mundial. Cientistas já pesquisam sobre uma vacina que não se sabe as contraindicações e reações que o medicamento terá no corpo humano.
Cientistas franceses sugerem que esta vacina seja testada primeiro na África, continente com o menor número de pessoas infectadas, até o momento. O levantamento mais recente aponta 23 mortes em todo o continente africano, enquanto Estados Unidos tem 2.988, China tem 3.314, Espanha tem 7.716 e Itália tem 11.591 mortes.
A África serve de laboratório para experimentos de europeus há séculos. Isso é mais um atestado de como ainda animalizam corpos pretos e africanos. É, na prática, o que Achille Mbembe denuncia como “necropolítica”, quando o Estado decide quem deve morrer.
Se os testes precisam e devem acontecer, que sejam realizados nos países com maiores índices de infectados. O povo Africano não é cobaia!